Durante a vida, há elementos que nos marcam, ajudam a enxergar como somos e a projetar o que queremos ser, quais melhorias ansiamos e como é o mundo onde gostaríamos de viver. A arte e a música são ferramentas potentes que transformam, auxiliam na autoexpressão e a dividir com o outro o que nos move.
Enquanto artista e ser humano, Mulambo, MC, cantor e compositor nascido e criado no Capão Redondo, São Paulo, tem muitas referências e coisas que o inspiram e que muitos ainda não sabem. E chegou o momento de compartilhá-las por meio de uma nova fase na carreira, resgatando estilos que influenciaram a sua jornada.
O artista e sócio-fundador da Deck9 Record’s, começou sua trajetória na música em 2015. De lá para cá, lançou os EPs “Infinito Revés” (2017), “Monocromo” (2019), e participou de projetos colaborativos como “Pinky & Cérebro” (2018) com JP NaIronia, “S2 Mixtape” (2019) com Vinex, “Meu Sim” (2020) com Indy Naíse, “Luta por Mim” (2020) com Jup do Bairro, “Fogo Cruzado” (2021) com Brrioni, entre outros.
E no dia 25 de setembro, Mulambo nos apresenta “Do Azar à Sorte”, seu primeiro álbum de estúdio, uma espécie de síntese musical de todos os processos que viveu para se entender e se tornar o artista que é. O disco, que já está disponível em todas as plataformas de áudio e também no canal oficial do artista no YouTube, conta com 10 faixas inéditas com participações de Cronista do Morro, Jup do Bairro e Lio (Tuyo), e traz Vinex/Deck9 Record’s à frente da Direção Musical, além da assinatura dos produtores Sijeh, Ykymani e Caue Gas.
Além de sonoridades plurais, Mulambo também se dedica a trazer um projeto para além da música. O artista passou por uma imersão e entrou em contato com diferentes tipos de arte e seus formatos. A partir de seu estudo, ele se arrisca a entregar algo novo. Com direção audiovisual assinada por Isac Oliveira, conta histórias de um personagem, o Mulambo, e quais sentimentos e pensamentos criam a atmosfera que compartilha com quem ouve, assiste e sente o que é “Do Azar à Sorte”.
Para entender melhor o projeto, o Raplogia conversou com o artista, que nos falou sobre os processos que experienciou para criá-lo, a vontade de se arriscar em outros gêneros musicais, os desafios de fazer um álbum visual e mais. Leia abaixo!
Raplogia (R): como foi o processo de criação do álbum? Quanto tempo você se dedicou ao projeto?
Mulambo (M): comecei a fazer o disco em fevereiro de 2022, levou cerca de um ano e seis meses pra ficar pronto. O processo de criação foi longo, acho que foi o máximo de tempo que me dediquei a fazer uma coisa só, criar uma ideia, escrever sobre, dar nome, construir uma equipe. Foi um processo lento também. Lembro que com o “Monocromo” foi tudo tão rápido, a gente escrevia e gravava, foi tudo urgente. E não que eu não goste de trabalhar com essa agilidade, mas foi importante ter esse tempo. “Do Azar à Sorte” me trouxe muito autoconhecimento e acabou deixando de ser só um disco para virar um objetivo.
Fiz tudo com calma pra ter a qualidade que queria, tirar de dentro de mim e estampar nesse projeto a arte e o que ela me causa, o que ela traz. Meu esforço, suor e exaustão. E a música foi a forma que fez sentido de expressar tudo isso. Construí muitas coisas com base nas ideias que eu tinha. No início a minha única pretensão era trabalhar diversos gêneros musicais em um projeto linear, que contasse uma história, que tem começo, meio e fim.
Durante esse processo, além de me desafiar musicalmente, também quis consumir outros tipos de arte e sair do que já era conhecido pra mim. Fui ver apresentações de ballet, musicais, exposições. Fui entender as artes para além da música, foi uma imersão pra criar algo que se expanda, que seja extra sensorial. E foi aí que entendi que queria um álbum visual, sabia como queria que as músicas soassem e fossem vistas, em qual momento da vida das pessoas elas podiam aparecer para ajudá-las.
R: e como você escolheu o nome e quem chamaria para colaborar e produzir o álbum?
