O trio composto por The Alchemist, Hit-Boy e Big Hit nos presenteou com um ótimo disco, Black & Whites, lançado no dia 30 de Maio de 2024. O projeto é cheio de história e para entendermos melhor, precisamos conhecer seus envolvidos.

The Alchemist e Hit-Boy dispensam apresentações. O primeiro tem mais de 30 anos de carreira e já trabalhou com os maiores rappers do cenário – fizemos um texto sobre sua carreira recentemente – e que hoje escolhe a dedo quem vai trabalhar. Hit-Boy é um dos grandes produtores dos últimos dez anos, e recentemente revitalizou a carreira de um dos maiores artistas do gênero, Nas, com nada mais do que seis discos em três anos.

Mas quem realmente precisamos conhecer é o rapper Big Hit (53). Antes de mais nada, precisamos revelar algo que talvez você não saiba: ele é o pai de Hit-Boy. O artista passou grande parte da sua vida adulta na cadeia e não pôde acompanhar de forma tão próxima o início do seu filho na carreira.

Big Hit é a alcunha de Chauncey Hollis Sr., natural de Pasadena na California. Aos dezesseis anos, ele virou pai, e seu filho, Hit-Boy estava destinado à grandes coisas. Quando o produtor tinha 4 anos, em 1991, Big Hit foi preso por porte de drogas, armas e grande quantidade de dinheiro em espécie. Sua sentença durou até 2004.

Nas letras de suas músicas do projeto The Truth Is In My Eyes (2023), lançado no ano passado após o rapper cumprir uma sentença de 12 anos iniciada em 2014 por um atropelamento e fugir sem prestar ajuda, ele mostra como sua vida passada nas ruas o causa arrependimento e que sua relação com Hit-Boy quase ficou estremecida devido sua ausência.

Big Hit sempre imaginava uma carreira no rap para chamar de sua, mas foi seu filho que por meio de produções grandiosas na última década acabou fazendo sucesso. Na década passada, eles rimaram juntos em “Grinding My Whole Life”, mas pouco fizeram devido sua nova sentença.

Mas desde que foi liberado da cadeia, Big Hit está focado em produzir músicas e ele não teria ninguém melhor para fazer isso com ele do que seu próprio filho. Além de trazer uma sensação de realização, isso o manteve fora de problemas, algo que Hit-Boy deixa bem claro que não quer que aconteça.

Black & Whites é o terceiro projeto que Big Hit se envolve desde que saiu da cadeia em 5 de Maio de 2023 – ou quarto, se você considerar sua enorme participação em nove das dez músicas do disco SURF OR DROWN, VOL.2 de Hit Boy. Além do já citado disco The Truth Is In My Eyes, que foi um sucesso independente, e ele também lançou Paisley Dreams, com The Game em Janeiro que obteve um moderado alcance.

Mostrando tremenda fome e vontade de mostrar serviço, aos 53 anos, Big Hit soa como um jovem que precisa mostrar serviço para se firmar no cenário. Misturando a maturidade da sua vivência com um flow visceral – que me lembra muito uma mistura de Jadakiss com Nipsey Hussle -, ele é o destaque de Black & Whites.

The Alchemist e Hit-Boy aparecem ocasionalmente com vocais no disco, mas é Big Hit quem brilha, é como se esse fosse um disco totalmente desenhado para ele. Nem a presença de Boldy James tira o destaque maior dele.

O projeto é bem robusto, os estilos de produção dos dois produtores se cruzam e tornam-se um só, com um sentimento de realismo forte por parte das letras e instrumentais. Ele remete muito mais aos trabalhos recentes de Alchemist do que aos de Hit-Boy.

Gostaria muito de ouvir mais músicas de Big Hit produzidas por Alchemist, levando em consideração como ele conseguiu elevar a carreira de vários artistas nos últimos anos com trabalhos colaborativos, isso poderia tornar o rapper um novo favorito do público como aconteceu com Boldy James, Roc Marciano ou a galera da Griselda. A única diferença é que o negócio agora é do outro lado dos Estados Unidos.

Black & Whites é para mim um dos destaques do ano. O disco não inventa nada de novo, mas é bem seguro e bem produzido por dois grandes nomes do cenário, porém, certamente se destaca pelas rimas. Big Hit tem extrema qualidade nas suas letras, que simplesmente falam das ruas e da sua vivência. Sua vida como um gangsta é incorporada e trabalhada de uma forma muito forte aqui, mas não soa repetitiva ou nada datada, o que, na minha opinião, se deve muito a personalidade e originalidade de cada um dos envolvidos no projeto, todos somam e contribuem com características únicas para o álbum.

 

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe