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Garimpando #4: Mac Dre

By 7 de junho de 2015 No Comments

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A coluna Garimpando é a coluna mais recente do blog, mas já está no seu quarto volume. Depois de falarmos sobre o rei do underground, Godfather Don, falarmos sobre MC Breed e sobre os maiores discos do Queens, iremos dessa vez para Oakland garimpar o trabalho da lenda Mac Dre.

O nome verdadeiro de Mac Dre é Andre Louis Hicks. O cara nasceu em Oakland, terra do Golden State Warriors, mas se mudou para Vallejo quando moleque – ainda na Bay Area de São Francisco. O Rap no final dos anos 80 chegou forte na costa oeste dos Estados Unidos, e pegou em cheio o pessoal dessa parte de São Francisco. Mac Dre foi um dos jovens encantados com a musica. E assim, pouco tempo depois, Andre Hicks virou Mac Dre. Em 1989, com 19 anos, o rapper lançou o EP Young Black Brotha. O EP seria o primeiro passo na carreira do rapper. Várias faixas viriam a ser colocadas no disco de mesmo nome que seria lançado em 1993. Mas Mac Dre agradou o público daquela área.

Entre 1989 e 1991 o rapper gravaria três projetos (Young Black Brotha; California Livin’; Supa Sig Tapes com Little Bruce), e foi aí que tudo mudou. Vallejo era conhecida por ter bastante gangues relacionadas à roubos a bancos e outros estabelecimentos, e a Romper Room Gang era bastante conhecida por isso. Mac Dre tinha alguma afiliação com a gangue, mas segundo ele mesmo e membros da gangue, ele não participou de roubos. Não foi o bastante para a polícia, que prendeu Dre em 1992 e sentenciando o rapper a 5 anos de prisão. Ele ainda havia se recusado a dar informações sobre a gangue para o FBI, o que forçou mais ainda a sua sentença. Dizia-se que a Romper Room Gang financiava a carreira de Dre.

Porém na cadeia o rapper não parou. Em 1992, ele lançaria o EP Back n da Hood, gravado atrás das grades por meio de ligações telefônicas direto da cadeia de Fresno. A qualidade das gravações são bastante contestáveis, afinal, foram gravadas por telefone. Mas o projeto ganhou notoriedade e foi relançado duas vezes – uma em 1998 e outra em 2005. Um ano depois ele lançaria o projeto Young Black Brotha, dessa vez um LP. O projeto era meio compilação, meio novas faixas. Diversas músicas foram tiradas de projetos anteriores do rapper, inclusive o Back n da Hood, e outras foram novas faixas gravadas pelo rapper pelo telefone. Algumas dessas faixas já conhecidas pelo público foram retrabalhadas, algumas foram estendidas, como a faixa My Chevy, que dessa vez ganhou um verso da outra lenda da Bay Area, Mac Mall.

Capa do EP Back N Da Hood, gravado na cadeia de Fresno e Lompoc.

Capa do EP Back N Da Hood, gravado na cadeia de Fresno e Lompoc.

Mac Dre pararia por um tempo. Em 1996 ele voltaria com a mixtape Mac Dre Presents: The Rompalation Vol.1, essa gravada com Mac Dre ainda preso. Mas dessa vez sem rimas por telefone. Um ano depois, em 1997, o rapper seria solto da cadeia depois de cumprir os cinco anos que foi sentenciado. Ele fundou então a Romp Records e lançou o seu segundo disco, intitulado Stupid Doo Doo Dumb. O projeto tinha colaborações de inúmeros rappers da cena hyphy de São Francisco. Hyphy basicamente é o Rap vindo da Bay Area, mas os caras da época faziam uma mistura entre o Rap da costa oeste, crunk, elementos do Rap do sul americano e até Miami Bass. O resultado pode ser visto em trabalhos de Mac Dre pós-1996 e de caras como E40, Too $hort e até Lil’ B. Com o disco Rapper Gone Bad de 1999 o rapper começou a chamar bastante a atenção. Ele renomeou o seu selo, passando a se chamar Thizz Entertainment, assim evitando qualquer relação com a gangue Romper Room. Porém há muita confusão em qual gravadora o disco foi lançado até hoje. Esse disco tem a participação de Warren G, que cinco anos antes estava na Death Row fazendo sucesso com a faixa clássica Regulate. De resto, o projeto só traz rappers da Bay Area.

O Rap de Mac Dre não era profundo. O cara rimava sobre a galera dele, crimes, mulheres, armas e uma quantidade diversa de coisas. Isso fez o Rap dele nunca se tornar algo repetitivo. Você pode ouvir a sua discografia e não ficar cansado. A personalidade do cara também ajudou muito a torná-lo uma lenda na Bay Area, Mac Dre era bem humorado e sempre mostrava isso em suas capas de discos e músicas. Heart of a Gangsta, Mind of a Hustla, Tongue of a Pimp que saiu em 2000 e foi relançado em 2003, mostra bem esse lado humorado do rapper que fazia um “pimp rap” inconfundível. Mesmo assim não podemos nos confundir com o estilo dele, afinal, ele sempre mandava a real sobre as quebradas dele.

E foi pelas quebradas que ele lançou o disco Mac Dre’s the Name, considerado um street album. Um disco normal, mas que mostra muito da ética de trabalho do rapper. Seria o primeiro de dois discos lançados no ano de 2001 por ele. It’s Not What You Say… It’s How You Say It também foi lançado no ano, e fez bastante barulho. De 2001 até 2004, ano da morte de Mac Dre foram sete discos solo (Mac Dre’s the Name; It’s Not What You Say… It’s How You Say It; Thizzelle Washington; Al Boo Boo; Ronald Dregan: Dreganomics; The Genie of the Lamp; The Game Is Thick, Vol. 2), uma compilação de melhores faixas e um disco colaborativo com Cutthroat Committee. O disco Ronald Dregan: Dreganomics tem talvez o hit de mais sucesso da carreira do rapper, que se trata de Feelin’ Myself. A faixa foi parar até no filme de 2012, Fruitvale Station.

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O rapper foi covardemente assassinado em 2004. Depois de brigar com um promotor de eventos por falta de um pagamento em um show em Kansas City, o rapper deixou o show e voltou para o seu hotel. Mais tarde no dia, passageiros de um carro roubado atiraram na van de Mac Dre, que levou um tiro na parte de trás do pescoço. O rapper morreu na hora, e o assassinado nunca foi desvendado.

Mac Dre tem músicas inéditas sendo lançadas até hoje. Aproximadamente 32 projetos já foram lançados após a morte do rapper em 2004, e com certeza vem mais por aí. O legado que Mac Dre deixou é incrível, mas ainda é um rapper subestimado. Talvez o respeito por ele se dissipe no futuro e ele seja colocado no status que merece o status de lenda do Rap.

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe