Lurdez da Luz se criou no centro de São Paulo e em meados da década de 90 foi se envolvendo com a cultura Hip-Hop. Começou tocando instrumentos, até que despertou em si a vontade de escrever, depois disso não parou mais. Desde a época do Mamelo Sound System, Lurdez já demonstrava uma preocupação especial em relação à composição, e com o passar do tempo manteve seu empenho para com suas letras, uma característica de extrema importância para qualquer artista musical. O RAPLOGIA traz para vocês leitores a entrevista que fizemos com a rapper/cantora Lurdez da Luz, uma bela troca de ideias sobre influências musicais, rap, literatura, cinema e muito mais!
- Lurdez, gostaríamos de saber quem são suas influências no universo musical?
Lurdez: São diversas, mas tem uma coisa em mim que é num ter identificação total com nenhum artista, tipo: sou como ela, sôo como ela, meu som parece muito o dele… Isso é bom, mas também às vezes te deixa meio “sozinha” sem “prateleira” certa… Quando comecei a escrever letras, meu grupo tinha uma referência em rap oldschool, Beastie Boys era o principal, mas eu pessoalmente apesar de gostar muito num queria ser como nada que existisse.
Eu posso citar o que eu amo ouvir e ouviria todo dia pro resto da vida e se tivesse só isso no mundo dava pra sobreviver com Jorge Ben, George Clinton e Bob Marley… Acho que cantoras também são muito importantes na minha formação que é onde vc se identifica por ser mulher e se fortalece como a Baby Consuelo, Gal Costa, Maria Bethânia, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus, Joyce, Alcione… 3 mc’s foram fundamentais pra eu começar a me expressar com rap, What What (Jean Grey), Bahamadia e Lauryn Hill.
- Já faz mais de 10 anos que você está no rap, quais são as maiores alegrias e dificuldades encontradas ao longo de sua caminhada?
Lurdez: A maior é estar ai né, fazem na real 12 anos… E eu estou ai e vivo disso, e tenho respeito de quem de fato me interessa. Mas eu sei muito sobre outros meios musicais, eu toco pra pessoas que não são tão ligadas ao rap antes mesmo desse “BUM” de público e mídia que rolou mais recentemente, sempre quis isso porque faz parte da minha formação a cultura de rua como um todo e não só o rap nacional … De festival de rock a festa de dancehall…
Dificuldades são várias, a falta de profissionais na parte de empresariamento e produção, não só no rap, no meio da música independente é foda, o acúmulo de funções… Acho que não só eu, mas muita gente com uma expressão mais autêntica e questionadora, que num cabe nos pacotes da indústria e que num tem um discurso pronto e direcionado pra público x ou y se ferra um pouco… E o machismo também é algo devastador.
- Você tem como um dos objetivos montar seu próprio selo, como anda a batalha pra concretizar esse sonho? Já têm em mente alguns artistas musicais que gostaria de trazer para seu selo?
Lurdez: Tenho sim! Mas na real a ideia do Heroína e Vilã seria uma parceria com um selo gringo e ainda nada de concreto se deu… Primeiro seria os meus dois discos um relançamento… Se eu tivesse capital eu faria uma proposta pra Barbara Sweet, Rocha Miranda e Fall Clássico.
- No ‘Gana pelo Bang’, o Grijó e o Leo Justi trabalharam nos beats, já que a química entre vocês rolou bem, podemos esperar essa parceria em seu próximo projeto?
Lurdez: Não, num penso nisso não, mas foi muito classe pra descobrir um caminho… To feliz com o resultado do Gana Pelo Bang, um universo se abriu, tipo uma trilha que quero ir mais fundo que é produção eletrônica e que façam as pessoas dançarem, mais balanço, mais barulho, mais peso e letras mais diretas (ou não rs) mas enfim, já tem algumas pessoas que estou trocando ideia pra novos singles.
5. A versatilidade é certamente uma de suas habilidades, tem algum tema específico que você ainda não trabalhou em sua música e pretende abordar?
Lurdez: Sim… Sou versátil por gostar de muita coisa, ter a mente aberta sem preconceito… Mesmo não sabendo música de fato eu consigo aplicar minha expressão e somar nos projetos que sou convidada. Falta muito o que falar sim… Num penso em tema, mas emoções e forma de escrever sobre o que eu vivencio… To sempre aprendendo e mudando.
- Quais são os seus mc’s favoritos aqui no Brasil e lá na gringa?
Lurdez: No Brasil, é Mano Brown, Xis, Branco, Black Alien, Flora Matos, Mc Cidinho, Felipe Boladão… Na gringa nem sei por onde começar… Tupac (sei por onde começar rs) Notorious, Busta, Nas, Mos Def, Kendrick Lamar, Damian Marley, Shinehead, Buju Banton, Cutty Ranks, Yellowman, Ms. Dynamite, M.I.A(mesmo num sendo exatamente mc) Missy Elliott… Eu amo Outkast , Onyx, Cypress Hill, Fugges, A Tribe Called Quest, Digable Planets, Born Jamericans… A energia de grupo era o que eu mais gostava. Tem muitas cantoras de black music que eu amo também.
- Como aqui no blog todos são apaixonados também por literatura e cinema, gostaríamos de saber se você nos revelaria alguns de seus livros e filmes favoritos?
Lurdez: Eu li muita biografia nesses últimos tempos, a do James Brown, por exemplo, do RJ Smith, a autobiografia da Pati Smith… Li também Abusado que já saiu a uma cota, mas peguei ano passado pra ler que num deixa de ser uma biografia do Marcinho VP… Eu gosto muito do John Fante, Charles Bukowisk, Henry Miller, Plínio Marcos, João Antônio… Sempre a marginalidade, a malandragem, a boemia… Isso que me atraia e atrai ainda na arte… Dois livros que me marcaram muito foi ‘Abutre’ do Gil Scott- Heron e ‘Da próxima vez fogo’ do James Baldwin.
Um universo se abriu também com produção de poesia e literatura periférica (ou independente ou marginal ou gosto dos 3 nomes e eles não tem necessariamente o mesmo significado, mas digo a produção atual que nasce nos saraus principalmente) Ni Brisant, Akins Kinte, Tubarão Santos, Raquel Almeida, Alan da Rosa, Debora Garcia, Victor Rodrigues, Julio Ludemir, Délcio Teobaldo, Alessandro Buzo… Quero sempre acompanhar.
Cinema num manjo, gosto claro, e cito Tarantino, Spike Lee, Rogério Sganzerla, Karim Aïnouz e Stanley Kubrick.
- Lurdez, agradecemos pela entrevista concedida ao Raplogia. Você gostaria de deixar um recado final aos fãs de rap?
Lurdez: Muito Obrigada pelo espaço. Gratidão a todos que leram até aqui, minha intenção é agregar novos pontos de vista e somar pra evolução da cultura como um todo. Gratidão também a quem torce o nariz pro meu trampo… Impossível agradar a todos… Complexibilidade caminha com a arte… E num é só que eu sou do centro, eu sou da Luz!
Obrigada!