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Quem é Boots Riley, o diretor do filme “Sorry to Bother You”

By 22 de julho de 2018 No Comments

Em 2017, o cinema norte-americano foi impactado com o filme Get Out, obra de Jordan Peele que aborda o racismo em um mix de gêneros cinematográficos, fazendo do projeto um híbrido de comédia, suspense e drama – o diretor inclusive, diz que o projeto é basicamente um documentário. O filme foi um fenômeno cultural, sendo indicado a várias estatuetas do Oscar, levando o de Melhor Roteiro Original.

Get Out contém uma participação curta mas extremamente satisfatória de Lakeith Stanfield em um dos momentos mais tensos e curiosos do filme. O mesmo ator é um dos grandes nomes da comédia Atlanta, produção de Childish Gambino, sobre a comunidade da cidade que faz parte do estado da Geórgia.

Lakeith Stanfield Encabeça algumas das obras com mais consciência social dos últimos anos, tanto Get Out quando Atlanta, tem estruturas parecidas e falam dos mesmos problemas. Dessa vez, Stanfield estreia o filme Sorry to Bother You, dirigido pelo membro fundador do grupo The Coup, Boots Riley.

Quem é Boots Riley?

Raymond Lawrence Riley, ou Boots Riley, é natural de Chicago mas cresceu em Oakland, na Bay Area. Interessado em política desde jovem, aos 14 ele havia ingressado no International Committee Against Racism (Comitê Internacional Contra o Racismo), uma organização do partido americano Progressive Labor Party, de ideologia marxismo-leninismo.

Em 1991, ele fundou o grupo The Coup, um coletivo de hip-hop político e consciente, que trouxe a participação de outros rappers da Bay Area. Boots tomava frente em todas as letras do grupo, batendo freneticamente em questões políticas e raciais. Poucos anos depois, em 1992, o grupo assinou com a Wild Pitch Records, que tinha distribuição da EMI.

O primeiro disco do grupo saiu em 1993 pela gravadora Wild Pitch. Kill My Landlord seguia o conteúdo político-social e teve singles lançados em âmbito nacional, como “Dig It” e “Not Yet Free“, cuja uma linha inspirou o sucesso “Practice Lookin’ Hard” de E-40 no mesmo ano, que trouxe o próprio Boots cantando o refrão sampleado de sua música e a participação de Tupac Shakur.

Genocide & Juice foi o segundo disco do grupo, que foi lançado em 1994. O projeto teve bastante divulgação nas rádios com a música “Fat Cats and Bigga Fish“, com o álbum chegando a entrar nos charts. Pouco tempo depois, a EMI fechou as portas da Wild Pitch Records.

Na mesma época, Boots decidiu largar a música. Ele fundou uma associação chamada The Young Comrads, com a participação de outros comunistas negros. Eles organizaram algumas campanhas em Oakland, e tiveram algumas vitórias para a comunidade da cidade. Na época, Boots chegou a trabalhar em telemarketing para arrecadar fundos para as campanhas da organização.

Em 1998, o The Coup voltou, com o trabalho Steal This Album sendo um dos mais importantes da carreira do grupo. Lançado pela gravadora independente Dogday Records, o projeto foi considerado uma obra-prima pela Rolling Stone. O grande som do disco foi “Me And Jesus The Pimp In a ‘79 Granada Last Night“, que conta a história do filho adulto de uma prostituta, que leva o assassino de sua mãe para um lugar isolado, e o mata.

Me And Jesus The Pimp In a ‘79 Granada Last Night” virou livro em 2000, escrito por Monique W. Morris. “Too Beautiful For Words” traz os personagens e a história central da música.

A polêmica de “Party Music”

2001 foi um ano extremamente caótico para os norte-americanos. Em Setembro de 2001, os ataques as Torres Gêmeas do World Trade Center deixaram todos em sinal de alerta contra o terrorismo. Mas onde isso se encaixa com Boots Riley ou o grupo The Coup? Eu explico!

