Grandiosidade é sinônimo de grandeza, algo que não define qualidade. E é assim que eu entendo The Life of Pablo, o sétimo disco de Kanye West, lançado no início de Fevereiro após longa espera – trocas de título e tracklists. Polêmico desde que o rapper e seus rants no Twitter atingiram a grande massa, TLOP foi descrito por ele como o “melhor disco de todos os tempos.”
Nos últimos anos, Ye sempre teve uma longa folga para desenvolver seus projetos. Foi assim com o excelente My Beautiful Dark Twisted Fantasy de 2010, onde o rapper foi para o Havaí produzi-lo e com Yeezus, de 2013, que teve um tempo menor, graças ao disco da G.O.O.D. Music, mas também um tempo bastante folgado. The Life of Pablo iniciou seu desenvolvimento com o título de So Help Me God e um single, All Day, que em sua aparição no BRIT Awards animou a todos sobre o que estaria para vir.
So Help Me God virou SWISH, que virou Waves, que causou polêmica e uma briga entre Wiz Khalifa e Kanye West. Uma semana depois… The Life of Pablo estava confirmado como o título do projeto que segundo o rapper, seguiria uma linha gospel. Era quase certo que All Day, lançada um ano antes, não iria estar no disco. As trocas de título, em minha opinião, mostraram uma tamanha indecisão do rapper em escolher a linha que o projeto viria a seguir, até porque mudou também tracklists e junto a isso, a estrutura do disco.
The Life of Pablo começa extremamente bem com três faixas, que cito como as melhores do projeto. Ultralight Beam traz o feeling gospel que Kanye anunciou, com Mary J. Blige e Chance The Rapper fazendo os seus trabalhos mais do que bem. Me lembra diretamente I’ll Fly Away, do primeiro disco de Yeezy, que traz um coral gospel para cantar. Father Stretch My Hands Pt. 1 e Pt. 2 misturam diversos elementos. A primeira parte traz um souful sample, com uma produção de Metro Boomin’. É impossível não ficar perplexo com essa mistura quando a voz de Future avisa que se você não confiar no Metro você está ferrado. Eu confio, e o jovem produtor mostra por que é um dos mais quentes do momento. Para quem duvidava do seu trabalho, talvez devesse parar e ouvir essa faixa. KiD CuDi, de volta com Kanye, traz um refrão muito para cima. E o rapper solta rimas bastante introspectivas. A segunda parte segue o mesmo clima, com inspiração vinda de uma faixa do rapper Desiigner, que agora é assinado com a G.O.O.D Music. Com rimas curtas, limitadas em duas palavras na maioria das vezes, Kanye rima sobre problemas que estiveram em sua vida como a distância do pai e a morte de sua mãe.
Após essas três faixas, o disco toma um rumo diferente. Kanye pouco me animou com suas rimas, mas pelo menos deixou sua marca com os incríveis samples que estão em todo o projeto. Famous é um exemplo disso. A polêmica faixa tem procedência duvidosa, mas o sample de Nina Simone interpolado com os vocais de Rihanna dá o clima perfeito. Swizz Beatz, dono de faixas contestáveis durante toda a sua carreira, fez um ótimo trabalho na produção.
Inclusive, essa última frase é um grande exemplo do que o projeto significou para mim: “um ótimo trabalho na produção”, é o que define TLOP. Liricamente, Kanye raramente se esforça para trazer algo similar ao seu incrível MBDTF. Há, claro, pontos em que devemos reconhecer uma maior consistência lírica vindo do rapper, como em Real Friends, No Parties In LA, e as três faixas iniciais já citadas. Ele se esforça para trazer letras referentes à sua vida e que mostram o seu amadurecimento. Mas para mim, tudo vai por água abaixo quando ele em uma cômica sacada compara sua relação com Kim Kardashian à relação que Ray J tinha com ela – os dois fizeram uma sextape, alavancando a fama da socialite na mídia. Após ter dois filhos, esperava que o rapper não tratasse mais de assuntos que soam um tanto infantis. Levo como desculpas nessa parte, o fato de que o Rap está cheio de coisas do tipo e de que ele é uma competição – mesmo que Kanye tenha usado a sua vida pessoal para jogá-lo.
The Life of Pablo é bem trabalhado, grandioso e é minucioso como um disco de Kanye West tem de ser, mas é de longe, o menos original vindo do artista de Chicago. Soa como uma compilação de estilos e subgêneros que estão fazendo sucesso dentro do hip-hop nos dias de hoje – tem The Weeknd, tem Young Thug, tem Kendrick. A boa aceitação do público deve não fazê-lo mudar a abordagem repensando algumas partes de sua carreira musical, dando mais segurança para seguir a mesma linha no próximo projeto que sairá ainda esse ano – segundo ele – e menos originalidade.