Killer Mike é um dos mais importantes no cenário musical do Rap atualmente. O rapper não tem apenas um significado na música, mas também na luta por direitos e é um, talvez o maior, representante da nossa cultura nas grandes mídias americanas. Não é raro ver o rapper defender seus ideais em programas de grandes canais americanos.

“Critics want to mention that they miss when hip hop was rappin’/Motherfucker, if you did, then Killer Mike’d be platinum” – Kendrick Lamar em Hood Politics

Afiliado do Outkast desde o disco Stankonia, Mike atingiu em cheio o cenário em 2013, quando se juntou com o produtor El-P, famoso pelo trabalho no Company Flow. Os dois criaram a dupla Run The Jewels, uma das mais importantes do recente cenário musical do Rap. Com uma musicalidade muito bem trabalhada, o grupo cutucou e muito os problemas sociais da sociedade, tendo Killer Mike como o seu principal porta voz. Mas se Mike já estava no cenário musical em 2000, por onde andou ele por todo esse tempo? O Raplogia vai tentar esclarecer essa dúvida, e apresentar o trabalho do rapper que atingiria platina se os críticos realmente sentissem falta do Rap rimado com conteúdo.

Killer Mike é natural de Atlanta, Georgia. Lar de grandes artistas como Goodie Mob, Outkast, Ludacris, T.I., Gucci Mane e por aí vai. Atlanta é o lar do trap no seu mais puro entendimento: cozinhas de droga, música sobre tráfico, crime organizado e nada parecido com a música de hoje. Ou seja, teoricamente Killer Mike nasceu no trap.

Mike sofreu com a Reaganomics, e todo mundo pode ver a influência disso em seus mais recentes trabalhos. No seu último projeto solo, o disco R.A.P. Music de 2012, o rapper deixou uma faixa específica para falar do assunto. Reagan bate mais uma vez em uma tecla já gasta na sociedade americana, mas que muitos parecem não dar a certa importância. Mas nem sempre foi assim, em 2003 Killer Mike chegou no cenário com o disco Monster, tendo como um dos principais singles a faixa A.D.I.D.A.S. que fala sobre sexo, seguindo o estilo de muitos rappers da região. Esse single é uma referência a faixa de mesmo nome do grupo Korn, mas ajudou o disco a alcançar boa posição nos charts graças ao seu apelo mais comercial. Mas o disco não é todo assim, que fique claro, é mais um retrato da vida em ATL do que um disco sem conteúdo. Mas peca em alguns momentos.

O lado mais consicente de Killer Mike já existia nesse disco, mas começou a se tornar mais notável na mixtape Home Alone Wit’ Dat Crack, e mais ainda nos discos I Pledge Allegiance to the Grind e I Pledge Allegiance to the Grind II. Juntos os discos lançados respectivamente em 2006 e 2008 trazem 39 faixas misturando elementos do dirty south com um estilo mais social. Se distanciando do Rap mais convencional para a época, Mike lançava seus projetos por gravadoras pequenas, mas com grandes nomes como Big Boi, Ice Cube, e Chamillionaire nos discos. O divisor de águas da carreira do rapper certamente é o disco PL3DGE, lançado em 2010. Um contrato com a Grand Hustle Records, gravadora de T.I., garantiu que Killer Mike teria um melhor orçamento para o disco e a atenção que precisava para marcar seu nome no cenário. PL3DGE é sim um disco político,  lançado em uma gravadora de maior nome, com colaborações mais famosas (T.I, Jeezy, Gucci Mane), e grande produtores como No ID e Flying Lotus. O efeito foi instantâneo, quem não prestava atenção em Killer Mike, começou a prestar. A visibilidade do disco PL3DGE foi o verdadeiro divisor de águas da carreira de Killer Mike.

To make it out the ice cold streets of the city
You better have a Christopher word game, witty
You better have a dance game similar to Diddy
Or play b-ball above the rim like Smitty
Josh, Chris Bosh, Pau Gasol
Or any other nigga that ball and tall – Ric Flair, Killer Mike

O último disco solo do rapper se chama R.A.P. Music, lançado pela alternativa Williams Street Records e todo produzido por Mike e o seu atual parceiro de música, El-P. O melhor disco de Killer Mike é marcado por poucas colaborações e pela consistência do trabalho do rapper, que viu em El-P o seu sidekick perfeito. Os dois se completaram, e o projeto traz faixas como Reagan, Big Beast, Ghetto Gospel, que certamente são algumas das melhores do projeto. O disco tem poucas vertentes do dirty south, local de onde veio o rapper. Nele Killer Mike mostra outro tipo de persona, assumindo o papel de porta voz da sociedade perante tantas desigualdades e brutalidade. O disco teve sua temática comparada a clássicos como Fear of a Black Planet do Public Enemy, Straight Outta Compton do N.W.A., e Death Certificate de Ice Cube.

R.A.P. Music foi lançado em conjunto com a evolução da internet, o que o ajudou muito no quesito divulgação, sendo recebido pelos críticos e público. O disco pré-Run The Jewels é um disco moderno, mostra que não é necessário grandes gravadoras e grandes nomes para se ter um grande disco. El-P por exemplo, era um nome conhecido no underground pelos trabalhos no grupo Company Flow, e seus créditos de produção em trabalhos de caras como Del tha Funkee Homosapien, Murs, Aesop Rock, Cannibal Ox, ou seja, trata-se de um artista do underground – uma lenda do underground. E foi El-P que trouxe o encaixe perfeito para o deslanche da carreira de Killer Mike, quando os dois formaram o duo Run The Jewels, que em 2013 lançou o homônimo disco pela Fool’s Gold de A-Trak. Um disco explosivo que fez muito sucesso na crítica. O sucesso do primeiro volume levou eles a soltarem uma sequência do projeto, isso logo após assinarem com Nas na Mass Appeal Records e com a Sony RED. Após o Run The Jewels 2 era oficial: El-P e Killer Mike, dois quarentões com quase vinte anos de carreira, são dois dos artistas mais quentes do hip-hop. E tudo isso com um Rap diferenciado, desde o quesito produção até o quesito letras.

Killer Mike poderia ser apena mais um rapper vindo de Atlanta, mas seu talento lírico e o seu desejo de mostrar a realidade o alavancaram para outro nível. Mike não é milionário, não tem o estilo de vida “gastador” dos rappers de hoje, não visa nada além de fazer boa música e lutar pelo seu povo. Killer Mike é um artista raro, e espero que um artista que permaneça um bom tempo no jogo, pois ele é exatamente o que o jogo precisa.

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe