E aí famíliaaaaa: beleza?! Nesse verão, eu resolvi fazer algo diferente… decidi ficar na minha casa, na minha piscina, tomando uns bons drink, curtindo esse verão maravilhoso da Europa (só que não, HAHA) e dividindo com vocês os meus livros favoritos sobre cultura Hip Hop! E teve boatos que eu ainda estava na pior… se isso é estar na pior, porrãn, o que quer dizer tá bem, né? O top 10 gostosinho que preparei pra vocês é praticamente um minicurso sobre cultura Hip Hop: a dica inicial é seguir a ordem da lista (mas ninguém é obrigadx, tá?). Vamo botar a mente pra funcionar?

hip-hop-genealogia-1

Hip Hop Genealogia

Esse livro é uma HQ que foi lançada ano passado no Brasil pela editora Veneta, e foi a última leitura que fiz. Serve perfeitamente como uma introdução aos estudos sobre cultura Hip Hop, super indicado para quem ainda não fez uma imersão profunda na história do movimento. O livro compreende um grande panorama interseccional das trajetórias dos DJ’s, rappers, grafiteiros e b-boys que contribuíram de maneira significativa para a emergência da cultura Hip Hop nos Estados Unidos, momento caracterizado como Golden Age. Esse livro me ensinou a quebrar o preconceito que eu tinha com quadrinhos: achava a linguagem das HQ’s muito superficial e acabei descobrindo um universo esteticamente incrível. Após a leitura, assista a primeira temporada da série The Get Down, da Netflix como um exercício de aprofundamento. O livro é do quadrinista Ed Piskor e o prefácio da edição brasileira é assinado pelo Emicida.

page_1

Acorda, Hip Hop! – Despertando um Movimento em Transformação

O livro é uma espécie de grande manual da cultura Hip Hop, composto por panoramas mais aprofundados dos elementos que a compõe construídos pelo DJ TR em quase 500 páginas de história, interconectando as cenas estadunidense e brasileira. É uma leitura obrigatória, simples, didática e concisa. É impressionante o trabalho de TR pela quantidade de informações sistematizadas no livro, fato que o torna um dos maiores pesquisadores da cultura Hip Hop no Brasil. A maior parte do conhecimento que eu tenho sobre Hip Hop construí com a leitura desse livro. A obra faz parte da coleção Tramas Urbanas da editora Aeroplano e possui prefácios assinados por Marcelo Yuka e Paulo Lins. Após a leitura, assista a série Hip-Hop Evolution, da Netflix. Faça o download do livro aqui

page_1-1

Hip-Hop: Dentro do Movimento

Obra do grande escritor paulistano Alessandro Buzo, também integra a coleção Tramas Urbanas da editora Aeroplano, indicado pelo Criolo em uma de suas entrevistas que eu não me lembro qual. O livro funciona como uma extensão do trabalho do DJ TR, aprofundando o panorama da cultura Hip Hop no Brasil, sendo também leitura obrigatória. O texto é estruturado por entrevistas densas com uma pá de artistas nacionais, tornando a experiência da leitura mais agradável: flui que é uma beleza. Após a leitura, assista à série Histórias do Rap Nacional de Ronald Rios. Faça o download do livro aqui

se-liga-no-som

Se Liga no Som: As Transformações do Rap no Brasil

Das últimas obras publicadas sobre cultura Hip Hop no Brasil, essa é uma das mais interessantes. Com uma linguagem mais acadêmica, porém acessível para o público leitor em geral, o livro é o resultado de pesquisas sobre Rap desenvolvidas pelo músico e antropólogo Ricardo Teperman, publicado pelo selo Claro Enigma na coleção Agenda Brasileira. A sessão “Rap é Música?” é a mais complexa, mas necessária para entender a partir das teorias da musicologia que Rap é música sim, desconstruindo esse mito que sempre nos aterroriza como um fantasma. Ressalto o diferencial da obra em atualizar as discussões sobre cultura Hip Hop no Brasil incluindo a cena do Novo Rap Nacional, servindo como um complemento das leituras anteriores. Antes de ler, faça o aquecimento vendo essa entrevista do autor para o programa Livros, da TV Cultura, e depois assista ao documentário Freestyle: Um Estilo de Vida, sobre as batalhas de rimas e a prática do freestyle no Brasil, pesquisadas por Taperman em seu mestrado.

