Texto por Kleber Briz Albuquerque (@kleberbriz) | Artes por Arthur Garbossa (@arthurgarbossa)
Essa é a terceira e última parte do nosso especial sobre Ogi. Se não viu as outras parte clique nos links a seguir: primeira parte e segunda parte.
Foto por Renan Perobelli
Conforme tem compartilhado nas redes sociais, Ogi está em processo de criação de um novo disco, produzido por Kiko Dinucci. A princípio, o nome do trabalho é a palavra “morte” ao contrário, com o intuito de fazer uma alusão a vida. A ideia central das composições é, nas palavras do próprio MC, “discutir a relação com a morte e como, dependendo de suas escolhas, ela está mais próxima ou afastada de si”.
Aproveitamos a série sobre o MC para conversarmos com ele sobre o processo de criação de histórias, inspirações e as novidades que podemos esperar para o novo álbum.
RAPLOGIA: Ogi, em algumas entrevistas você comentou que é apaixonado por samba, o que fica evidente em Crônicas que começa com um trecho de Nas Quebradas do Mundaréu (1974), e no Rá! (2015), ao homenagear o gênero em “7 Cordas”. Você também já falou sobre ter participado de algo parecido com um “podcast” de samba. Poderia contar um pouco sobre esse projeto e como o samba influencia a sua música?
OGI: Na época eu fazia esse lance do samba, que se chamava Lira do Samba, está disponível no Soundcloud mas eu perdi a senha, então eu não consigo resgatar mais. Eu criava um personagem, que era o apresentador da rádio que se chamava Vandrigo Tavares Bastos. Ali eu colocava vários sambas antigos que partia de uma pesquisa onde me aprofundei mais no samba. E ia comentando um pouco de cada faixa e depois que ela tocava falava um pouco de quando foi gravada, quem era o cantor. Nada muito profundo, porque também faltavam informações. Na internet é bem difícil de achar informações de sambas antigos, às vezes tem em um lugar ou outro, mas é muito pouco e não tem todas as informações.
Essa proximidade com o samba antigo vem da minha infância, era o que tocava em casa. Eu me pegava fazendo paródias daquilo. Músicas da Clara Nunes, Cartola e depois mais velho eu acabei conhecendo mais discos, músicas e artistas. Naquela época, ouvia bastante Bezerra da Silva no meu bairro também. Samba sempre esteve muito presente na minha vida e isso acabou me influenciando na parte de melodias. Foi onde eu aprendi a fazer melodias através dessas paródias que eu criava. Assim eu misturei isso no rap e deu no que deu.
R: Dito isto, você pensa, em algum momento da sua vida, fazer um disco de samba?
O: Penso em fazer um disco de samba, não agora, mas é uma ideia que eu já tenho comigo a muitos anos. Tenho conversado isso com o Kiko Dinucci, de fazermos esse disco. Seria algo voltado para o samba de raiz mesmo, dos discos e músicas dos anos 60, 70. É uma ideia que estou amadurecendo, porque cada dia que passa eu vou escrevendo e aprendendo como compor músicas no formato de samba. Esse disco um dia vai acontecer, com certeza.
R: Falando sobre histórias, você é muito conhecido por compor algumas das mais interessantes que temos no rap. Quais são os elementos que você considera essenciais em uma boa história?
O: A história tem que te prender. Não pode ter um começo, um desenrolar da história e no final não falar nada com nada, sabe?
Essa “coisa” de contar histórias na minha música vem da minha infância-adolescência. Esses dias reli uma redação, de quando eu estava na terceira série, que eu fiz para minha mãe onde eu falava do meu nome Rodrigo a partir do que minha mãe me falava sobre ele, do porquê meu nome ser este. Nesta história que eu coloco na redação eu percebi que já tinha essa facilidade. Lembro também de ficar com os meus amigos do bairro, umas oito horas da noite, quando tinha uns doze, treze anos, contando histórias de terror para eles. Então, quando nos reuníamos, eles pediam para que contasse as histórias. Eu inventava várias.
