Na película O Curioso Caso de Benjamin Button (2009, David Fincher) estrelada por Brad Pitt, conhecemos Benjamin Button, um rapaz com uma rara doença que deixou o seu relógio biológico ao contrário, ou seja: nasceu com uma aparência de idoso, porém, quanto mais velho ele fica, mais novo ele aparenta ser. O filme baseado na curta história de mesmo nome do autor F. Scott Fitzgerald, escrita em 1922. O filme foi bem recebido pela crítica e ganhou várias indicações ao Oscar, mas não estamos aqui para falar do filme, mas sim traçar um paralelo entre o plot do projeto com a carreira de um dos maiores rappers a trocar um microfone: Ghostface Killah.
Ghost começou a sua carreira junto ao Wu-Tang em 1992, um ano depois teria grande participação no disco de estreia do grupo, o Enter the Wu-Tang (36 Chambers). Como boa parte do grupo, o rapper foi bem recebido pelo público, porém a sua personalidade o tornou em um dos mais populares membros do coletivo. Ghostface Killah seria uma espécie de co-host do disco de Raekwon em 1995, o Only Built 4 Cuban Linx…, onde se destacou com versos rápidos e bem construídos, que construíram a base do popular mafioso rap no meio dos anos noventa. Em 1996 teríamos o projeto de debute solo do rapper, intitulado Ironman.
Um dos apelidos de Ghostface no rap é Tony Starks – nome verdadeiro do herói Iron Man -, e explorou ao máximo suas narrativas sobre o crime, fazendo com que o disco parecesse um filme blaxploitation. O rapper que é fã de quadrinhos e usa o nome de um personagem de lá, usa muito bem as técnicas de narrativa que tem. Uniu duas coisas que gostava, fazendo de suas músicas grandes quadrinhos imaginativos. Mas ele só se consagraria em carreira solo em 2000, com o disco Supreme Clientele.
Em 1997 o segundo disco do Wu-Tang colocaria o grupo mais no topo ainda, e nas músicas vimos a celebração do sucesso. Três anos depois, no ano de 2000, o Supreme Clientele seria lançado se sobressaindo sobre o seu antecessor, e sendo um dos discos solo do Wu-Tang mais referenciados até hoje. Rimas rápidas e complexas, e mais uma vez, narrativa irretocável. Esse é o disco em que vemos o estilo de rimas de Ghostface no seu modo mais cru. Depois de dois discos, Bulletproof Wallets (2001) e The Pretty Toney Album (2004), o rapper traria mais um clássico aos nossos ouvidos: Fishscale, lançado em 2006.
Fishscale mesclou produções de inúmeros artistas com o conceito urbano já conhecido pelos fãs do rapper. O mais interessante do disco como Ghostface Killah consegue mesclar o mainstream com o underground. Em uma faixa temos Ne-Yo, na outra, Trife Diesel. A qualidade se mantém, e faz de Fishscale um dos melhores discos da década passada.
GFK não parou por aí, e de 2006 até esse ano já lançou 11 projetos – contando colaborativos e solos. É ao ouvir os trabalhos do rapper, que conseguimos notar uma semelhança com Benjamin Button: ele se renova a cada trabalho. Ghost parece uma fonte inesgotável de fazer rap.
Desde 2013, Ghost tem pelo menos um projeto entre os melhores do ano, e todos eles são diferenciados. Em 2013, ele e o produtor Adrian Younge resolveram criar uma história homenageando os filmes de horror italianos dos anos 60, juntaram com uma atmosfera musical da mesma época – influenciada principalmente pelas trilhas de Ennio Morricone – e colocarem em um disco uma história completamente original – e que foi lançada até em quadrinho.
O projeto mostrou como GFK está vivo e se renovando, são menos temas de bragadoccio e mais criatividade. Em 36 Seasons ele resolve criar mais histórias, e cria, e dessa vez com uma produção criada por banda, mais especificamente pela The Revelations, com a atmosfera funk dos anos 70 sobre o disco. Logo em seguida em Sour Soul, disco com bases de jazz falando sobre desafios nas ruas e com menos narrativas que conceituais. E semanas atrás o segundo volume de Twelve Reasons to Die, com Adrian Younge saiu para dar sequência a história do primeiro disco. A produção é a única coisa que muda, trocando o clímax italiano ditado pela influência de Ennio Morricone para um clima mais nova iorquino ditado pelo funk e pelos filmes blaxploitation. O projeto mostra que Ghost não é um cara de fases, mas sim consegue se adaptar as situações que cria com os conceitos do seu disco, principalmente na produção, pois se analisarmos seus últimos projetos, o rapper não costuma rimar sobre batidas parecidas.
Ouvir a discografia do MC mais consistente do Wu-Tang é uma grande experiência. Ghost dá aulas de narrativas, e mostra como não deixar o tempo lhe tornar ultrapassado, em outras palavras, rejuvenesce mais a cada projeto lançado.