A Rapaziada da Zona Oeste, conhecida como RZO, vem há vinte anos como um dos principais grupos do Rap nacional. Nem o fato de que desde 2003 o grupo não tem um trabalho novo, tira esse título do coletivo formado por Helião, Sandrão, DJ Cia, Negra Li, e Calado
Uma das notícias mais comentadas nos últimos anos dentro do circuito nacional foi a reunião do grupo, que em 2015 ficou mais ainda em evidência, com shows atrás de shows e, a promessa do relançamento do clássico Evolução É Uma Coisa com algumas músicas inéditas e de um disco novo. O caminho trilhado pelos membros durante o hiato não rompeu os laços dos caras e 2016 promete ser o ano do RZO.
No final do ano passado, o Raplogia enviou repórteres de campo extremamente bem treinados para cobrir o Festival Batuque 2015. A missão era cobrir o show que teria como principal atração o norte-americano Joey Bada$$ em dois dias do festival. Como nossa equipe apenas pode estar em um dos dias do Batuque, levamos a grande sorte de termos naquela noite de Sábado um showzaço com o RZO. Nos bastidores, horas antes do festival, quase agendamos uma entrevista com o grupo, que não foi possível graças a apertada chegada da trupe no local. Sem pânico, pois horas depois do fim do Sábado fomos agraciados com a notícia que eles iriam falar com a gente por e-mail.
A entrevista que trazemos hoje foi organizada uma semana após o Festival Batuque, é por isso que, algumas perguntas estão datadas de acontecimentos referentes à época. Sem mais delongas, é hora de ouvir o que o RZO tem para dizer:
Vocês tocaram no Festival Batuque 2015, no último dia 12 de Dezembro. Como foi a recepção do público? E em relação à atração principal do festival, vocês já conheciam o trabalho do Joey Bada$$?
DJ CIA – Pô foi muito loko, porque já gostamos do Festival, que sempre leva uns artistas da hora, Erykah Badu, De La Soul, vários cantores que eu curto. Esse ano o Joey também foi uma surpresa boa, porque é um rapper novo que tem um estilo underground que a gente gosta pra caramba. Então estar ali com o RZO foi muito bom, o público cantou todas as músicas, ainda não tínhamos feito show em Santo Andre, então foi muito legal. Ficamos bem felizes.
NEGRA LI – A recepção do público foi incrível, várias gerações reunidas cantando os sucessos do RZO!! Em relação ao Joey Bada$$, foi uma ótima escolha, pois representa muito bem a nova escola do Rap underground. Eu particularmente gosto bastante.
SANDRÃO – Foi muito bom esse show, a região necessitava muito de uma festa assim. O Joe realmente vem representando muito bem a cena, a molecada adora o trabalho dele na internet, e realmente foi muito bom tudo isso. Mesmo porque também conversei com ele e seu pessoal, manos bem humildes e representaram muito bem ali conosco.
Além dele, existe algum outro artista da cena atual lá de fora que vem chamando a atenção?
DJ CIA – Putz, aí tem vários que eu gosto, Kendrick Lamar, August Alsina, Jhene Aiko, o disco novo do The Game tá muito bom, e por ai vai…Tem muita coisa boa, é só saber ouvir e procurar.
NEGRA LI – Sim. Gosto muito do Kendrick Lamar, Dej Loaf, e de alguns que cantam Trap.
SANDRÃO – Tem uma grande gama de cantores novos além dele, acho legal o trabalho de vários, como o Killa Priest, novo e simplesmente sensacional, pela composição de suas músicas estarem trazendo um conhecimento mais didático, que é a inteligência necessária para o momento.
Desde o Evolução É Uma Coisa ouvimos o grupo falar sobre a próxima geração da cultura. Hoje nós observamos todo o grupo fechar com artistas como o grupo Haikaiss, entre outros. Como é a relação do RZO com essa nova escola do Rap nacional?
SANDRÃO – As coisas estão progredindo, e quanto mais pessoas fizerem rap, vai fazendo com que se divulgue mais o ritmo, a música sempre abrirá o caminho, e os de qualidade vão se destacar no momento propício, quando as pessoas optarem por um bom som.
DJ CIA – O pessoal novo sempre veio com muita vontade, é isso que sempre vejo nessa galera, como do Haikaiss, Cone Crew, e vários outros. Eles se organizam, eles sabem que podem contar com a internet pra fazer todo o trabalho de
divulgação e tudo mais, e sabem usar isso. Não vejo porque não somar e até aprender alguma coisa com esse pessoal. O importante é divulgar e rap, e com certeza eles tem feito isso. Muitos fãs do RZO hoje, foram pesquisar as músicas porque viu essa nova geração falando que se inspirou, então é importante sim saber valorizar.
E se falamos da nova escola do rap nacional, existe também um novo público para lidar. O público que frequenta os shows do RZO hoje é bem jovem, a maioria nem acompanhou o auge do grupo no início dos anos 2000. Como está sendo a recepção da volta do RZO com o público atual?
SANDRÃO – Muito boa essa relação com os jovens e tudo progride, porque trabalhamos muito pra isso. As pessoas veem que RZO sempre trouxe os artistas novos para os palcos, então tudo continua com sempre foi, somando com eles, coisa que eles se espelham na verdade é isso, essa união.
