Joey Bada$$ lançou um disco no mês passado, você lembra? Uma semana antes do aguardado disco de Kendrick Lamar, o rapper do Brooklyn foi ofuscado pelo lançamento do artista de Compton, que tanto em vendas como em críticas, se sobressaiu sobre qualquer artista atual do gênero. Mas Joey também lançou seu disco esse ano, e é um bom projeto. Por isso hoje a nossa resenha é sobre ALL-AMERIKKKAN BADA$$, segundo disco do jovem artista.
O novo disco de Joey é extremamente diferente do seu antecessor, B4.D4.$$, lançado em 2015 e lembrado por muitos como um dos melhores álbuns de rap daquele ano. Em ALL-AMERIKKAN BADA$$, o rapper vem com um alvo muito bem definido: criticar as diferenças nos Estados Unidos e todo o preconceito envolvendo a comunidade negra, seja pela população ou pela polícia.
Musicalmente falando, esse novo disco é muito diferente do seu antecessor. Mais suave e moderno, o projeto tem poucos momentos que relembram o boombap, o qual Joey foi taxado como salvador. Dessa forma, mostra-se que o rapper demonstra uma evolução interessante e não se apegou em apenas um subgênero.
As já conhecidas “Devastated” e “Land of the Free” já davam uma certa pista de que esse disco seria diferente. A primeira é um rap de motivação, para as pessoas que se sentiam devastadas por não conseguir seu objetivo. É uma faixa semi-biográfica do rapper, citando as dificuldades que teve para chegar onde chegou. A segunda trata-se de uma música extremamente consciente, onde Joey fala de assuntos como o racismo, o encarceramento em massa de negros e a sua própria ambição em mudar o futuro.
It’s like they want me to shoot my chance in changing society
É como se eles quisessem alvejar a minha chance de mudar a sociedade
Particularmente eu destaco a faixa “Y U Dont Love Me? (Miss America)”, uma faixa onde Joey usa diversas metáforas para falar da sua identificação racial nos Estados Unidos. O refrão, por exemplo, é incrível:
Tell me why you don’t love me
Me diga porque você não me ama
Why you always misjudge me?
Por que você sempre me julga mal?
Why you always put so many things above me?
Por que você sempre coloca coisas acima de mim?
Why you lead me to believe that I’m ugly?
Por que você me fez acreditar que sou feio?
Why you never trust me?
Por que você não confia em mim?
Why you treat me like I don’t matter?
Por que você me trata como se eu não importasse?
Why you always kicking my ladder?
Por que você sempre puxa a minha cadeira?
Why you never hearing my side to the story?
Por que você nunca ouve o meu lado da história?
Never look me in my eyes, say sorry?
Nunca me olha nos olhos e se desculpa?
Diversos questionamentos do rapper para a América, lugar que diz ser seu lar, mas sempre vai contra os negros. É notável que Joey está falando disso, mesmo que o rapper use umas metáforas que fazem o som parecer até uma carta de amor e ódio. Para mim, essa é a faixa mais significativa do projeto, séria e como dizem alguns, na ferida.
Algumas outras faixas se destacam no projeto, como “Rockabye Baby”, que traz a participação de ScHoolboy Q. Raivosa como tem de ser, os rappers refletem sobre a situação atual da América, e falam da sua posição no país. Os mesmos falam dos seus passados com gangues e outros assuntos interessantes. É a faixa que mais relembra trabalhos antigos de Bada$$. “Ring the Alarm” é um possecut nova-iorquino, com rappers jovens como Meechy Darko (Flatbush Zombies), Nyck Caution e Kirk Knight falando sobre a situação atual do hip-hop e de MCs com pouca habilidade.
O disco ainda tem participações de caras como J.Cole e Styles P em faixas que fecham o disco e trazem trocas de verso interessantes.
Veredicto final
O segundo disco de Joey Bada$$ pode ter sido ofuscado pelo lançamento de Kendrick Lamar uma semana depois, mas não perde o seu charme. É um disco calmo, feito para ouvirmos sua mensagem, trazida até nós em uma fase diferente do rapper e do seu país, os Estados Unidos.
Muitas faixas do projeto são perfeitas para serem usadas em debates sobre a sociedade norte-americana e seus principais problemas atuais. ALL-AMERIKKKAN BADA$$ é uma carta de insatisfação para os Estados Unidos, mas ela demonstra a esperança que no final tudo irá mudar, principalmente se todos lutarem juntos.