M: O Vinex, Sijeh, Caue Gas e Ykymani são produtores que eu admiro muito e que já trabalho há anos, tenho muita confiança em tudo o que fazem. A Cronista do Morro foi o primeiro feat confirmado do disco, para Autobiografia. Ela é a pessoa que mais faz sentido estar nessa faixa, a gente se parece muito, ela é quase um espelho, alguém em que me vejo muito. E com a Jup e a Lio criei o “We are the world” dos emos, também conhecida como Rock Triste pra Chorar. Foi incrível fazer essa faixa, são duas artistas gigantes, né? Quando apresentei a ideia pra Jup ela tava corrida, a Lio também, mas nada impediu que elas participassem e entregassem o melhor resultado possível. Eu mandei a guia e elas me devolveram um hino.
Enquanto ao nome do álbum, é uma referência ao meu primeiro EP “Infinito Revés”, que significa azar infinito. Esse projeto foi uma página da minha trajetória e esse disco também é, representa um lugar de transição, estou saindo do azar em busca da sorte. Nas faixas falo muito sobre a minha trajetória, o que precisei fazer para me tornar o artista que sou hoje, então o disco é mais uma página do meu diário que decidi compartilhar com as pessoas.
R: você citou que esse projeto marca um lugar de transição, uma nova fase. De que forma isso acontece e como está ligado ao que o disco quer passar?
M: Esse projeto representa o renascimento de um artista que teve que parar de ser um e ser todas as outras funções para poder cuidar do artista, sabe? Estudei muito pra chegar até aqui, então foi mesmo um renascimento, foi tirar do papel o que antes eram apenas sonhos. É uma nova forma de enxergar a indústria, a arte e de me enxergar. É uma fase de muito amadurecimento pessoal.
O álbum traz a ideia do “eu quero, então eu posso”. Foi por isso que fiz o disco. Eu não sabia como fazer, traçar o conceito, mas arrisquei. Quis construir esse projeto mesclando vários tipos de arte… as artes plásticas estão presentes, a moda também. Peguei todos esses fios que me inspiram e teci uma teia. Vi o “ eu quero, então eu posso” acontecer na prática.
Aprendi muito fazendo esse projeto, ele me ensinou que por mais difícil que pareça fazer as coisas, por mais impossível que pareça fazer acontecer, a gente consegue. O cérebro trabalha muito, o do preto e favelado ainda mais. Quando a gente quer a gente acha a solução, a gente tira as ideias da cabeça e as coloca no mundo. Tive que me convencer por muitos meses de que era capaz e aos trancos e barrancos nasceu um trabalho lindo. Ser artista demanda muita coisa… é bonito ter o privilégio de poder estudar a arte, mas dá trabalho. Acho que também tem o lance de resgatar a autoestima e de valorizar o seu próprio trabalho, de tratar ele com todo esmero possível pra conseguir o apresentar direito pro mundo e mostrar quanta qualidade tem.
R: E ainda nesse lugar de mudanças e renascimento também está um Mulambo disposto a se arriscar mais como artista? Como foi pra você unir tantos ritmos e formatos em um só projeto?
M: Com certeza! Eu sempre quis fazer o estilo de música que trouxe pro álbum, só não tinha conhecimento técnico. Tinha conhecimento sobre rap, sobre o hip hop. E não considero que estou deixando o rap pra fazer rock. A ideia é trazer esse e outros gêneros no mesmo disco, até na mesma música. A ideia visual e os instrumentais tem muito do rock, mas eu queria mesclar isso com a versatilidade do rap, queria trazer um jeito brincado de rimar que o rap permite fazer. Trouxe também um pouco de vários subgêneros do rock dentro de uma música de quebrada, o punk rock de favela. E que é resultado desses artistas periféricos que tem construído um trabalho lindo, que tem trazido a sua identidade para dentro desse gênero. E isso sem precisar abandonar o que faziam antes.
R: Qual artista despertou isso em você e te reaproximou do rock?
M: Não posso deixar de falar o quanto trabalhar com a Jup do Bairro me ajudou nesse processo. Pra mim, a Jup é uma das promessas do rock nacional… E foi nela que consegui me ver, estou incluso no que ela está criando, mas consegui visualizar algo que me identificava e queria fazer também. A Jup me mostrou que isso era possível.
Pra falar a verdade, desde 2019 queria trazer mudanças para a minha carreira, estou planejando isso faz um tempo, então não foi de uma hora pra outra. Só que precisei maturar muita coisa, estudar e viver certas experiências. Acho que não só as músicas, mas mudanças pra essa figura, pro Mulambo. Sinto que perdi características que eram muito importantes para mim ao longo do tempo, e agora, com esse disco, consegui resgatar o que queria e tanto sentia falta.
R: Ainda falando sobre referências: como você desenvolveu o conceito do audiovisual do disco e o que você consumiu de conteúdo, de arte, que te trouxeram inspiração?
M: Sou formado em audiovisual e como é uma arte que estudo faz tempo, quis trazer aquela ideia de construir e contar várias histórias utilizando apenas um cenário. Nós fizemos uma galeria de arte onde nada encosta no chão, só eu. No disco, sou um comerciante que quer vender todas as artes expostas nessa galeria, desde as projeções na parede até as peças. Um leilão de uma galeria de arte. Conseguimos criar um álbum onde tudo tem uma apresentação visual, que não é a definitiva. Mas achei importante trazer mais um sentido, mais uma forma de externar o que estou dizendo nas músicas.
E sobre as referências, nossa, consumi tanta coisa pra fazer esse projeto que é difícil até de organizar as ideias pra tentar falar sobre. Acho que não teve algo em específico, que eu consiga falar “isso eu tirei daqui”. Inclusive, tive muita dificuldade em passar pra minha equipe o que queria fazer, justamente porque peguei as minhas ideias pra colocar em prática. Lembro de ter assistido muito anime, mais do que em qualquer fase da minha vida, filmes variados, ouvi muita música por conta dos samples. Quando virei a chave de que estava criando um álbum, tudo virou referência, até coisas banais do dia a dia como sair na rua e observar as pessoas. Viver virou minha fonte de referência, as ideias foram surgindo.
R: Apesar de ser um respiro na sua trajetória, seus objetivos com a música continuam os mesmos após concluir esse trabalho? O que você espera do álbum “Do Azar à Sorte?”
M: O meu objetivo mesmo era fazer uma obra bonita, complexa, que falasse muito sem precisar do uso de palavras também. Por meio do instrumental, do visual, despertar e compartilhar muitos sentimentos. Quis usar todas as artes que consumo e estudo pra contar uma grande história, acho que é a primeira vez que consigo fazer isso dessa maneira.
Espero que o disco chegue a muitos lugares. A gente sempre quer que as pessoas ouçam a nossa música, sabe? Muitas vezes elas entram em contato e não entendem, mas é isso, a arte muitas vezes não tem explicação, ela até te deixa mais confuso. Fiz esse projeto com a intenção de que muitas portas se abram, sei do potencial que esse álbum tem de ocupar grandes palcos no Brasil. Imagina isso em um Rock In Rio? Não tenho dúvidas de que a gente faria estrago!
Ouça “Do Azar à Sorte” nas plataformas de áudio:
Assista os visualizers no YouTube:
Acompanhe o Mulambo
FICHA TÉCNICA – DO AZAR À SORTE
Direção Musical, Mix e Master: Vinex @vinexg
Instrumentais: Vinex, Sijeh (@sijeh_), Caue Gas (@cauegas), Ykymani (@ykymani_)
Direção Audiovisual, Fotografia e Colorimetria: Isac Oliveira (@isac_xre)
Direção de Arte e Cenografia: Bruna Mara (@brunamara._)
Fotografia, Still e Capa: Valdinei Souza (@vxldinei)
Arte Visual, Projeção e Assistência de Fotografia: Larissa Estevam (@estevxm)
Stylist: Larissa Martins (@___xux___)
Modelagem e costura: Thalea Tiza (@thaleatiza)
Hairstylist: Miriam’s Hair Stylist (@miriams_hair_stylist)
Beleza: Elisa Rosa (@a.elisarosa)
Assistência de Beleza: Karine Martins (@k4rinhoza)
Pré-Produção e Produção de Set: Math de Souza (@mathdesouza)
Edição e Montagem: JP NaIronia (@jpnaironia)
Produção Executiva, Assessoria de Imprensa, Iluminação de Set: Mayara Rozário (@mayarozario)
Direção Criativa: Mulambo (@_mulambo)
Apoio: Converse All Stars, Deck9 Record’s, Fábrica de Cultura Jd. São Luís e Fábrica de Cultura Capão Redondo.
Deixe seu comentário sobre o que achou da entrevista e acompanhe o Raplogia nas redes sociais para ficar por dentro das novidades.