A minha avó materna, que era de Pernambuco, também contava muita história. Uma delas era que meu tataravô lutou com o diabo. E ela contava como se acreditasse mesmo e na época eu acreditava (risos). Mas depois eu passei a não acreditar mais e quando eu ia falar isso com ela, minha avó batia o pé e dizia que tinha sido verdade. Era uma história cheia de detalhes.
Outra coisa foi a leitura, que desde de criança minha mãe me incentivou muito a ler. Isso me fez ter essa facilidade. Muitas músicas eu começo escrevendo sem um temática e vou desenrolando a história para que o desfecho no final seja bom, no sentido de cumprir a missão de ter começo, meio e fim sem que fique algo à toa, sabe?
Eu tenho feito esse incentivo a leitura e tenho contado muitas histórias para o meu filho, como fizeram comigo. E também invento histórias, porque já não lembro mais algumas que eu tinha contado para ele. Como ele tem uma boa memória, ele me corrige dizendo que havia falado outras coisas, mas eu vou fazendo adaptações (riso).
R: Em suas letras também tem muitas referências às filmes, livros e quadrinhos. Dentre as referências que você fez, você poderia citar duas que você gostou de incluir nas suas música e por quê?
O: Na “HaHaHa” o trecho “Dominique-nique-nique me espera bem ali” é uma referência a uma música muito antiga, que minha mãe cantava para mim que era assim: “Dominique, nique, nique/Sempre alegre esperando alguém/Que possa amar.” (“Dominique” (1964), Giane). Usei na faixa para a personagem feminina, embora seja um nome unissex.
Em “Minha Sorte Mudou”, do Crônicas da Cidade Cinza, no trecho “Seu delegado, prenda o Tadeu” vem de um forró muito antigo, da cantora Clemilda. Era uma música que nos anos 80 tocava em todo lugar. E eu lembro de ouvir em 88, 87, por aí. A música era algo como: “Seu delegado prenda o Tadeu/Ele pegou a minha irmã […]”. Tem várias músicas que eu faço essas referências musicais e de filme, mas essas duas que eu consigo me lembrar e que gosto bastante.
R: O que você tem assistido ou lido, o que poderia recomendar? Elas têm servido de inspiração para esse próximo disco? Em caso negativo, você poderia citar alguma referência que pode vir a aparecer no seu próximo disco?
O: Eu pensei que nesse ano eu ia ler muito. No ano passado eu li bastante, se não me engano li 37 livros. Este ano estava com planos de ler muito mais, porém tenho tentado ler e não consigo me concentrar. Por enquanto, li apenas 3 livros. Um que gostaria de recomendar é o do Jessé Souza, “A Elite do Atraso”.
O que está me fazendo passar por essa situação de pandemia é ouvir música. Tenho escutado muita coisa. Tenho assistido muitas séries também, mas nada que eu considere que vale a recomendação.
Para este novo disco, esta fase que estamos vivendo acabou influenciando muito. Analisando as letras que produzi, que por enquanto já são 14 ou 15 letras, mas que só deve entrar 12 ou 10, eu percebi que estou falando da morte sempre. Este é o conceito do disco, é dizer que a morte está presente em tudo, estamos sempre convivendo com ela. Eu não posso deixar ela se aproximar de mim, porque cada vez que ela se aproxima, mais eu viro morte, entendeu? Ela está sempre convivendo comigo, às vezes se aproxima mais, às vezes menos. Isso faz parte de nossas vidas. Não quero falar muito de outras referências, mas vocês vão ouvir o single em Agosto. O disco acabou ficando para o ano que vem, infelizmente, pois a verba da marca que me apoia só será liberada depois de setembro. Porém, vocês devem ouvir dois singles esse ano e o disco no ano que vem.
R: Muitas de suas música possuem personagens, como Zé Medalha, Chico Cicatriz, José Carlos (Escalada) e muitos outros que, inclusive, não tem nome. Em todos, percebe-se que, mesmo na simplicidade, é possível tirar lições bastante profundas. Que características você considera importante na construção de um personagem?
O: Eu já me peguei pensando nisso, sabe? Se fosse escrever um livro, não sei se conseguiria, como muitos escritores, fazer com que o leitor identificasse traços da personalidade do personagem. Não sei se eu tenho esse dom. Pode ser que eu não perceba e realmente consiga passar isso. Mas eu não me apego muito nisso. Vou escrevendo e aparece os personagens na música. José Carlos Magricela, da “Escalada”, é um nome que eu dei para um cara que fez o que ele fez na história contada na música, foi só o nome que eu criei. As características do personagem surgem na letra, de acordo com o que estou escrevendo. Eu busco apenas dar nomes a eles.
No novo disco vai ter um novo personagem, talvez alguns, mas nomeado só tem um. É em uma faixa que ainda não tem nome, mas que está nomeada como “country”, porque no sample é de country. O Kiko montou outra coisa muito louca, meio velho-oeste. Coincidentemente, ela tem os traços de personalidade dele, mas não foi proposital. Eu quis expor esta coisa que está acontecendo no nosso país que casou com o personagem.
R: Suas histórias que envolvem personagens geralmente possuem começo, meio e fim, funcionando individualmente mesmo quando não são tocadas junto aos álbuns. A saga do Zé Medalha é um caso que possui continuação em outras faixas, estando, inclusive, inacabada. Na era do Universo Cinematográfica da Marvel, com filmes clássicos ganhando continuação e os próprios livros/quadrinhos com mais de um volume, você prefere manter suas histórias curtas dentro de uma única música? E em algum momento pretende contar uma história com mais partes, apresentando e desenvolvendo personagens, quem sabe, ao longo de um disco inteiro?
O: Para o Zé Medalha eu pretendo fazer um EP contando a história dele. Uma espécie de revanche que ele quis ter comigo. É algo que eu tenho estudado, tenho feito anotações e vou guardando. Não é para agora. A princípio vai ser com Zé Medalha mesmo, mas não vai ser um disco, um EP com 6 faixas daria para fazer isso tranquilo. Um disco poderia ficar muito cansativo. Não ficaria cansativo se soubesse ser criativo. Porém, um EP parece que é na medida.
Eu pretendo dar continuidade a história dele, quem sabe dar continuidade a outros personagens também, eu acho bem interessante isso. José Carlos Magricela não pode ter continuidade porque ele morreu, né? (risos)
R: Em 2010, lá no início de sua carreira, você afirmou para NOIZE que “Evolução vem a cada rima nova. Eu tento não repetir, busco novas terminações. Tento diferenciar a levada, cada beat pede uma coisa diferente.”. Quem acompanha seu trabalho consegue perceber essa musicalidade particular e um vocabulário que enriquece suas rimas. Como você se vê hoje em dia, 10 anos depois? O que você considera que ainda pode melhor ou acrescentar no seu “repertório”? Quais os próximos passos para sua evolução?
O: Eu sempre estou tentando evoluir na minha arte e, principalmente, como ser humano. Pode parecer clichê, mas essa minha busca é muito forte. Já chegou a me fazer mal de tanta cobrança que eu me fiz. Me puni por atos que eu achei que estava errado para não repetir nunca mais.
Sobre a evolução artística, nós vamos amadurecendo. Tem coisas que saiu lá atrás, há 10 anos, que eu gosto ainda, mas que hoje eu teria feito diferente com a cabeça que eu tenho hoje. O que eu vou acrescentar sempre nas minhas coisas são minhas vivências, minhas novas vivências. Tudo que eu escrevo está relacionado diretamente às fases da minha vida. No Crônicas era uma fase que eu estava vivendo, o Rá! outra, no Pé no Chão era a fase do nascimento do meu filho e de várias outras coisas. Este novo disco não seria diferente.
Busco estar sempre lendo, sempre antenado ao que está acontecendo no mundo sem ficar bitolado, preso. E isso eu vou acrescentando a minha arte e para minha vida. Mas um grande passo que estou dando para minha evolução é não estar mais consumindo álcool, algo que me atrasou muito, me levou quase a perder a vida. Isso é algo que estou conseguindo fazer, estou sendo forte e está sendo um grande benefício para minha cabeça. O fato de não estar bebendo me faz compor bastante, com lucidez na hora de enxergar as linhas, de como vou resolver os versos.
