O autor da célebre frase “O Mundo É Nosso” acaba de chegar ao Raplogia. Entrevistamos Essiele, um rapper da Zona Norte do Rio de Janeiro que conquistou seu espaço na dura cena do rap nacional. Abrindo seu próprio caminho nessa trajetória, Essiele fez seu nome através de seu talento. O Raplogia traz a vocês uma entrevista reveladora com o artista. Só conferir:
1. Salve, Essiele! Muita satisfação de te entrevistar aqui no blog. Vamos começar com uma pergunta que sempre fazemos aos nossos entrevistados: qual foi o seu primeiro contato com o Rap?
Salve, Raplogia! Satisfação é minha estar no blog! Agradessi! Vamos aí… Meu primeiro contato com o rap foi em 2006. Eu tinha lá meus 11 anos e já arriscava umas rimas na hora. Foi quando escutei Racionais MC’s e descobri que era possível fazer aquilo. Eu já conhecia MD2, mas era superficial pra mim, por que esse papo de maconha soava incômodo na época. Depois que me aprofundei em MD2 descobri quer era possível viver disso. Hoje eu vivo.
2. Alguns artistas costumam se espelhar em personalidades mais antigas na cena. Você toma o trabalho de alguém como exemplo para seguir sua caminhada? Há algum ídolo que você queira falar em específico?
Como disse anteriormente, MD2 e Racionais foram os primeiros a impactarem minha mente. Mas quase toda velha escola me influencia bastante, principalmente nos negócios (de sucesso). Os frustados não me interessam.
3. Um episódio muito curioso foi quando você começou a ser conhecido como Essiele, quando você foi para a diretoria por pichar sua escola. O que aconteceu exatamente e por que a escolha das letras “S.I.L”, que deram origem ao Essiele de hoje?
Hahahahah… Tempo bom! Na verdade, a origem do vulgo eu não tenho noção. Mas ‘ESSIELE’ foi criado por mim mesmo. Eu detestava as siglas. Mas é nome de ‘bandido’, ‘marginal’…sabe? Então possivelmente eu volte a ser amigo das ”letrinhas” rs
4. A cena de rap na Zona Norte do RJ é conhecida por suas rodas culturais. O contato com esses eventos influenciou na sua decisão de seguir o caminho da música?
Eu estava presente quando o Circuito Carioca de Ritmo e Poesia (CCRP) nasceu, na Lapa, através do carinho e amor pela cultura dos líderes Drope EJC e MV Hemp do CS22. Eu tinha meus 13 ou 14 anos e não me envolvi, mas vi o sonho nascer, crescer e se tornar o que é. Mas não me influenciou em nada. Segundo informações, esse tipo de evento acontece no Rio desde mil novecentos e lá vai fumaça… e a única coisa que se vê é fumaça. To interessado mesmo é no Hip Hop.
5. No underground do rap, a expressão “O Mundo É Nosso” já é associada ao seu trabalho, principalmente ao seu álbum “ESSIéONome”. De onde surgiu a inspiração para fazer esse bordão?
Não há muita influência underground nisso, mas essa afirmação surgiu no subúrbio da região metropolitana. Partiu do MD2. Ouvi ele dizer – naturalmente – em um show olhando pra mim, senti que era pra mim e adotei como legado. Hoje a frase é minha.
6. Você declarou há algum tempo que sua primeira mixtape – Dezessete Em Ponto (2012) – foi escrita em um dia. Isso pede a pergunta: como foi o processo criativo dos seus dois últimos álbuns, o “ESSIéONome” e o “AzulKrime”? Foi nesse mesmo ritmo ou você precisou de mais tempo, por serem trabalhos mais elaborados?
Devemos levar em consideração que eu tinha 17 anos de idade na minha primeira mixtape, eu era uma criança. Não sabia o que podia acontecer mas estava louco pra saber. A ambição já me acompanhava devido aos clipes gringos e também pelo que o hip hop brasileiro havia alcançado naquele momento (2012), eu estava realmente LOUCO. Não conseguia dormir, nem comer, nem transar, nem conversar com alguém que não quisesse falar sobre meu DISCO (e ainda nem tinha um), chamei meu amigo Romulo Motta, um colega me emprestou um comodo de casa, um amigo trouxe umas batidas e no dia seguinte minha comunidade me idolatrava. Talvez, os excessos tenham mexido comigo. Excesso de vontade, maconha, bebida, amizade… e por fim, sucesso! Sucesso enlouquece de verdade. Eu ganhei muita coisa e não sabia o que fazer com o que ganhava. Até as cartas de fãs ficaram perdidas na quantidade de retorno positivo. Eu surtei. Fiquei quieto no meu canto assistindo outros irmãos de profissão elevarem o nível do jogo e esperando eles me alcançarem. Dois anos depois, ESSI veio ao mundo e foi o álbum de estréia. Juntei minhas rimas e fiz, demorou quase 1 ano pra escrever tudo. O pessoal só vai entender daqui à 4 anos a proposta desse álbum, mas eu precisava me antecipar e lançar algo grandioso com meu nome. Azulkrime foi pra ”azulkrimar” mesmo, mas boa parte dos sons já existiam meses antes do lançamento. Mas pra mim, ainda sim, esse EP é uma brincadeira.
7. O improviso também é muito presente na sua vida de artista, seja batalhando ou no freestyle. Como é relação com a atividade?
O TEMPO TODO hahahahaha, sou chato com isso. Gosto muito de escrever mas eu acho que falar não é legal. Então quando tenho que falar – abrir a boca – eu vou lá e rimo. Parece estranho mas acho que vivo assim tem bastante tempo.
8. É sabido que você tem conhecimento em produção – dadas as faixas que você mesmo produziu no seu último trabalho “AzulKrime”. Você aprendeu o que sabe sozinho ou teve ajuda de algum tipo?
Sou um observador de olhos cheios. Nada passa batido diante dos meus olhos. Nem uma formiguinha procurando alimento. Visitei e conheci muitos produtores, estúdios, músicos, MC’s, rappers… Não gosto de me misturar com ninguém, mas gosto de aprender com todos que passam pela minha vida. Se você não pode me mostrar algo novo, eu não vou ficar do seu lado. Então, acredito que o pouco que ouvi de nomes renomados como Damien, Marechal, Mr Break, etc, foi o suficiente pra eu criar coragem e barulhar a mpc.
9. Sabemos que, além do rap, você também tem ligação com outro elemento do Hip-hop: o graffiti. Como é sua relação com a arte?
Tenho ligação com todas as manifestações elementares do Hip Hop. Eu dançava break na escola ainda no ensino fundamental e era conhecido como ”DJ Quebra-Galho” nas festas de bairro, além de Mestre de Cerimônia. O desenho sempre esteve presente na minha jornada. Eu sonhava em ser arquiteto quando era mais novo, cheguei a ter material pra seguir em frente ainda na segunda infância mas preferi as cores vivas e a parede. Porém, sem sombra de dúvidas, meu elemento preferido é o Conhecimento. Me instruí no caminho da estratégia estudando com afinco e sendo fielmente adepto ao Bushido, acredito que isso me fez ser quem eu sou no mundo dos negócios e na música, assim como no Hip Hop.
10. Para fechar: são títulos conquistados em batalhas, dois álbuns de estúdio, uma mixtape, um nome conhecido e respeitado no underground do rap. Essiele quer mais?
Essiele quer mudar o mundo.
11. Acabamos por aqui, Essiele. Deixo esse espaço à sua vontade. Se quiser dar algum recado para os fãs ou dar um salve especial a alguém, pode falar agora. O Raplogia estará sempre de portas abertas para você. Um grande abraço!
Primeiro um grande beijo pra minha Mamãe maravilhosa e meu Papai guerreiro, e pro meu mano Romulo Motta, também pro Finha Tatto e toda família de São Caetano – SP e minha família DNG conhecida como Grife D’Negro de Madureira aqui no Rio. Também meus manos da Contexto 13 de SP que me apoiam e meus amigos da RAW e RCM Content de Distribuição digital que faz um trabalho excepcional. Sem esquecer de deixar um abraço com muito carinho e respeito pra cada Fã, amigo e pra equipe Raplogia que me proporcionou essa entrevista tão bacana! Aqui vai minha mensagem pra todos: O MUNDO SEGUE NOSSO! Agradessi!