Protesto, desigualdade social, violência, drogas. O rap nacional sempre tocou em assuntos polêmicos que são maquiados pela sociedade. Tais músicas se transformaram hinos de ruas, temas de debates e reivindicações de direitos. Essa postura não mudou com o passar do tempo, o hip hop nacional sempre procurou colocar o dedo na ferida. Mas de fato, essas reclamações tem embasamento?
Um exemplo claro disso é o massacre de Pinheirinhos, que originou a faixa ‘Dedo Na Ferida’. Agora, de fato, essas reclamações condizem, pois atrocidades foram cometidas, pessoas mortas e retiradas de suas moradias. Habitantes de baixa renda, pobreza essa já experimentada por Evandro Roque, nome do MC, de infância difícil. Sabotage e tantos outros levantaram suas bandeiras contra causas parecidas. Uma pauta rotineira são os problemas que acercam a sua realidade. Usar seu espaço para se manifestar sobre algo maior do que os problemas cotidianos é uma causa nobre, mas é de entendimento comum. São pessoas que foram vizinhas, moravam no mesmo bairro, pertencem à mesma comunidade, é família, e isso está entre os sentimentos mais comuns entre nós humanos.
Porém, também não vemos protestos que tentam alcançar outros âmbitos. Porque nenhum rapper se voltou contra a inoperância da Comissão da Verdade, criada há um ano atrás, com o intuito de levar a público episódios escondidos durante o período da ditadura de nosso país? Não existem protestos sobre a inoperância em descobrir os assassinos de Vladimir Herzog, entretanto sobram críticas aos políticos na capital federal. É como atacar uma colmeia com uma vara e se afastar, não é de fato, por o dedo na ferida, embora qualquer tipo de reclamação seja louvável. Diante de uma força tão poderosa quanto a música, falta apenas direcionarmos essas críticas para de fato acertarmos a ferida em cheio.