Naquele ano, o grupo preparava o disco Party Music, que seria lançado pela 75 Ark Records. A capa do projeto, mostrava Boots e a DJ Pam the Funkstress na frente das torres enquanto elas explodiam. Na foto, a DJ segurava condutores de bonecos enquanto Boots apertava um botão vermelho de um afinador de baixo como se estivesse acionando uma bomba.

A foto polêmica causou o atraso do lançamento do disco, pois segundo The Coup, a foto havia sido feita em Maio daquele ano e o álbum sairia dias depois dos ataques.

Mesmo com as polêmicas, o disco foi extremamente bem recebido pelos críticos, e foi um dos melhores discos de Rap daquele ano segundo a Rolling Stone. As letras mantinham os aspectos anti-capitalistas e cada vez mais batiam em feridas da sociedade norte-americana.

Boots lançou um release uma semana após o 11 de Setembro, onde divulgou o livro Another World is Possible. No release, ele falava sobre como os ataques eram uma reação mais ampla contra o imperialismo corporativo dos EUA.

Boots Riley forma o Street Sweeper Social Club

Em 2006, o grupo trouxe mais um grande disco: Pick a Bigger Weapon. Eleito como melhor disco daquele ano pela Associated Press, o trabalho trouxe as participações de Black Thought e Talib Kweli.

Naquele mesmo ano, Tom Morello, guitarrista do Rage Against The Machine e Audioslave, convidou Botos para formar um grupo. Street Sweeper Social Club teve um disco lançado em 2009 e um EP em 2010, ambos mantendo a linha consciente de Boots no The Coup e de Tom Morello dentro do Rage Against the Machine.

O grupo entrou em hiatos em 2010, e Boots voltaria para o The Coup para mais um disco, Sorry to Bother You, lançado em 2012, enquanto ele já escrevia o roteiro para o filme lançado esse ano.

Na época, Boots não tinha como realizar o filme. Assim, ele e o grupo fizeram o álbum baseado no roteiro escrito. O projeto também recebeu críticas positivas e ajudou o rapper para procurar financiamento para a película.

Sorry To Bother You, o filme

Em uma versão atual alternativa de Oakland, o atendente de telemarketing Cassius Green (Lakeith Stanfield) descobre uma chave mágica para o sucesso profissional – o que o impulsiona a um universo macabro.
– Sinopse de Sorry to Bother You.

O roteiro de Boots Riley começou a ser escrito no começo dessa década. Como vocês viram acima, o projeto teve dificuldades de ser realizado, tanto que em 2012, o grupo de Riley gravou um disco com o conceito do roteiro.

A base para a ideia de tudo, foi o tempo que Boots trabalhou em telemarketing e tinha que trocar a sua voz para ter sucesso, o mesmo que Cash (Lakeith Stanfield) tem que fazer no filme.

Em diversas entrevistas sobre o filme, Boots vem ressaltando a proposta anticapitalista do filme, algo que sempre foi presente na carreira musical dele, que se identifica como um comunista e sempre participou de causas com essa ideologia.

Sorry To Bother You fala de obstáculos que trabalhadores negros tem que passar nos Estados Unidos para se tornar bem sucedido. O filme, segundo críticos, é extremamente inteligente e sua sátira combina perfeitamente com a situação atual do país. A trama se passa em Oakland, cidade que Boots cresceu.

Além de Lakeith Stanfield, o filme conta com a participação de Tessa Thompson, Danny Glover, Terry Crews, Forest Whitaker e Omari Hardwick no elenco. Lançado no começo do mês, o filme foi considerado um dos melhores filmes do Festival de Sundance e sua bilheteria arrecadou cerca de 10 milhões de dólares, ainda pouco, mas o potencial de arrecadar mais faz com que o filme seja considerado um dos hits de verão dos Estados Unidos. Sorry To Bother You ainda não tem data de estreia no país.

Assista o trailer abaixo:

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe