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Garimpando #6: Os Melhores Álbuns Solos Do Wu-Tang

By 21 de fevereiro de 2016 No Comments

Quando surgiu em 1992, o Wu-Tang Clan se destacava pela quantidade de membros que tinham potencial para fazer história dentro do hip hop. Após o lançamento do Enter the Wu-Tang (36 Chambers), o público teve de aguardar quatro anos para um novo projeto conjunto do grupo, mas nesse meio termo, se deu início aos trabalhos solos dos membros, e muitos deles marcaram época.

O Raplogia traz um post especial que visa mostrar os trabalhos solos mais fortes de todos os membros do grupo, traçando paralelos e destacando suas qualidades. Indo desde Tical, de 1994, até os recentes projetos de Ghostface Killah, Raekwon e Method Man.

Method Man – Tical [1994]

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De longe o artista mais sociável do grupo. RZA resolver fazer de Tical o primeiro disco solo do grupo do momento graças ao efeito que a faixa M.E.T.H.O.D. Man teve no disco de estreia do Wu.

Tical chegou repleto de problemas na produção, uma enchente chegou até os estúdios de RZA, acabando com todos os beats. Eles tiveram de ser refeitos, e a enchente também pegou instrumentais de outros rappers. Reza a lenda que cada MC do Wu-Tang perdeu cerca de dez beats cada, em uma época em que a tecnlogia para fazê-los estava engatinhando, isso era desanimador.

Tical é um forte disco no estilo mais hardcore possível. Method e RZA sempre trabalharam bem juntos, e esse projeto é um retrato disso. Bring the Pain, All I Need e Release Yourself abalaram as estruturas do hip-hop na época. All I Need por sinal, teve um remix feito por Diddy que levou um Grammy. Não era papo furado quando RZA resolveu dar o cartão de boas vindos do Wu-Tang com o disco de Method Man.

Ol’ Dirty Bastard – Return to the 36 Chambers [1995]

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Um dos destaques do primeiro disco do grupo, ODB destacava-se por sua irreverência e personalidade, nada parecida com a de outro artista do coletivo. Seu primeiro disco é um clássico desde a capa, mas não é tão consistente como o de seus colegas.

Faixas como Shimmy Shimmy Ya e Brooklyn Zoo marcaram época, fazendo do disco um clássico. Mas esse seria o único projeto coeso da carreira do rapper.

Raekwon – Only Built 4 Cuban Linx… [1995]

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Não só um dos melhores discos do Wu, como um dos melhores disco da história. Rimas cinematográficas integram o disco que é a definição perfeita do termo mafioso rap. O projeto inspirou rappers de grande porte como Nas, Biggie e Tupac Shakur. Todos eles adotaram alter-egos similares ao que Raekwon retrata no disco. Nas virou Nas Escobar, Biggie virou Frank White e Tupac virou Makaveli e toda a trupe dos Outlawz ganhou nova cara, com nomes de ditadores e roupagem militar.

Com quase vinte faixas, o disco é co-apresentado por Ghostface Killah, algo que ele e Raekwon gostavam de fazer. Ironman, disco de GFK, traria o Chef junto a Cappadonna como “co-hosts”. É um projeto de grande significado para o hip-hop, não é à toa que a crítica amou o disco.

GZA – Liquid Swords [1995]

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GZA é a definição de família dentro do grupo. Fundador e primo dos outros dois fundadores, RZA e Ol’ Dirty Bastard, o rapper é um dos que tinham disco já lançado antes do Wu-Tang ser apresentado. No início de carreira, GZA The Genius mostrava um trabalho semelhante ao de Big Daddy Kane, Kool Moe Dee e outros artistas do gênero. Após o Wu, o rapper se tornou cerebral e tem um dos melhores trabalhos da história do rap, o disco Liquid Swords.

Esse projeto é a essência do conceito dado por ele e seus primos ao grupo: kung-fu, referências de cultura pop e xadrez. Genius não tinha esse apelido à toa, mostrando-se sempre pé no chão nas rimas e em grande química com as batidas criadas por RZA. É um dos discos mais lendários do grupo, abrindo seus trabalhos com uma narração direta do clássico Shogun Assassin, definindo o que viria do grupo dali para frente.

Ghostface Killah – Ironman [1996]

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Ghost sempre foi um rapper diferente do resto do Wu-Tang, e isso é visto no primeiro projeto solo do rapper, marcando quase um ano sem discos do grupo. Ironman não é um disco mafioso por completo, traz mais complexidade a figura do rapper. Enquanto os outros membros do coletivo eram infalíveis e soavam sem emoções em suas faixas, o primeiro single do projeto de GFK, All That I Got Is You, é um tributo para a sua mãe, mostrando uma vulnerabilidade antes nunca vista por alguém do grupo.

Por felicidade, esse não é o melhor disco de Ghost. O rapper quebraria anos depois o paradigma de que todo segundo disco solo de artistas do grupo era fraco.

RZA – Bobby Digital in Stereo [1998]

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O disco de estreia solo de RZA foi recebido de maneira divida por público e crítica, mas não pode faltar na lista. O ditador do Wu-Tang criou um disco completamente diferente de qualquer outro disco do grupo, trazendo um personagem e rimando na sua perspectiva.

É inspirado diretamente em histórias em quadrinhos, algo que o Wu sempre foi influenciado. O projeto teve duas sequências, Digital Bullets e Digi Snacks. A inconsistência da carreira solo de RZA como rapper fez ele ser cada vez mais reconhecido pelo que faz por trás das faixas.

Method Man & Redman – Blackout! [1999]

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Esse não é um disco apenas de um artista do Wu-Tang, mas o grupo sempre reconheceu Redman como um afiliado, e afinal, tem Method Man. Lançado em 1999, o disco é sucesso em diversas partes e marca o nome de Meth junto ao seu parceiro de juventude, Reggie Noble.

O disco seria basicamente o único fruto de qualidade do coletivo naquele ano, alguns artistas lançariam seus segundos discos e não seriam tão bem recebidos (Raekwon com Immobilarity não conseguiu 20% do que trouxe no seu clássico antecessor; GZA e ODB lançariam projetos que caíram no gosto de quem acompanhava mais o cenário independente ou alternativo). O próprio Method Man vinha de uma leve frustração com Tical 2000, lançado um ano antes, e que não agradaria o público da forma do projeto de 1994.

Inspectah Deck – Uncontrolled Substance [1999]

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O disco de estreia de Inspectah Deck foi bem recebido pelos fãs que sempre pediram mais do rapper nos projetos do grupo. Uncontrolled Substance tem uma curiosa autonomia a mais do rapper, que cuida da maioria das produções. Curiosa pois na época, RZA fazia questão de lidar com os interesses do grupo, fossem musicais ou profissionais. É provável que a participação de RZA tenha sido menor graças ao seu trabalho na trilha sonora do filme Ghost Dog, de 1999.

Deck não decepciona e entrega o melhor projeto da sua carreira.

Ghostface Killah – Supreme Clientele [2000]

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Um revigorante suspiro na carreira de GFK e na discografia do Wu-Tang, Supreme Clientele foi um dos melhores discos da última década, sendo lançado dezesseis anos atrás. Os problemas do rapper com a lei atrapalharam e atrasaram a produção/lançamento do disco, mas a espera foi entendida após o primeiro play no álbum.

“Foda-se essa merda de Tommy Hilfiger, Polo, e paradas do tipo. Eles não dão a mínima pra isso na África. Tudo é igual, mas aqui, todo mundo quer ser melhor que o outro. Nah, nada é como lá. Eles podem ser pobres, mas os filhos da puta são felizes. Eles tem um ao outro” – Ghostface Killah após a viagem para África que influenciaria diretamente nas letras do disco.

A parceria entre GFK e RZA ainda era rentável para os dois lados. Os dois trabalharam juntos na construção do projeto para algo gigantesco. RZA nunca mais havia se envolvido tanto em um projeto de outro membro do grupo. O materialismo e letras falando sobre o crime raramente aparecem, resultado de uma viagem de Ghost para a África em 1997.

Aclamado criticamente, o disco foi tido como o salvador dos projetos solo do Wu-Tang pela sua grandiosidade.

GZA – Legend of the Liquid Sword [2002]

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Sequência do disco Beneath the Surface, de 1999, Legend of the Liquid Sword foi lançado em 2002, sendo o único projeto relacionado ao Wu-Tang naquele ano. O álbum nos serviu para relembrar a qualidade de GZA como letrista.

Com pouca participação de RZA, esse disco nos leva de volta para 1995 e se torna uma sequência direta do disco Liquid Swords, devido a sua qualidade lírica e maturidade do artista com o microfone. Aqui, GZA está mais treinado e aborda questões artísticas como ataca gravadoras. É o peso da indústria se transformando em arte nas palavras de um grande rapper.

Masta Killa – No Said Date [2004]

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Um dos membros menos conhecidos do clã lançaria o seu primeiro disco apenas treze anos após o debute do grupo. Masta Killa é conhecido como um dos membros do Wu-Tang, e ele ainda continua no mistério. Último a entrar no grupo e último a ter seu disco solo lançado. O projeto gravado entre 1997 e 2004 foi lançado pela lendária gravadora independente Nature Sounds.

O disco nos leva para a época em que RZA tinha grande autonomia nos projetos solos do clã. No Said Date foi uma surpresa para todos, e bem agradável.

GZA & DJ Muggs – Grandmasters [2005]

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A colaboração entre GZA e Muggs foi a primeira da série Muggs Vs., que teve seu último volume lançado em 2010 com Ill Bill. O disco que serve também como quinto disco de GZA traz o conceito de um jogo de xadrez para o hip-hop, algo que o rapper mostra desde o seu debute solo, só que dessa vez, muito mais intenso.

Grandmasters foi altamente bem recebido pela crítica, usando do talento de mestres em duas áreas diferentes do rap: a produção e as rimas.

Ghostface Killah – Fishscale [2006]

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2006 foi um grande ano para o clã, e um dos grandes responsáveis por isso novamente foi Ghostface Killah. Fishscale se tornaria um contender dentro da própria antologia do grupo, batendo de frente com qualquer outro lançamento solo durante os quinze anos de Wu-Tang.

Com histórias vívidas e categorizadas como noir, Ghost se reinventaria a partir desse disco, elevando seu storytelling e se tornando um ícone. Sem alguma produção de RZA, o disco tem outros nomes como MF DOOM, J Dilla, Pete Rock e Just Blaze nessa área, o que mantém o nível referente aos discos anteriores. Intenso do começo ao fim, Fishscale seria um dos dois álbuns lançados por GFK naquele ano, em Dezembro de 2006 ele lançaria More Fish, com materiais inéditos gravados já a algum tempo.

Inspectah Deck – The Resident Patient [2006]

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Lançado primeiramente como mixtape, o projeto The Resident Patient virou um álbum de estúdio após o seu lançamento. É um grande projeto vindo do rapper e produtor do Wu, que trouxe para ele poucos membros do grupo para colaboração e para produção.

O destaque na produção fica para Cilvaringz, estudante do trabalho de RZA que virou um importante afiliado do clã.

Masta Killa – Made in Brooklyn [2006]

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Como citado anteriormente, Masta Killa sempre foi o membro mais misterioso do grupo – e mais calado. Seus projetos sempre saem com poucos anúncios, sendo que ele dá poucas entrevistas.

Made in Brooklyn soa como um disco do Wu vindo dos anos noventa em pleno anos 2000. Não tem a participação de RZA na produção, mas tem uma grande quantidade de produtores afiliados ao clã. Masta quis representar o Brooklyn e o Wu-Tang e conseguiu.

Method Man – 4:21… The Day After [2006]

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Lançado pela Def Jam quando Jay Z estava na presidência do selo, o quarto disco solo de Method Man revigora a carreira do rapper que vinha de um péssimo disco dois anos antes (Tical 0: The Prequel).

Com singles fortes como Say, o projeto traz uma infinidade de artistas como colaboradores e produtores. É um disco que não marca época, mas é consistente o bastante para entrar na lista.

GZA – Pro Tools [2008]

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Em 2008 GZA provou, mais uma vez, que é um dos melhores letristas do jogo com Pro Tools, disco que até hoje não recebeu a devida atenção. Rimas abstratas e uma estrutura musical invejável, fazem do disco uma misturado hardcore, marca registrada do Wu-Tang, com um hip-hop mais consciente.

Pro Tools é lembrado dentro do mainstream por conter uma das melhores diss tracks dos últimos anos. Paper Plates é direcionada inteiramente à 50 Cent, que nunca respondeu, e ao ler a letra da música nós sabemos o porquê.

Raekwon – Only Built 4 Cuban Linx… Pt. II [2009]

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A sequência direta do primeiro disco de Raekwon elevou a carreira do rapper novamente. Seus dois discos anteriores Immobilarity e The Lex Diamond Story foram recebidos de maneira extremamente negativa pelos fãs e crítica, OB4CL2 é uma redenção de um rapper de enorme qualidade.

O disco traz o mesmo conceito do primeiro, muitas faixas, muitas colaborações de peso. A única coisa que muda nesse segundo volume, é a quantidade de produtores ligados ao projeto, algo que não ocorreu em 1995.

Method Man, Ghostface Killah, and Raekwon – Wu-Massacre [2010]

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Não é um disco solo, nem um disco do grupo. Wu Massacre veio da mente de três dos grandes rappers do grupo e foi um disco recebido de maneira divida pelos fãs e crítica, mas não deixa de ser um grande projeto.

É um disco repleto de samples, lembrando muito o início da carreira do grupo. Nenhum rapper se sobressai. O fato de haverem poucas colaborações é um ponto positivo no disco de doze faixas.

Ghostface Killah – Apollo Kids [2010]

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Trazendo um diferente GFK, o disco Apollo Kids apresentou o trabalho do rapper para uma nova geração. O disco traz o som característico do Wu-Tang para a carreira do artista, que um ano antes, havia lançado um disco orientado para o R&B.

Foi o último trabalho de Ghost pela Def Jam. O fim de uma era.

Raekwon – Shaolin vs. Wu-Tang [2011]

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Após a confusão envolvendo a direção criativa do disco do grupo 8 Diagrams, lançado em 2007, o projeto Shaolin vs. Wu-Tang seria organizado por Raekwon para ser um disco do Wu-Tang sem a presença de RZA, é por isso que esse projeto contém muito do som característico do grupo, algo que 8 Diagrams não teve – e o que causou as brigas.

O disco é bastante interessante e não contém a presença de RZA, o que não prejudica o disco. Segundo Chef, a opção de manter RZA longe do projeto foi para dar aos produtores do cenário uma chance, e não sobre a treta entre os dois.

CZARFACE (Inspectah Deck e 7L & Esoteric) – CZARFACE [2013]

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Inspectah Deck se uniu ao duo underground de Boston, 7L & Esoteric, para o disco intitulado CZARFACE – que serviu como nome do grupo também. A ideia era fazer do personagem título como o salvador do hip-hop, em um conceito que se baseia em história em quadrinhos.

O disco teve uma sequência em 2015.

Ghostface Killah – Twelve Reasons to Die [2013]

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Se reinventando nos últimos projetos, Twelve Reasons to Die é a razão de muitos fãs voltarem a se animar com projetos do grupo – principalmente de Ghost -, de revisitar as discografias e também de apresentar o som de GFK para uma nova geração, algo que ele faz desde Apollo Kids, com um som mais renovado.

Com um conceito cinematográfico e Adrian Younge nas produções inspirado nas trilhas de Ennio Morricone, o disco traz uma história que chegou a virar HQ. É novamente a qualidade de Ghost contar suas histórias fazendo sucesso.

Ghostface Killah – 36 Seasons [2014]

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GFK continua a saga sendo um dos membros do grupo que mais produz. Seu último disco solo, 36 Seasons, não tem nada de Wu-Tang nele. Não há produtores afiliados, nem sequer participações de membros. Há produções do grupo The Revelations, que dão uma cara setentista ao projeto, e muito Kool G Rap e AZ. Os dois artistas do Queens estão em inúmeras faixas do projeto.

Novamente, Ghost traz um disco de conceito com uma história por traz. Uma pena ele não receber a atenção que merece nos dias de hoje.

Ghostface Killah – Sour Soul & Twelve Reasons to Die II [2015]

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GFK não para e trouxe esses dois projetos que foram muito bem recebidos pelo público em 2016. Sour Soul, com o grupo BADBADNOTGOOD, traz um jazz rap infalível com as histórias de Ghostface por cima. O projeto entrou na lista de fim de ano do Raplogia.

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Twelve Reasons to Die II é o segundo volume do disco de 2013. Serve como continuação da história, o que faz de todo o conceito dos dois discos soar mais ainda como um filme. As aventuras de Ghost como Tony Starks lembram filmes de horror italianos dos anos setenta, isso muito graças a produção do disco também. Tem Raekwon, tem RZA, tem até Vince Staples. É uma ótima pedida.

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe