O jovem rapper Menestrel, natural de Brasília, vem se destacando no cenário nacional por ter uma escrita bem madura e consistente para um poeta sem muita experiência e vivência. Seus 17 anos provam que a idade está muito mais relacionada ao corpo do que à mente.
Em sua obra de estreia, intitulada Relicário, Menestrel se mostra um rapper com ideais construídos, e além disso construtivas. Mas como o fato de ser brasiliense influencia em suas letras? É isso que vamos analisar.
O rapper aborda temas poéticos como o amor, a espiritualidade e o ego; mas sem deixar de falar sobre a cena do rap, e o quanto ter 17 anos influenciou negativamente para seu sucesso meteórico. É claro que muitos rappers mais velhos julgaram Menestrel por ele ser tão novo e ter feito sucesso em menos de um ano. Muitos justificam esse sucesso ao fato de Froid – rapper brasiliense que foi peça chave no retorno de Brasília como destaque nacional –, amigo de Menestrel, fazer uma participação em seu single de lançamento ‘Lamentável’, que teve uma boa recepção do público.
Em tempos de análises superficiais e focadas apenas nas técnicas de escrita, o rap vem na contramão do que deveria ser feito. Tratar o rap como uma vertente literária é fundamental para o crescimento do gênero, e se os rappers e produtores não tomarem essa iniciativa, esse reconhecimento se tornará cada vez menos possível. Mas esse é um assunto para outros textos, vamos falar antes de Relicário, obra de estreia de Menestrel no rap (ou melhor, na literatura).
Menestrel fez questão de lançar o álbum antes de completar 18 anos, já que segundo ele, a construção da obra foi feita até seus 17 anos, então ele tinha a responsabilidade de soltar o álbum na rua antes de completar a maioridade. Relicário é um álbum concreto, todos os temas abordados têm uma ideia concisa e mesmo nos levando a uma reflexão, faz a gente ter certezas, e não dúvidas.
Todas as faixas do álbum percorrem pelas ruas de BSB, ao ouvir temos essa identificação (principalmente eu, que sou nascido e criado na capital). A cidade que transpira música, que ao mesmo tempo tem o verde amarelado do cerrado, e o cinza das construções urbanas. Esses elementos são retratados em algumas faixas; destaco duas: ‘Astros’ e ‘Sicário’, duas das quais você mais percebe a influência de Brasília no processo criativo. Talvez seja essa raiz musical diversificada que faz os rappers de Brasília, neste caso Menestrel, serem tão únicos. Depois desse boom que os rapper daqui tiveram, os apreciadores dos sons de Froid, Menestrel, Jean Tassy, entre outros conseguem identificar que eles são da capital. A lírica diferenciada, e as composições mais introspectivas são características principais dos mc’s da nova geração de BSB.
Menestrel bebe direto dessa fonte, são fortes as referências espirituais em suas faixas. Também é de destaque as dúvidas que ele, em algumas vezes responde, e em outras, busca respostas. Duvidas essas que todo adolescente tem ou já teve. Isso mostra uma maturidade e ao mesmo tempo reforça o fato do autor ser um adolescente. Apesar da falta de idade, o moleque já é um poeta, e demonstra isso na faixa ‘Psicografia’, destaco aqui um trecho:
Porque a sina do poeta é essa, viver e morrer de amor
Diferença provoca o ódio, alimenta a saudade e acumula rancor
Sabe daqueles momentos que a dor vem e te assalta?
Isso é o feromônio porque mulher só serve pra fazer raiva e falta
Agora por último, destaco a faixa mais livre do álbum: ‘Despedidas’, essa faixa parece ser uma mudança de fases na vida do Menestrel, o momento em que ele passa de adolescente para se tornar um adulto, e prova isso desabafando tudo que estava entalado até então. Destaco esse verso:
Vocês acham é fácil
Acha que é só combinar duas palavra e pronto
Esquecem do mais difícil
É que pra chegar aqui a gente madrugou no ponto
Pra vir um zé ruela que não entende nada
Vir julgar meus verso e falar o que significa
O que tá dentro na linha linda não tá na tua alçada
Então desliga essa Go Pro e vai fazer vídeo de comida
Esse trecho é um tapa na cara dos críticos (não me incluo nessa). Menestrel meio que dá uma resposta aos críticos, já que na internet é o que mais encontramos. Nessa faixa o rapper desabafa ao falar sobre o processo de escrita e o fato de alguém que muitas vezes não tem nenhum conhecimento fala e julga um trabalho de quem ralou muito pra construir.
Relicário um ótimo álbum de estreia, consegue trazer tudo o que um bom álbum de rap tem, com métrica bem feita, flow bem encaixado e acima de tudo muito talento por parte do Menestrel. É claro que falta muita caminhada para o mc de 17 anos se firmar na cena e poder ser considerado um poeta, mas ele tá caminhando muito bem pra isso. Se não se perder no meio do caminho, pode se tornar um dos maiores poetas brasileiros nos próximos anos, só depende de si.