R: Resgatando sua discografia, percebi que você escreve poucas faixas românticas/love songs. Uma das poucas é “Se Você Não Canta”, com Souto MC, lançada em 2018. Por que essa temática não é tão recorrente? Rodrigo Hayashi não é um cara romântico?
O: Eu tenho essa dificuldade de escrever um love song porque a maioria delas soa muito cafona ou clichê, o que também na verdade é o que esse tipo de música pede. Eu sou fã de Reginaldo Rossi, gosto de música brega das antigas, que só falava disso. Escuto muito pagode dos anos 90 e também os R&B. Só que eu me olho no espelho e não me vejo cantando love songs, mas também acho que tô errado, pois posso fazer de outra maneira. O love song que eu fiz foi pro meu filho, que é a “Nuvens”, é uma declaração de amor a ele, a mãe dele e a minha mãe.
Foto: João Victor Medeiros
Eu sou um cara romântico sim, minhas namoradas podem dizer isso (risos). Não me vejo fazendo isso, sinto que estaria forçando a barra, fazendo papel de ridículo, sabe? Mas isso é algo pessoal e está longe de ser algo que eu descarte, quem sabe um dia eu faça uma. É algo que eu tenho que superar, não faz sentido, posso cantar o que eu quiser. Inclusive, tenho uma que estou escrevendo com o DaLua, mas a minha parte não está diretamente ligada a uma mulher, porque já está no refrão dele.
R: Outra coisa que você costuma comentar nas entrevistas é que é um ouvinte do rap internacional, que você inclusive se atenta às levadas diferentes que estes MCs exploram nas suas músicas. Com relação a levada ou flow, quais os rappers que você admira?
O: Eu admiro vários caras lá de fora, eu gosto muito das letras e do flow do Notorious B.I.G, Kendrick, Andre 3000, Busta Rhymes, Q-Tip, Big L, se eu ficar aqui falando vou lembrar de vários, então é até meio difícil de citar. São várias coisas que eles fizeram nas músicas que me surpreende.
Nacionalmente, tem vários que me chama atenção. Mano Brown é hors-concour, ele já tá num patamar que nem precisa ser citado mais, é unanimidade para mim (risos). Outros que poderia citar são o Emicida, Amiri, Djonga, Don L, Matéria Prima. São muitos outros que eu poderia dizer e que me impressionam sempre também.
R: A produção das faixas também é algo que você valoriza muito nas suas músicas, tendo trabalhado com alguns dos melhores produtores do nosso país. Tem alguém que você gostaria de trabalhar, que ainda não teve oportunidade? Se pudesse escolher produtores internacionais para trabalhar, quais seriam?
O: Eu gostaria de trabalhar muito com o Ganjaman, é um sonho que eu tenho. Ele é um dos caras que eu mais admiro nesta questão de produção. Como produtor ele toca vários instrumentos, tem o feeling perfeito. O NAVE tem isso muito parecido com ele, mas eu já trabalhei com o NAVE, graças a Deus. Internacional, gosto muito do 9th Wonder, Khrysis, Alchemist e Madlib. Eu tô sonhando alto, né? (risos) Mas gostaria de trabalhar com esses.
R: As capas do seus discos se sobressaem não só pela beleza, mas pela ligação que elas possuem com o trabalho no todo. Para você, qual a importância da capa para um álbum? E o que você busca quando está no processo de criação da suas capas?
O: As capas eu procuro fazê-las depois que eu estou com o disco pronto e o título. Assim foi feito com Crônicas, quando passei a ideia para OsGêmeos. A do Rá!, que foi produzida pelo Oga Mendonça com uma foto antiga minha e o pixo feito pelo Sosek. E com o Pé no Chão foi a mesma ideia, essa foi feita pelo Gustavo Amaral, um parceiro meu, que tirou a foto e fez todo o design junto com o Sosek.
