O grupo de rap carioca Cacife Clandestino lançou, na semana passada, seu segundo álbum de estúdio, chamado Conteúdo Explícito (2016). Depois do sucesso do primeiro trabalho Sonho de Rua (2013), Felp 22 e Terrordosbeats não decepcionaram os fãs e fizeram, ao que o tema propõe, um belo disco. Na introdução, já é possível perceber a mensagem: o crime não compensa e o rap salva muitas vidas. E o próprio Felp confirma isso no perfil oficial do grupo nas redes sociais. “Eu não me considero um rapper que pode salvar a sua vida, mas sim alguém que pode ter uma história de exemplo para você não fazer igual.”
Um ponto forte do álbum é mais uma vez a infalível produção de Terrordosbeats, que vem se mantendo ao longo da carreira como um dos melhores beatmakers e produtores do Brasil. Com 15 faixas, o CD tem parcerias com rappers de peso na cena carioca, como Rany Money e Cert, da Cone Crew, e Chino, do Oriente. Além da presença de Luccas Carlos, sempre com refrãos incríveis. Destaque para as músicas “Joias e Armas”, “Conteúdo Explícito”, “Só Vitória”, “Hino” e “Eu e Você Contra o Mundo”, está junto com a banda Reis do Nada, natural de Santa Catarina.
Se entendermos o álbum como um trabalho que se propõe a falar apenas de droga, crime, mulher e vida bandida, temos um conjunto muito bom de faixas que sem dúvida faz uma marca no rap do Rio de Janeiro. É necessário, contudo, ponderar até que ponto vale a pena fazer vista grossa para a pouca variedade de assuntos. Ouvintes inclinados a um rap mais consciente e restrito às críticas sociais e profundidade poética — os chamados “puristas do hip-hop” — vão passar longe desse álbum, por mais que ele tenha seus raros momentos de profundidade reflexiva (por exemplo, faixas como “Entre o Rap e o Crime” e “Hino” podem agradar os que se identificam com esse grupo). Ouvintes menos ligados às raízes do hip-hop — ou apenas um pouco mais tolerantes que os puristas —, por sua vez, verão em Conteúdo Explícito um bom reservatório de faixas que conseguem entreter por musicalidade e autenticidade.
Conteúdo Explícito, apesar de não ser um trabalho brilhante, representa uma fase de amadurecimento do rap — principalmente o carioca — como música comercial. É a aproximação do gênero aos rádios e ao espaço mainstream da indústria musical brasileira. Para quem quer a real popularização e divulgação máxima do “pesadelo do pop”, isso é excelente. Para quem não quer, o trabalho pode ser só mais um álbum para não se escutar. O Cacife Clandestino mostrou uma nítida evolução em relação ao trabalho anterior.