Quando Mac Miller apareceu, em meados de 2009, era notável o seu estilo mais descompromissado com assuntos mais sérios e de menos profundidade. Ele era um garoto de dezoito anos com talento nas rimas, mas o lírico era normal, e quando digo normal, me refiro ao fato dele trazer problemas do dia a dia para as suas letras e rimar na perspectiva de um adolescente em que o público poderia facilmente se espelhar e assemelhar. Era o típico regular guy. Blue Slide Park, o seu primeiro disco, lançado em 2011, era um tanto experimental para ele nesse quesito. Mac Miller começava a deixar suas rimas mais sérias, mostrando um amadurecimento passou por outro disco (Watching Movies With The Sound Off) que chegou ao ápice em seu novo projeto GO:OD AM, o terceiro em geral mas o primeiro por um grande selo (Warner Bros.).
Em 2011, nos anos finais do Orkut, esse que vos escreve tinha uma comunidade do artista na rede social. Às vezes me questiono se o público que frequentava o fórum ainda segue Miller. Eu continuo segui-lo, apesar de rumos anteriormente tomados pelo mesmo. O rapper é um dos artistas mais criativos do cenário atual, goste de sua música ou não. E GO:OD AM é o reflexo de um artista que cresceu e muito nos últimos tempos.
O disco nos traz em boa parte Mac Miller refletindo sobre sua vida, além de antigas e futuras escolhas. Mesmo com vinte e três anos, o rapper tem uma bagagem incrível, trabalhando com inúmeros artistas do gênero e montando projetos fora do âmbito de musicalidade de um rapper comum. Miller já teve até disco de jazz. A principal temática do projeto é a do rapper sem drogas e saindo de um caso de depressão, o que torna o disco bem maduro e pé no chão. É mais fácil se identificar com os problemas do rapper nesse disco, assim como era no início da sua carreira. Essa questão de identificação é algo que passa em branco no segundo disco. É uma espécie de renascimento de Malcolm McCormick.
Em Brand Name, segunda faixa do disco, o rapper deixa clara a sua filosofia de trabalho e maturidade. A faixa traça o cenário que o disco irá explorar. Nela, nota-se a evolução lírica e técnica de Mac Miller. “PA’s baby, I ain’t been to PA lately/See, I left, they call me shady/I’m a white rapper, they always call me shady,” rima o rapper sobre comparações com Eminem, mas com um wordplay bastante versátil – assim como o rapper de Detroit. Em Rush Hour e Two Matches podemos ouvir batidas mais despojadas, fugindo de um assunto mais sério. As letras seguem esse divertido bragadoccio sobre a vida dos rappers (Ab-Soul participa de Two Matches). 100 Grandkids é a minha música favorita do projeto. Nela o rapper filosofa sobre a questão de dar netos para a sua mãe e ter um legado dentro do Rap. Existe diversas referências à ad-libs de P.Diddy dentro dela, todas se encaixando ao tema. Na segunda parte dessa música, 100 Grand, ele discute artistas corrompendo ideias por grana. Podemos traçar um paralelo com a sua música, que não mudou mesmo quando ele assinou um contrato milionário com a Warner.
É bem curiosa e animadora a profundidade de Mac Miller nesse projeto. Existe diversas duras filosofias sobre a vida no projeto, como em Time Flies com Lil’ B, onde os artistas falam sobre a passagem rápida do tempo em nossas vidas. A profundidade passa também por coisas simples, como um bom final de semana igual ao da faixa Weekend com Miguel, ou sua adolescência fazendo Rap como Easy Mac, citado no início de In The Bag. Break The Law é uma faixa que vai contra tudo o que é politicamente correto, mas não se destaca por muita coisa além do flow usado pelo rapper. Perfect Circle / God Speed começa com um sentimento muito saudosista, e traz como assunto principal as tentações ao redor de um artista. Quando fecha o disco, Mac acerta e comete erros. Traps como When In Rome não chamam muito a atenção e se mostram mais como desperdício. A atmosfera do trap porém, se mostra muito boa em Cut the Check com Chief Keef. Jump é outra que gostei bastante, mistura muito boa entre o Rap e um R&B moderno.
A produção do projeto é uma mistura de artistas muito interessante. ID Labs, Sha Money XL, Frank Dukes, Sounwave, Vinylz e até Thundercat são alguns dos produtores envolvidos no projeto. O destaque maior é de ID Labs, que tem uma maior quantidade de participações no disco. Trap, R&B, hip hop old school, eletrônica, o disco tem vastas inspirações e se torna bem consistente com toda esse mix.
O resultado final é um saldo extremamente positivo, afinal, se trata do melhor disco da carreira de Miller. O que faltou em Blue Slide Park e Watching Movies with the Sound Off, tem em GO:OD AM. Para os que gostam do Mac Miller em início de carreira, digo: jamais o teremos de volta, é uma questão de evolução. Os mesmos assuntos não parecem interessa-lo mais. Para nós ouvintes, isso deveria ser um ponto para ser comemorado, afinal, nada melhor do que ver um artista que gostamos crescer assim como Miller cresceu nesse projeto. Parece com os dois anos e meio em cima dele valeram a pena.