O Sosek, que é meu amigo, está presente em todas as capas de discos meus, seja com algum letreiro e o design. Ele que pegou a arte d’Os Gêmeos e montou o design dela, junto com o pôster que vinha nas primeiras cópias. E no Rá! e Pé no Chão ele contribuiu com o letreiro. Sosek também foi responsável pelas capas do Contrafluxo.
Eu deixo essa responsabilidade para o designer, ele escuta as músicas e passa o que ele sentiu ouvindo. O único disco que eu escolhi a cor foi o Pé no Chão, que eu queria cores como se fosse um pôr do sol, e no Crônicas foi cinza pelo nome. Eu vejo com o designer se eu concordo com tudo que ele fez, aprovo ou não, pedindo algumas mudanças. Eu preciso sentir que a capa esteja realmente esteja transmitindo aquilo que está nas músicas.
R: Aproveitando a deixa, você poderia citar capas que te impressionam e o porquê de escolher estas capas?
O: Gosto muito das capas do Nas, do primeiro e segundo disco dele, principalmente. Aquela do segundo disco do Bk’, Gigantes (2018), que tem vários personagens como se estivessem brincando com os carrinhos. Gosto muito da capa do Bezerra da Silva, Eu Não Sou Santo (1990), que ele tá preso numa cruz com a favela de fundo. As capas do Wu-Tang. A do segundo disco do House of Pain, que eu inclusive tenho e estão guardadas em algum lugar.
R: Em alguns videoclipes que você aparece é notável que você costuma atuar, criando personagens enquanto surge na tela. Além de ser fã da 7ª arte, você já participou ou pensa em participar como ator em um filme/série/peça?
O: Nunca atuei em nenhum filme. Se eu recebesse o convite eu aceitaria, dependendo do que fosse ser retratado na obra, se fosse atraente para mim. Mas não tenho a pretensão de ser ator.
R: Recentemente você participou da faixa “Poetas no Topo 3.3”, um projeto que mistura artistas de muitas gerações. Mesmo assim, seu verso é um dos destaques e também mostra um lado bastante crítico com relação à política. Com mais de 10 anos de carreira solo, qual o segredo para ter essa longevidade? E se você pudesse dar conselhos para os novos MCs, quais seriam?
O: O segredo é sempre estar estudando, sempre estar praticando a escrita, levadas e cadências. Praticar a musicalidade e melodias. Eu penso que podemos fazer algo bem, mas se você parar de praticar você enferruja. Eu vejo dessa forma. E também estar antenado com o que acontece no mundo, ler livros, ver filmes e ouvir música. Além disso, não necessariamente seguir tendências. Se o trap tá em alta eu não devo fazer só trap, pelo menos eu penso que assim não funciona.
Se fosse dar um conselho para os novos MCs é isso, sempre praticar e buscar novas informações. Se você faz rap você tem que conhecer a raiz, saber da onde veio, quem foram os antigos MCs. Porque muitas vezes você vai ouvir um MC que você gosta, de uma geração recente, e ao conhecer o passado, você vai saber em quem ele se inspirou e quais técnicas ele usa. Por isso eu acho bem importante conhecer a raiz do que você está fazendo, conhecer quem veio antes.
R: Você havia anunciado que seu novo disco deve se chamar ETROM, que é a palavra “Morte” ao contrário. De onde veio a ideia e o que significa esse título?
O: A princípio o disco iria se chamar ETROM, porque prestando atenção de tudo que venho escrevendo para ele é como se estivesse convivendo com a morte, por estar presente em todas as letras. Eu vou deixando ela se aproximar e às vezes não, porque quanto mais próximo dela, mais eu viro a morte. Essa é a ideia do disco, a morte está sempre presente nas letras, mas de uma maneira completamente diferente, não é algo que ficará maçante. Mas esse nome, ETROM, eu comecei a pesquisar na internet e achei umas coisas meio sem noção relacionadas a isso. Então eu decidi que talvez eu não use esse nome. Eu sempre deixo o título do disco para decidir por último nos meus trabalhos, só quando estou com tudo feito que escolho qual será o título final.
