Diretora de clipes como “Mandume”, do Emicida, “Virou Canção”, de Ogi, e da websérie “Canto”, qual apresenta cantoras nacionais do cenário atual, Gabi Jacob é dona de um olhar fotográfico que toca a alma: trás para as câmeras a sensibilidade de pequenos detalhes que fazem a diferença em suas produções, que falam sobre resistência, amor e o cotidiano da quebrada.
Na nova série de entrevistas do Raplogia com minas do cenário do Hip-Hop nacional, essa mina responsa chega botando o pé na porta com muita humildade e representando as mina na cena! Confira:
Raplogia: Como foi o início da sua caminhada na direção de filmagens?
Gabi Jacob: Quando eu era estagiária numa produtora, escrevi o roteiro de um curta. Formei uma equipe só com os estagiários de lá, fizemos tudo sem grana nenhuma. Foi incrível aquela experiência! Passei por várias funções naquela produtora mas depois do curta, saquei que queria dirigir. Fui assistente de direção durante muitos anos até me sentir segura pra dirigir meu primeiro videoclipe.
R: O que despertou a sua paixão pela filmagem? E pelo Hip Hop?
GJ: Começou com o meu pai. Ele largou o emprego dele de carteira assinada pra seguir o sonho de ser cinegrafista e fotógrafo. Então cresci dentro da produtora dele.
Além disso cresci vendo MTV e foi lá que conheci Racionais. Nunca me esqueço do que eu senti quando ouvi a primeira vez. Depois que eu dirigi meu primeiro clipe (Por que meu Deus, do Ogi) por sorte fui conhecendo várias pessoas dentro do Hip Hop.
O hip hop é foda, mesmo! É uma família de verdade.
Transitei por vários estúdios musicais, quase todas as quebradas de SP, batalhas, festas e shows de rap. Frequentei camarins de shows enormes em estádio com lotação máxima a apresentações em um churrasco na laje pra 10 pessoas. Entrei na vida dessas pessoas, entrei na casa delas, almocei com a família delas, frequentei aniversários, dividi inseguranças, comemorei junto também a cada clipe lançado, cada álbum, cada esgotamento de ingresso de show.
A quantidade de gente que trocou comigo durante todos esses anos é gigante. Aprendi muito com cada uma delas. Minha paixão pelo Hip Hop e pelo rap é real! Eu amo música. Nada desperta em mim o que a música desperta.
R: Quais são suas inspirações? O que/ quem você considera uma motivação na sua caminhada?
G: Mexer com imagem é muito louco porque você acaba pegando inspiração de tudo, de uma história em quadrinhos, de uma foto, de uma conversa. Eu ando o tempo todo com um caderno na bolsa.
Quem me motiva são todas as pessoas que resistem e trabalham com arte num país como o Brasil. Atores de cinema e teatro, fotógrafos, cantores, grafiteiros, ilustradores, poetas, são essas pessoas que me motivam, porque não é fácil!
R: Como é ser mulher num meio predominantemente masculino como o Hip Hop? Você já passou por situações machistas? Como encara essas situações?
GJ: A gente tem que provar o tempo todo que o nosso trabalho é bom. Pra ser respeitada num ambiente desse a gente muitas vezes tem que se masculinizar, é uma merda. A situação mais machista que eu passo é um cara começar a me tratar com mais respeito a partir do momento que sou apresentada como diretora. Ou seja, a gente tem que estar o tempo todo provando algo. Apesar de tudo, tento encarar a cena com otimismo porque tenho visto muita mulher foda trabalhando principalmente nos bastidores: produtoras, empresárias, fotógrafas. Respeito máximo a todas as mulheres que trabalham nesse meio.
R: Você encara seus trampos como uma forma de resistência? Qual mensagem você tenta passar através dele?
GJ: Resistência diária, porque é cada coisa que a gente passa que dá muita vontade de desistir. E o mais triste é pensar que um cara nunca passaria por uma situação dessas. Estou conseguindo cada vez mais juntar mais mulheres nas minhas equipes e isso nos dá muita força pra continuar. Estamos unidas e não vamos desistir!
R: Quais os nomes de minas no Hip Hop nacional que você aponta como estrelas do presente/ futuro?
GJ: Vou falar de novo de bastidores porque é o que mais tenho acompanhado. As produtoras do Laboratório Fantasma tão dando baile. Olha os shows que o LAB têm promovido, e a maior parte da produção é feminina (Raissa, Marina, Pamella, etc) essas minas trampam muito e têm meu total respeito e admiração.
R: Quais são seus sonhos e planos para o futuro?
GJ: O movimento Casa de Clipes que eu sou idealizadora já é um sonho real. A gente tem promovido oficinas de cinema pra jovens e os planos são atingir mais bairros da cidade e futuramente outros estados e países.
R: Chutando alto, quem você gostaria de dirigir (tanto no movimento nacional quanto internacional)?
GJ: A websérie “Canto” que eu dirijo é voltada pra cantoras brasileiras. De cada episódio sai um videoclipe de uma cantora apresentando uma música sobre o universo feminino. Eu brinco que não vou parar até chegar na Sandra de Sá (risos).
E se um dia, quem sabe, rolar um episódio internacional pra série, a Syd, do The Internet, já pensou? (risos) Meu deus, que banda! Tô completamente viciada.
R: Para finalizar, deixe um salve para as minas que estão começando na caminhada de seguir seu sonho no Hip Hop.
GJ: Nenhum caminho que permeia pela arte é fácil, mas como tudo na vida a gente tem que achar algum tipo de prazer no que faz. Nos unir com quem nos puxa pra cima, trocar ideias, referências, experiências. Não dar ouvido pra picuinha de internet, gente machista e negativa já é um ótimo começo, é importante saber que tudo isso vai acontecer hora ou outra, o lance é observar e esperar passar. Se você faz o seu e é verdadeiro no que faz, os frutos vêm.
Conheça mais do trabalho de Gabi Jacob: https://vimeo.com/gabijacob