Depois do lançamento de Jovens à Frente do Tempo e Paz em Meio ao Caos em 2016, a Rapaziada da Zona Oeste (RZO), icônico grupo de rap de São Paulo, formado por Sandrão, Helião, Negoo Jam, Calado e DJ Cia, presenteou o hip-hop nacional no começo de junho com o álbum Quem tá no Jogo, quebrando um período de quase 15 anos sem um disco novo.
Quem tá no Jogo é composto por 19 faixas inéditas produzidas pelo Dj Cia e contém participações de artistas como Negra Li, Criolo, Rael, Bone Thugs-N-Harmony, Lino Krizz, Nino Cobra, Sombra, Bassinsane, Srta Paola, Junior Dread, Gaudy e Billy SP, além de três músicas em colaboração com os fãs, que puderam participar através de uma promoção.
Porém, está enganado quem pensou que os projetos em relação ao álbum terminaram. A fim de proporcionar ao público uma forma mais completa de entendimento, o RZO criou uma iniciativa storytelling, em parceria com a agência FLAGCX, que destrincha o disco em diferentes mecanismos. A principal ferramenta é o Instagram, onde conteúdos acerca das músicas e suas histórias são postados.
Para entender melhor esse projeto e o álbum em si, o Raplogia trocou uma ideia com o grupo. Confere só:
Raplogia: Como funciona o projeto e como surgiu a ideia de montar um storytelling sobre o álbum?
DJ Cia: A ideia surgiu da agência de publicidade FLAGCX, com quem já havíamos trabalhado na produção da música Neural, que foi uma nova experiência criada a partir de uma inteligência artificial, do RZO e da Família Sabotage, com co-autoria do Sabotage. O projeto tem a ideia de mostrar o nosso novo álbum de uma maneira inédita. Queremos contar as histórias das músicas através de fotos, micro vídeos e textos, tudo isso dirigido e feito com diversos diretores de cinema e videoclipes, e produtoras.
Raplogia: Como esses conteúdos impactarão na percepção/entendimento do público em relação ao álbum?
Helião: A página no Instagram é um complemento do álbum. Lá tem informações e imagens privilegiadas no sentido de produção, inspiração e direção do projeto. Agora estamos preparando o show que tem a mesma complexidade na produção e que vem para confirmar todo o trabalho com a parte teatral e com discursos adicionais.
Raplogia: O que vocês, integrantes do RZO, querem mostrar com esse projeto?
Helião: Queremos evidenciar que o sistema vem investindo pesado em nossa desunião. O jovem é a saída, mas tem que interagir da forma certa porque a situação é crítica. Vamos botar toda força nisso e trazer algumas coisas que se perderam no rap. O RZO tem um brilho que as pessoas gostam, é só fazer a coisa certa que o jovem vai assimilar. Sabemos a fórmula, deu certo no passado, vamos repetir a dose.
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Raplogia: Vocês definem a iniciativa como um experimento sobre o futuro do storytelling musical. De que forma ela atuará como um experimento não só pra quem curte rap, mas pra quem gosta de audiovisual e fotografia?
Sandrão: É um trabalho que foi muito bem estudado pra ser feito. Queremos passar tudo de uma forma diferente, e no Instagram todos podem seguir. Acho que é um bom exemplo e até um ensinamento, como o RZO vem fazendo a tanto tempo, tentando trazer novas ideias da música, juntando o presente com o passado e somando com as pessoas. É isso o que sempre fizemos, trazer para um contexto de família mesmo. É mais um outro passo do RZO que está sendo mostrado na internet, e que geral pode acompanhar.
Raplogia: Qual a importância da FLAGCX pro desenvolvimento do Quem tá no Jogo? O que agregaram para a ideia?
DJ Cia: A FLAGCX teve essa ideia depois de estarmos com o disco pronto. Eles montaram um time de peso para dar vida ao projeto. Em um dia intenso, filmamos e fotografamos tudo que seria necessário pro trabalho ser desenvolvido, contamos com a criatividade de diversos produtores e diretores envolvidos, e principalmente com o Roberto Martini, que é CEO da agência e teve a ideia do projeto. Eles criaram a história do álbum de um jeito bem bacana a partir dos nossos depoimentos.
Raplogia: Qual diferença vocês observam no público do rap dos anos 90 e o da atualidade?
Sandrão: Pra nós não tem diferença, porque as pessoas que gostavam do RAP continuam gostando, e outras estão gostando cada vez mais agora. Acredito que esse trabalho que todos os rappers fizeram nos anos 90 só expandiu ainda mais a coisa. Hoje temos uma grande estrutura em todas as áreas do mercado artístico relacionadas ao rap e ao hip-hop.
Raplogia: Como vocês veem a integração entre a velha e a nova escola do hip-hop nacional? Qual a importância de apresentarem esses novos artistas pro público mais velho?
Sandrão: É muito importante que essas pessoas tenham espaço, porque o rap sempre batalhou pra construir isso. Pra nós é essencial que as pessoas conheçam todos os trabalhos, pois a evolução tá aí. Tá nas músicas, nas técnicas, em todas essas coisas. Nós precisamos ter composições e músicas de qualidade pra apresentar, pra poder conquistar esse público também.
Raplogia: Vocês acham que esse storytelling vai unir ainda mais essas escolas de períodos tão diferentes?
Helião: RZO tem conceito com a nova e a velha escola, mas o rap é uma música atual e todos os dias você tem que estar provando sua capacidade.O foco agora é a gente. O show vem pra provar que estamos ativos e compromissados. Aí sim, vamos estar no jogo de vez. Será um bom momento pra somar com parcerias. Vai dar muito certo.
Raplogia: O que vocês consideram a maior evolução/diferença nas produções do rap atualmente? E o que acham que deve ser resgatado dos sons das antigas (em questão de mensagem, produção, etc)?
DJ Cia: Eu vejo sempre uma evolução, porque agora as coisas estão mais acessíveis, conseguimos tudo na internet, e ainda temos ajuda de músicos que hoje entendem mais o som do rap para poder somar com a gente. Antigamente até pra pesquisar era difícil, tinha que ir na 24 de Maio e comprar os discos ou fitas que chegavam aos poucos de fora. A questão das mensagens das músicas é muito pessoal, e sinceramente acho que tem público pra tudo. Vejo como uma grande vitória podermos ter sons que não dependem apenas de samplers, que você pode chamar um guitarrista, ou um tecladista legal e fazer algo mais orgânico.
Raplogia: Como tá sendo o feedback do álbum Quem tá no Jogo? Pra vocês, o RZO renovou sua imagem com esse trabalho?
Helião: É o melhor álbum do RZO. Mostra compromisso com o próximo, amadurecimento como compositores e músicos. O som antigo, e o contemporâneo continuam mostrando respeito pelas nossas raízes. A opinião de quem interessa foi muito positiva e estamos satisfeitos, seguros. Mas sabemos que trabalhos assim o sistema quer enterrar, e não vamos deixar. Esperar feedback diante da dificuldade de divulgação, que já sabíamos como grupo independente, é querer demais. O que resta agora é ir pra pista fazer o que fazemos de melhor e tirar essa diferença. Levantar uma moeda, fazer vídeos, fortalecer nossas redes de internet. Gostamos disso, sempre foi assim, vamos lá e tomamos o que queremos. As músicas antigas servem pra hoje, até mesmo porque nada mudou nos problemas da população, mas tentamos deixar tudo mais atual possível. Essas músicas novas vieram pra transformar nosso repertório, e consequentemente toda a imagem do RZO. Quem tá no Jogo veio pra marcar uma nova fase.
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Raplogia: Como este álbum em específico tem contribuído para o RZO, enquanto um grupo? Se sentem mais à vontade pra se arriscarem na música depois desse lançamento?
DJ Cia: Pra nós foi muito importante. Apesar de o grupo estar parado, tava todo mundo junto. Eu já vinha fazendo músicas com o Sandrão solo, e com o Helião também, então nosso relacionamento não teve esse afastamento, algumas músicas até entraram pro disco, como O Lado Negro da Força e Corrida. Mas vejo que o álbum mostra mais uma vez um amadurecimento de todos, e isso sim contribui pro geral e individual. Estamos nos arriscando. O RZO não tem a intenção de ficar no que é fácil ou garantido, estamos aqui pra evoluir e queremos estar na linha de frente pra revolucionar.
Acompanhe o storytelling de Quem tá no Jogo no Instagram: @rzo_quemtanojogo