Foto por Vinicius Wasinski
R: Também já sabemos pelas redes sociais e entrevistas, que este disco será produzido por Kiko Dinucci. Por que trabalhar com o Kiko neste álbum? Em termos da sonoridade, o que podemos esperar? E como essa sonoridade irá influenciar nas composições das letras?
O: Escolhi trabalhar com Kiko porque acho ele muito talentoso e versátil. Queria fugir um pouco do que já estava fazendo na questão de instrumentais no rap. Já tinha feito o Crônicas com vários produtores, na linha do boombap. O Rá! todo produzido pelo NAVE. E o Pé no Chão por mim e pelo NAVE. Então eu queria buscar um novo produtor.
Eu já havia trabalhado com o Kiko, ele participou no Rá! e no Pé no Chão em “Anjo Caído”, tocando a guitarra dos instrumentais. Trabalhei com ele no disco do Thiago França e participei desse último disco dele, Rastilho (2020). Temos uma boa relação e estamos sempre fazendo alguma coisa juntos. Eu já havia feito esse convite para ele alguns anos atrás. Demos início a produção deste novo disco em 2019.
Em termos de sonoridade vai ser uma coisa diferente. As instrumentais estão bem diferentes das que eu já trabalhei e produzi, mas me adaptei bem fácil a eles. Talvez tenha apenas uma faixa com uma produção minha, mas o Kiko ainda pode mexer nela, estamos vendo.
E esta sonoridade não influencia a composição das letras, porque eu escrevo a rima antes em um sample ou no bumbo-caixa, para então o produtor finalizar a faixa. Porém, neste disco, mesmo escrevendo seguindo este processo, Kiko criou algo completamente diferente se deixando influenciar pelo que escrevi. Ou seja, ele produz a partir do que eu escrevo, do feeling que ele tem das letras. O que tem sido algo muito bacana.
R: Sobre as composições deste disco, o que você pode nos adiantar? Existe algum elemento que você pretende empregar nelas, como a quebra da 4ª parede, citada em entrevista com Ronald Rios? Podemos esperar novos personagens ou retorno de personagens antigos?
O: Vão ter apenas personagens novos. Não me lembro de ter feito isso de quebrar a 4ª parede em alguma música. E tudo vai estar baseado naquela ideia do convívio com a morte, de ela estar longe ou perto dependendo da situação e do risco que estiver correndo. Vai de mim afastar ela ou não.
R: Que artistas você pretende convidar para o disco?
O: Eu havia sondado várias pessoas para participar desse disco, mas sem colocar muitas participações. Pensei em colocar em umas três faixas. Com a situação da pandemia, consegui fechar com a Onnika, inclusive ela dá risada que não consigo pronunciar o nome dele (risos). Eu acho ela muito talentosa e foi apresentada pelo Willsbife, que me mostrou umas músicas dela, algumas coisas nem foram lançadas, e eu fiquei impressionado. Essa já está em processo de finalização, esperando os retoques no instrumental e ela repassar a voz. E a outra participação seria a Juçara Marçal, que estamos estudando em que faixa que ela vai entrar mas já confirmamos esta parceria.
Então para esse disco teremos essas duas grandes mulheres no vocal. E de colaboradores tocando instrumentos fiz o convite para vários. Thiago França já está gravando em uma música. Provavelmente vão ter mais pessoas, mas não quero falar sem ter a confirmação.
R: Qual a previsão para o primeiro single do disco?
O: Ele ia sair em Junho, com a pandemia, ficou para Agosto/Setembro. Pretendemos soltar dois singles esse ano e o segundo deve sair em Outubro.
O disco era para esse ano, mas com a pandemia, a marca que me apoia, a Öus, não vai conseguir fazer o pagamento para mim agora, só em Outubro. Essa verba é para pagar mixagem e masterização. Desta forma, o disco fica para o ano que vem, infelizmente. Para essas duas faixas que saem esse ano, a masterização e a mixagem eu vou bancar do meu bolso.