25 de Março de 1997.
O hip-hop ainda chorava a morte de um dos seus maiores filhos, dezesseis dias antes, morria o rapper Notorious B.I.G., um dos grandes expoentes do cenário na década de 1990. Em Los Angeles, promovendo o vídeo da faixa “Hypnotize“, Biggie foi alvejado quatro vezes dentro da sua Chevrolet Suburban em um crime ainda não resolvido pela polícia da cidade.
Foi a ironia do destino que o disco póstumo de Biggie se chamasse “Life After Death“, traduzido literalmente como “vida após a morte”. O rapper nos deixou um disco duplo repleto de faixas icônicas como forma de viver após a sua partida.
Desenvolvimento
Com sua produção iniciada em 1995, o disco se chamava “Life After Death… ‘Til Death Do Us Part“, um título que segue o conceito do seu antecessor – afinal, o personagem de Biggie morreu no final de “Ready To Die“. Desde aquele ano, a vida de Notorious virou de ponta cabeça, com casamento – e brigas – com Faith Evans, rivalidade entre Costa Leste e Oeste, e também o sucesso. Biggie era uma estrela, e o novo disco prometia alçá-lo a outro patamar.
O ano de 1996 se demonstrava tumultuado para o rapper, então a demora para finalização do disco foi entendida. Durante esse ano, Biggie sofreu um acidente de carro e teve lesões graves na perna que fizeram ele andar com uma bengala e gravar a maioria do disco sentado.
O disco
Life After Death é fantástico. Um disco duplo, ao todo são 24 músicas. Biggie está mais maduro e demonstra maior versatilidade nesse projeto – afinal, ele tem espaço para isso. “Hypnotize” foi um grande hit na época, com um vídeo cinematográfico gravado um mês antes da morte do rapper com a direção de Paul Hunter, o mesmo cara que fez o lendário comercial “Nike Freestyle”. Ela foi o último som que o Biggie lançou em vida.
Ele não pode ver o sucesso que o single teria. Duas semanas após o lançamento (e a morte do rapper), “Hypnotize” chegou ao topo dos charts da Billboard Hot 100. Com seu refrão se inspirando em “La Di Da Di” de Slick Rick, ela é considerada até hoje uma das melhores faixas da história do Rap e da carreira de Notorious B.I.G. E se analisarmos o esquema de rimas dela, definitivamente a colocaremos entre as mais técnicas de todas:
Meses após a morte de Tupac, o cenário estava intenso. A briga entre costa leste e oeste havia perdido um pouco da força, mas Biggie ainda tinha seus problemas com alguns rappers, e expõe eles em várias faixas do disco, como “Kick in the Door“, uma música repleta de indiretas para rappers como Nas, Jeru The Damaja, e Ghostface Killah.
“Your reign on the top was short like leprechauns
As I crush so-called willies, thugs, and rapper-dons.”
Outra faixa conhecida do público que saiu do disco Life After Death é “Ten Crack Commandments“, que traz os dez mandamentos da vida no tráfico. Em pleno o fervor do dito mafioso rap, Biggie contava como ninguém a realidade nas ruas. Chuck D é sampleado logo no início da música, fato de que o lendário vocalista do Public Enemy não gostou – chegando a processar Biggie na época.
B.I.G. dita também explica para todos a expressão beef (treta, em português) em “What’s Beef?“, outro clássico que influencia até hoje. O clima de tensão dessa música coloca o rapper, como ele mesmo diz, o “Alfred Hitchcock do Rap“.
O legado
Life After Death vendeu 690,000 cópias na primeira semana, sendo até hoje o projeto que deu o maior pulo no chart da Billboard 200 – de 176 para primeiro em sete dias. O disco ainda fechou o ano como líder do Billboard Year-End, chart cumulativo da revista.
O projeto é até hoje reconhecido pela sua relevância lírica e musical para o cenário. Biggie nos deixou um grande presente, viveu após sua morte por muito do que fez nesse trabalho. Hoje ele completa 20 anos. Nos resta ouvir e apreciar.