NEGRA LI – Fico surpresa em ver a reação do público mais jovem, cantando músicas que falam muitas vezes de uma realidade diferente da que eles vivem! Muito se deve também aos fãs antigos que fizeram questão de manter vivo o trabalho do RZO, passando de pai pra filho, de tio pra sobrinho etc…
Recentemente o Racionais MC’s, um dos maiores senão o maior grupo de rap nacional brasileiro, lançou um disco muito diferente dos trabalhos anteriores, o que causou um mal estar entre os fãs. Existe um pé atrás na hora de inovar quando já se tem uma base de fãs consolidada como a do RZO?
SANDRÃO – O RZO sempre foi o grupo da inovação. Lançamos em 2010 um dirty south/trap rap igual aos que os grupos fazem hoje, ha simplesmente 6 anos atrás, e estourou em todas as baladas (“…você já sabe, quem ta na reta…”) É até engraçado, mas a gente fica muito feliz em fazer isso, coisas que a gente gosta, trabalhar com o futuro da música, sem dúvida sempre é hora de inovar!
DJ CIA – Acho que o pé atrás temos que ter no sentido de não mudar a ideologia do grupo, isso nunca vai acontecer com o RZO. Sou até suspeito pra falar porque participei da produção do disco Cores e Valores, mas as batidas e alguns elementos, é natural que mudem, estamos fazendo tudo com muito cuidado, porque queremos um trabalho legal pro nosso público que tanto esperou.
O grupo vem de uma escola com muito engajamento em questões sociais, principalmente envolvendo as áreas mais pobres de São Paulo. Mesmo cenário onde recentemente ocorreram as ocupações de alunos em escolas públicas em represália a decisões do governo Alckmin. Como vocês veem essa iniciativa popular, principalmente vindo de pessoas tão jovens?
SANDRÃO – Precisamos muito de estudo em geral, tanto no Brasil como no mundo, o controle está sempre na mão de quem sabe mais coisa que as pessoas, não descobrem porque vivem no comodismo. Certamente os jovens lutam muito para o estudo, como hoje nas escolas e em muitas vezes a informação é escondida, os dominadores fazem como no passado, queimam as informações, como também os que sabem demais, em suas fogueiras de domínio.
NEGRA LI – É inspirador poder ver os jovens se organizando em busca de mudanças na nossa sociedade. Me enche de orgulho e esperança!
Na visão da nossa equipe que esteve no show, um dos maiores momentos da noite foi a homenagem ao Sabotage. Na ocasião a enorme responsabilidade de interpretar os versos do Sabota foi da Negra Li. Em um momento onde o debate sobre igualdade de gêneros está tão em foco é legal ver como todos dentro do grupo tem seu momento de destaque. Como vocês se sentem sobre esse assunto? Ainda falta mais participação feminina no rap?
NEGRA LI – O RZO sempre apoiou “a voz feminina” no movimento hip-hop, hoje temos várias mulheres se destacando e muitas outras jovens buscando seu espaço em um meio antes dominado por homens ,acredito que num futuro próximo a diferença diminuirá ainda mais!
SANDRÃO – Foi muito bom esse momento, com certeza. Sabotage é do RZO. Lembramos como se fosse hoje, quando ele entregou esse refrão, que ainda não estava nem pronto, e ai aplicamos a composição da música em nossa equipe. Estava bem diferente, mas já gostamos da ideia. E ver esse som especialmente, que abriu os caminhos dele, na voz da Negra Li também, além de ser emocionante, certamente é uma inspiração para as mulheres, porque o espaço do rap sempre esteve aberto para as mulheres também.
Em Maio, vocês trabalharam com os caras do Bone Thugs-n-Harmony, que estiveram no país fazendo shows. O que podemos esperar desse trabalho que une dois grandes grupos?
SANDRÃO – Estamos na reta final desse trabalho, a música está gravada. Tivemos a satisfação de ter o diretor Paulo Caruzzo (O2 Filmes) e sua equipe para o clipe, em uma periferia verdadeira, a nossa quebrada. A produção pesada também do DJ Cia, esperamos poder agradar todos os curtidores.
DJ CIA – Com certeza gostaríamos de ter tido mais tempo com o Bone, até pra desenvolver a música, mas estamos fazendo tudo com muita paciência, porque sabemos a importância do nome deles e do nosso. Mas em breve será lançado e todos poderão dizer o que acharam!
E indo direto ao ponto: o que podemos esperar do RZO para o ano de 2016?
SANDRÃO – Esperamos poder agradar às pessoas, trabalhamos sempre com o coração, e pra nós sempre será mais importante fortalecer os laços de amizades e com certeza, ser mais um grão de soma pra o movimento do rap.
DJ CIA – Com certeza podem esperar o disco novo! Hahahah Está demorando mas vai sair com muita coisa bacana, torcemos pra lançar o DVD também, mas o disco é a nossa meta, temos trabalhado todos os dias nisso. Obrigado a todos pela espera e torcida! O RZO está mais forte do que nunca!!