De Santa Barbara – Califórnia (EUA), A.O.L. tem raízes profundas no Hip-Hop. Hoje mora em Oxnard, onde cresceu e aprendeu com grandes personagens do hip-hop underground e descobriu a poesia e posteriormente o rap como forma de expressão.

Cresceu nos anos 1980 ao som de Anita Baker, Diana Ross e Curtis Mayfield e mais tarde se apaixonou pelo Hip-Hop através de J Dilla, Dogg Pound, Wu Tang, Mobb Deep, a Tribe Called Quest e muitas referências da Costa Leste, consciente e cheio de soul.

Abrindo caminho para seu EP de estréia “Before Solace”, que vai de contos obscuros de sobrevivência a gritos de revanche, ele lança o primeiro single, “Hatchet”, que conta participação de DJ Romes (Lootpack, Stones Throw) e produção do lendário Madlib.

Para completar, a identidade visual do álbum ficou em mãos brasileiras

 

Natural do município de Bom Sucesso no Maranhão, o ilustrador Gabriel Hislla, de 26 anos, atua há cerca de uma década como designer. No começo da carreira trabalhava com programação web em um escritório de design chamado Karuana. O contato com processos muito abertos de criação despertou a curiosidade e o desejo de mudar de área. 

Hislla cita o designer/artista plástico Rafo Castro como um dos principais incentivadores do seu trabalho e catalizador dessa mudança. “Rafo Castro tá sempre desenrolando projetos pessoais em direções diferentes, numa pegada bem punk. Já fez garrafa de Absolut, relógio Swatch e as artes do Lollapalooza 2019. Foi quem abriu minha cabeça pra ver vários caminhos pro meu trabalho e começar a fazer por contra própria o que quero que me contratem pra fazer”, conta.

Trocamos uma ideia sobre o processo de criação dos visuais de Before Solace e a trajetória do artista. Confira abaixo:

Como A.O.L. chegou a você? E como está sendo trabalhar ao lado de lendas do Hip-Hop como Madlib e DJ Romes?

Lilla, esposa do A.O.L, encontrou uma estampa que eu fiz do mashup SADEVILLAIN rolando no facebook e procurando mais sobre meu trabalho chegaram na minha entrevista no DJ Booth e se indentificaram com minhas referências e visão do hip-hop. O contato aconteceu por facebook mesmo e estamos trabalhando nesse projeto há mais de um ano. Sendo bem sincero não tem ninguém com quem eu quisesse trabalhar tanto quanto Madlib, logo seguido de outros nomes ligados à Stones Throw: J Dilla, Quasimoto, Lootpack, Mf Doom, Knxwledge. É uma corrente do hip-hop com peso sagrado pra mim acima de qualquer outra. Otis é de longe meu produtor preferido e um dos seres humanos mais interessantes vivos.

O processo criativo se deu a partir de qual ponto mútuo? Quais foram suas referências? 

Desde o início rolou muita confiança no meu trabalho, inclusive pelos gostos em comum. O processo dependeu mais de a gente se conhecer mais como pessoa mesmo, entender como cada um vê sua arte e qual imagem melhor traduzia as intenções do A.O.L. Minha primeira ideia foi ter uma pegada de terror Slasher mas acabou se misturando com referências de filme de máfia, que são a maior base para o futuro clipe.

O rap é uma temática constante nas suas ilustrações. Como o gênero te inspira diariamente e também na vida?

Hip hop é a influência mais importante da minha vida. Me deu ambição, me mostrou caminhos de crescimento, me ensinou inglês. Cada artista novo descoberto uma aula diferente sobre como vencer com arte saindo das piores situações. Tenho na parede do quarto uma foto do Kanye jovem com “Lock yourself in a room doing 5 beats a day for 3 summers” abaixo. Não é só entretenimento pra mim, não é só trabalho, as ilustrações que eu faço não são fan art. Vejo tudo como uma forma de contribuir um pouco pra uma cultura que tenho uma dívida eterna. Nenhum outro gênero está com tanta criatividade e fome.

Em 2018, sua ilustração estampou o single oficial da Copa do Mundo FIFA. Como foi atingir essa marca? De que forma as trocas estrangeiras influenciam seu trabalho?

Tem um abismo entre esses trabalhos e o que faço no mês a mês pra pagar as contas, bate uma dissociação braba às vezes. Desde o trampo pra FIFA já rolou muita coisa aleatória pra fechar as contas e às vezes me parece estagnação mas ao mesmo tempo quando paro pra pensar que 2 anos depois tô num livro do Emicida e fazendo capa pro Madlib já parece rápido demais. É importante ter paciência e ver cada movimento como uma parte do todo. E representar o lugar de onde vem sem se enxergar como um artista local: quanto mais longe meu trabalho vai mais orgulho sinto de me apresentar como brasileiro e maranhense.

Single oficial da Copa do Mundo FIFA 2018

Há planos do futuro que você possa compartilhar? 

Agora que abri um caminho desses que esperava há tanto tempo e onde meu trabalho se encaixa tão bem o foco é dar meu melhor nos próximos trampos e estreitar essa conexão Califórnia/Brasil. O clipe animado que está por vir é o projeto que mais me deu trabalho até hoje, então tô bem ansioso com isso também. No mais é continuar fazendo barulho até pegar atenção de outros artistas que quero trabalhar: Racionais, Don L, BK’, Yung Buda, Hot & Oreia, Black Alien. Lá fora MF Doom, Gucci Mane, Freddie Gibbs, os caras da Griselda. A lista é grande mas a essa altura não dá mais de achar impossível.

Por último, qual a sua dica para os ilustradores que estão iniciando essa caminhada?

A realização mais importante que tive nos últimos anos é ser sincero comigo sobre o que meu trabalho é e o que não é, isso me dá tranquilidade de saber que não preciso abraçar o mundo todo e que tem espaços que não são os ideais pro meu trabalho mesmo. Não tenho muitos seguidores nas redes, talvez eu não ganhe mimos da Wacom ou venda cursos online, mas uma boa parte de quem gosta dos artistas que eu mais gosto já viu meu trabalho em algum canto e reconhece a devoção depositada nele. Isso me gera oportunidades bem mais frutíferas.

Ouça o single Hatchet disponível em todas as plataformas

Redes Sociais
Instagram: @hislla / @asahn805  / @madlib / feats com feats de Dorn e @DJROMES1 (Lootpack)

Twitter: @hislla @asahn805 / @madlib / @DJROMES1

 

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