capa-do-livro-bahia-com-h-de-hip-hiop

Bahia Com H de Hip-Hop

Minha Bahia véa de guerra também tem Hip Hop sim e a nossa cena é bem mais forte do que vocês imaginam. Antes de figuras como Baco Exu do Blues, uma pancada de artistas das antigas sempre fizeram a cultura Hip Hop acontecer no país do carnaval. Publicação independente do Prof. Ms. Jorge Hilton, frontman do coletivo de Rap Simples Rap’ortagem, o livro é ótimo para conhecer a cena Hip Hop baiana, rica e potente em todos seus elementos de manifestação. É muito interessante como as discussões desenvolvidas pelo autor não estão limitadas à metrópole Salvador, abrangendo territórios do interior da Bahia e integrando-os ao contexto global. Após a leitura, complemente com o belíssimo livro Graffiti Salvador, da Bárbara Falcón e Carol Garcia: ambas produziram uma rica etnografia do graffiti soteropolitano através das técnicas da fotografia e entrevistas com artistas mais atuantes da cena. Faça o download do livro aqui

1_sutil-diferenca-o-movimento-punk-e-o-movimento-hip-hop-em-fortaleza-grupos-mistos-no-universo-cit

Sutil Diferença: O Movimento Punk e o Movimento Hip Hop em Fortaleza – Grupos Mistos no Universo Citadino Contemporâneo

Meu irmão Alisson Caraíba, grande historiador e pesquisador da obra do Facção Central, que me presenteou com esse livro de peso do historiador Francisco José Gomes Damasceno. Obra de relevância indiscutível publicada pela editora UECE, é uma das poucas que compõe uma historiografia do Hip Hop no Nordeste, ainda em gradual processo de construção e maior visibilidade acadêmica. A maioria das pesquisas e estudos da cultura Hip Hop desenvolvidos nas universidades ainda estão muito limitados à cena do Sudeste: avisa ao Chinaski e ao Baco que o sulicídio também acontece nas áreas de atuação de nós pesquisadorxs. Resultado de um processo intenso de investigação de mais de 15 anos, Damasceno analisa em sua obra como os movimentos Punk e Hip Hop influenciaram de maneira decisiva na formação da juventude cearense a partir dos anos 1970, fazendo emergir o emblemático Movimento Hip Hop Organizado do Ceará (MH2O), na década de 1990. É uma publicação que compreende uma tese de doutorado, por isso a leitura é longa e densa, exigindo mais atenção e paciência. Aprofunde as leituras sobre a cultura Hip Hop nordestina assistindo ao documentário O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas (2000), que aborda a juventude periférica de Recife – Pernambuco.

foto-capa

Mulheres de Palavra: Um Retrato das Mulheres no Rap de São Paulo

Tive contato com o livro após assistir uma matéria do programa Manos e Minas da TV Cultura e fiquei muito feliz por as mulheres que integram o Novo Rap Nacional estarem organizadas e prontas para tomar a cena de assalto. Organizada por Fernanda Allucci, Ketty Valencio e Renata R. Allucci, a obra traça uma cartografia hiper necessária de mulheres MC’s e rappers da cidade de São Paulo. A leitura é uma oportunidade de acesso ao universo feminino da cultura Hip Hop brasileira, incitando desconstruções a partir das abordagens feministas de gênero interseccionadas com outros marcadores identitários, presentes nas incríveis narrativas de vida que compõem o livro. Publicada com financiamento público, a obra nos provoca a pensarmos em uma cultura Hip Hop plural e múltipla, e não em um antro de masculinidades nocivas e predatórias. Faça o download do livro aqui

