Fala aí seus fã de Fetty Wap.
O Raplogia foi conferir um dos dias de um dos festivais mais bacanas do ano envolvendo o rap. Era uma win-win situation. Quem confirmou presença na 6ª Edição do Festival Batuque, realizado anualmente pelo SESC Santo André, sabia que tinha em mãos a fórmula perfeita para uma noite de completa satisfação e homenagem à cultura hip hop. O evento que já trouxe para o Brasil nomes como Q-Tip e Erykah Badu parecia ter a receita completa: Banda ao vivo? Confere. Grupo clássico do cenário nacional? Confere. Artista da nova geração de fama internacional? Confere também. O leque de estilos a serem apresentadores era grande e não havia quem não se sentisse representado na multidão que esteve presente.
Com os portões abertos ao público, essa diversidade de estilos ficou mais evidente ainda. Era curioso e em alguns momentos até engraçado comparar os estilos que iam desde o fã mais “gangsta” de camisa larga e cara de mau até o hype beast que mais parecia a personificação de um tumblr de moda urbana. DJ Tamenpi, o grande responsável pelo “esquenta” antes de cada apresentação, foi tradicional em sua playlist, mesclou a nata da Era de Ouro nos anos 90 de Pac, Biggie e Racionais com sons em evidência recentemente como os de Kendrick Lamar e Ogi, por exemplo. A galera que frequenta eventos de rap com certeza já tem sua cartelinha de bingo esperando tocar “Jaçanã Picadilha”, “Big Poppa” ou “California Love”.
O responsável pela posição de mestre de cerimônias do evento era Max B.O., apresentador do programa Manos e Minas da TV Cultura, que veio ao palco para anunciar os primeiros a se apresentarem na noite de sábado. Foram os rapazes da Beatwise Recordings, o grupo originalmente composto por oito integrantes foi representado por CESRV, Sants e Soul One. Com uma vibe voltada pro trap mas sem se esquecer de referências nacionais os caras apresentaram grande parte do trabalho que é divulgado com frequencia no site do coletivo. Ainda teve espaço para um freestyle de Max ao final do set.
Depois foi a vez da banda Mental Abstrato se apresentar, pessoalmente, confesso que o principal sentimento em relação aos caras era de curiosidade. Quando a participação de Rincon Sapiência, além de Costa Alves, foi anunciada me senti mais em casa. Mas nem foi preciso de elementos externos pra fazer com que a performance agradasse, com instrumentos que representavam bem a brasilidade do som o que se ouviu foi um jazz mega agradável e que casou perfeitamente com os rappers convidados, é um som parecido com o que o BADBADNOTGOOD faz. Destaque pra ótima versão de “Caminho do Bem” do mestre Tim Maia.
A expectativa para o show seguinte começou bem antes dos responsáveis por ele aparecerem. Quando uma bandeira enorme que exibia a sigla RZO foi pendurada no fundo do palco, o clima totalmente caracterizado de anos 90 que viria a seguir foi plantado com sucesso no subconsciente do público.
Durante muito tempo foi sentida a falta da Rapaziada da Zona Oeste no circuito do rap nacional, o grupo que se separou em 2004, apenas um ano depois do lançamento de seu maior trabalho “Evolução é uma Coisa”, se reuniu novamente em 2014 com a formação clássica que rendeu seus maiores sucessos. Com Helião, Sandrão, Calado, Negra Li e DJ Cia em sintonia impecável, parecia que esses 10 anos não haviam se passado.
O setlist foi impecável. Se o Festival tem uma receita certeira, o mesmo pode se dizer do RZO, teve mais fan service do que os filmes do Evangelion e isso é LINDO. “Bala Perdida” e “O Trem” vieram logo de cara e durante esse período não teve uma pessoa ali na parte mais próxima ao palco que não cantou junto. As letras politizadas do grupo eram sempre reforçadas com o discurso forte de seus integrantes, Sandrão tomou alguns minutos para falar da importância do engajamento dos rappers da nova geração contra a discriminação da cultura hip hop em alguns setores.
O auge da performance foi quando todas as luzes se apagaram e o lendário Sabotage apareceu para delírio de todos os presentes, ou pelo menos quase isso.
O homem caracterizado de Sabota no palco, que não devia nada ao holograma do Pac diga-se de passagem, foi um sinal para a homenagem que viria a seguir. Negra Li foi quem assumiu a responsabilidade de entoar “Respeito é Pra Quem Tem” e “Rap é Compromisso”, verdadeiros hinos compostos pelo Maestro do Canão. Com um catálogo vasto de músicas clássicas não foi díficil manter a vibe até o final e com “Pirituba Pt. II” seguida de “Paz Interior” a apresentação foi encerrada, com direito a Sandrão indo pra galera.
Finalmente chegava o grande momento da noite, Jo-Vaughn criou muita expectativa, seu estilo clássico foi elogiado por Helião ao final da apresentação do RZO, isso foi confirmado, era apenas ele e o DJ no palco, não precisava de mais nada e pra falar do show do Joey Bada$$ eu preciso avisar que vai ser uma análise completamente imparcial e passional. Desde o momento em que Statik Selektah (EU NEM SABIA QUE ELE VINHA TAMBÉM) assumiu as pick-ups e botou alguma música do Action Bronson, que eu já não me lembro o nome agora, pra tocar, meu campo de visão se fechou no palco como se eu fosse o filho do Laurence Fishburne naquele filme que ele anda de moto e nada mais me chamava a atenção naquele instante, nem mesmo as dezenas de pessoas que tiveram os pés pisoteados por mim enquanto pulava de um lado pro outro.
Começou com o instrumental de Greenbax, que a exemplo do último álbum do rapaz foi seguido de Paper Trail$ (que podia ter sido Unorthodox, né? SPOILER ALERT: Ele não tocou essa.) o que me deixou meio tímido. Timidez que foi expurgada na sequência, quando Big Dusty, primeiro single do B4.Da.$$, explodiu no ótimo sistema de som preparado pela organização.
Joey foi generoso, ao contrário do que vinha mostrando nas turnês dos EUA, o setlist do Festival Batuque contou com muitas músicas do seu primeiro trabalho, a mixtape 1999. Tracks como World Domination e Waves fizeram parte da apresentação e relembraram os primeiros lampejos na ascenção do rapper. O público já estava na mão de Joey quando Like Me, No 99 e a INCRÍVEL (MAIS FODA AINDA AO VIVO) Christ Conscious sacramentaram a energia entre fãs e artista.
Um dos momentos mais tocantes da noite foi a homenagem à Capital Steez, integrante do coletivo PRO Era e amigo de infância de Joey, que se suicidou na noite de natal em 2012. A música #LongLiveSteelo e On & On foram tocadas, as duas feitas em homenagem a Steez, a segunda inclusive que não chegou ao final após duas tentativas, Joey se desculpou alegando estar muito emocionado e arrancou aplauso de todos os presentes.
O tributo não parou por aí, ainda teve tempo pra Survival Tactics, provavelmente o melhor verso de Steelo, e rolou até um crowd surfing discreto que foi interrompido pelos seguranças do rapper. Vacilo pô.
Ao fim os fãs não satisfeitos intimaram Joey para um bis, e com “Teach Me” e várias garotas no palco, o jovem do Brooklyn encerrou com chave de ouro.
Agradecimentos especiais ao SESC Santo André que concedeu credenciais de imprensa ao Raplogia. WE DID IT!
E também ao amigo Felipe Mascari que concedeu as fotos do evento. Você pode conferir mais do trabalho dele através do Flickr, ou do canal RAP TV no YouTube e no Facebook.