Ma Boo voltou com novidade. Na noite de domingo (7) a cantora de Jundiaí, interior de São Paulo, lançou o clipe de “Original Style”, dando voz e características marcantes a sua arte.  A produção assinada pela Afrofuturo, DJ Dola e Deck9 Record’s  potencializou ainda mais conceitos trabalhados pela artista ao longo de sua jornada no Hip Hop e indagou a resistência das mulheres negras e periféricas em tempos difíceis como os vividos atualmente.

Para saber mais sobre o som e sobre as influências e motivações de Ma Boo, trocamos uma ideia com ela a fim de apresentar seu trabalho e visão. Confere Só:

Raplogia: como você começou na música? Qual foi o seu primeiro contato com o Hip Hop?

Ma Boo: comecei cantando e versando em rodas de samba, partido- alto com meu pai, aos oito anos de idade no primeiro clube negro do estado de São Paulo, o 28 de setembro. Eu me apaixonei por Jovelina Pérola Negra, entre outras artistas e cantoras negras muito nova e desde então nunca parei de cantar, sonhar e realizar que o canto é revolucionário.

Eu também sempre amei o Rap, mas o meu primeiro contato com o movimento Hip Hop foi na Rinha dos Mc’s em 2009, uma festa realizada pelo Dj Dandan e na época Criolo Doido. As festas eram incríveis, foram uma grande escola em que entendi várias coisas sobre a cultura do Dj e do Mc. Foi um lugar onde  fiz amizades que mantenho até hoje e que me levaram para projetos como cyphers, campeonatos de danças e eventos de grafite. Sou muito grata ao Hip Hop por existir em minha formação enquanto mulher.

Raplogia: e quais são suas maiores influências nacionais e internacionais musicalmente falando?

Ma Boo: Minhas influências são todas negras e revolucionárias. Além disso, eu amo o movimento afrofuturista, o cinema negro, a arte negra, literatura negra, música negra. Quando cito tudo isso vou de Michael Jackson a Tim Maia, de Ray Charles a Carlinhos Brown, de Etta James a Xênia França,  de Nina Simone a Tássia Reis, de Beyoncé a Karol Conká, de Wu Tang a Racionais, de Tupac a Sabotagem, do Trap ao Funk BR ,do Jazz ao Samba, do Rock ao Arrocha e por aí vai…

E por que o nome/vulgo “Ma Boo”?

O conceito de Ma Boo é por eu ir e voltar várias vezes e mesmo assim nunca desistir do jogo, nunca desistir da vida e dos sonhos. As minhas músicas trazem resistência, leveza e diversão. É como aprender jogar um bumerangue, por isso a expressão ‘Ma Boomerangue’. São palavras e mensagens lançadas para corações, indo e voltando, mas permanecendo de certa forma. Acho que eu aprendi a me lançar e transcender em meio a um sistema fascista.

Você faz parte de algum grupo ou já fez?

Minha banca é Deus e meus Orixás (risos).

Falando sério, eu sempre estive na ativa e ainda faço parte de projetos culturais, ocupações artísticas, saraus e parcerias com manas, minas e monas.  Posso adiantar que muitos trabalhos virão!

E durante esses anos no corre você mudou muito? Como isso refletiu no seu trabalho?

As mudanças na minha carreira acontecem conforme eu, Mariana, vou mudando.  Nos últimos anos eu mudei minha visão de mundo, e acho que ainda vou mudar muito.  A parada é evoluir e buscar o novo, mas sem esquecer do ancestral.  Eu estudei e continuo buscando aprendizado, saber mais sobre tudo, sobre o mercado em que estou inserida, sobre a minha estética. Eu sempre gostei muito de mudar o cabelo, sabe? Acho que isso deixa bem nítido o quanto procuro me reinventar. Sou o reflexo de muitas Ma Boo’s.

Falando sobre o lançamento de “Original Style”: o que tem para nos contar?

Então, o que me inspirou a compor esse som foi a frustração.  Ano passado fui ao baile da Dz17 em São Paulo, é um fluxo de rua bem grande. Tinha umas quatro mil pessoas  dançando e se divertindo, um baita de um grito de liberdade em meio ao caos, muitas classes sociais misturadas. Tava uma loucura e no meio disso tudo vi um amigo mandando um passinho e simulando tocar violino com os braços. Eu tive um Djavu, parada doida mesmo. Avistei um clipe, sabe?

Depois de um tempo, esse mesmo mano me convidou para assistir a Orquestra de Heliópolis no Teatro Municipal, em SP e eu aceitei. Resumo de tudo: barraram meus amigos e eu, negros periféricos. A gente estava bem colorido. Nos falaram que não estávamos trajados de acordo com o evento.

Isso me fez pensar em várias coisas como a criminalização do funk e sobre como é difícil ao povo periférico ir a um concerto como aquele. Antigamente nossos avôs frequentavam teatros, ocupavam os lugares. Em minha opinião, isso precisa voltar a acontecer. Somos maioria nesse país, o black money tem que começar a acontecer. As pessoas precisam passar a informação sem medo de rivalidade, saber que cada um é único com sua arte.   Daí surgiu o Original Style, que é ser anos luz, ter visão, apoiar e aposta no corre.

O audiovisual foi bem trabalhoso, mais muito gratificante, eu assinei a minha primeira produção e direção artística e decidi abrir minha produtora. Eu apostei em mim mesma e estou contente com o resultado, eu e Fúria editamos juntos. Foram quatro dias de gravação com muitas locações e artistas, dançarinos, skatistas… Todos negros. Foi uma energia incrível, a equipe foi toda incrível. Contou com a produção da Dola, uma beatmaker de Pelotas (RS), beauty da drag Francisco Nicioli, captação de voz da Deck9 Record’s e acervo da Pardon Madame.

Para encerrar: o que esperar da Ma Boo futuramente?

Eu estou realizada com esse trabalho, independente de views. Só posso dizer que tenho vários projetos em mente e que vou surpreender muito ainda.

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