Rap_capa.indd

Rap e Política: Percepções da Vida Social Brasileira

Uma das questões mais recorrentes quando se discute Rap no Brasil hoje são as divergências entre as vertentes do gênero e as gerações que as desenvolveram. O compromisso que a cultura Hip Hop possui no exercício do ativismo político, o qual Sabotage nos falava sempre, é uma conduta muito forte e presente na obra de vários artistas e coletivos relevantes da história do Rap brasileiro, como é o caso dos Racionais MC’s, Facção Central, MV Bill, GOG, Clã Nordestino, dentre inúmeros outros que fizeram do microfone sua espada na guerra contra os paradoxos e desigualdades sociais. A obra de estreia do historiador Roberto Camargos nos mostra como o Rap não só refletiu e registrou em suas rimas e batidas o contexto sócio-histórico brasileiro em seu processo de formação, como também incitou e protagonizou práticas políticas dos sujeitos subalternizados e marginalizados na música. Adaptação da dissertação de mestrado do Camargos pela Boitempo Editorial, o livro é repleto de análises de discurso de letras e pode ser bem interessante pra rapa que curte a old school do Rap brasileiro.

5972896gg

Hip Hop e a Filosofia

O nível de leitura se torna mais denso a partir dessa obra, publicada no Brasil pela editora Madras, que eu tive a alegria de encontrar. Organizado pelos filósofos Derrick Darby e Tommie Shelby, o livro é uma compilação de artigos interessantíssimos que aplicam conceitos e teorias da filosofia para compreender questões relacionadas à cultura Hip Hop nos Estados Unidos. A leitura pode ser complexa para quem não possui certos conhecimentos filosóficos, mas as abordagens e perspectivas presentes nos textos são muito fodas e valem a pena apertar um pouco a mente. Obras como essa é um dos inúmeros exemplos da produção acadêmica sobre a cultura Hip Hop nos Estados Unidos, encarada de maneira muito séria pelas universidades que constituíram um campo bastante definido para estudos e pesquisas, ao contrário das universidades brasileiras que, mesmo com uma rede significativa de pesquisadorxs na área, ainda continua hierarquizando as culturas e inferiorizando o Hip Hop enquanto uma cultura menor. Rappers como Kanye West e Puff Daddy se tornaram doutores honoris causa não é por acaso.

390793_655

Gangsta Rap

E pra não dizer que eu sou ruim, vou indicar um romance pra relaxar. Romance escrito pelo escritor, poeta e músico britânico Benjamin Zephaniah e publicado no Brasil pela Companhia das Letras, conta a história fictícia de Ray, um jovem que possui talento na arte da rima, porém é incompreendido pelas pessoas com quem convive. Ambientado nas ruas dos subúrbios de Londres, a trama constrói o processo meteórico de ascensão de Ray ao mainstream da indústria fonográfica, transformando-se em um rapper gangsta. Achei esse livro por acaso, amei a experiência de leitura e acredito que daria uma boa série. Indicado aos rappers iniciantes que gostam de sonhar alto.

É isso aí, família Raplogia. O hábito da leitura amplia as dimensões da mente e do espírito e faz da gente pessoas menos otárias e mais libertas. Um salve pro nosso parça MC Marechal e seu projeto #LIVRAR que faz o conhecimento, quinto elemento da cultura Hip Hop, uma urgência nesses tempos de ascensão fascista. Leiam sempre. Até a próxima!

 

Deixe seu comentário!
Share this...
Share on Facebook
Facebook
Tweet about this on Twitter
Twitter
Daniel Dos Santos

Daniel Dos Santos

Daniel Dos Santos (DanDan) é licenciado em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), mestrando em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), membro fundador e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Africanos e Afrobrasileiros (AfroUneb) e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade (CuS), nos quais desenvolve o #TheGangstaProject: Masculinidades Negras nos Videoclipes dos Rappers Jay Z e 50 Cent. É apaixonado pelo Drake e Kanye West. Os boxeadores negros são suas principais inspirações.