Se existia alguma dúvida de que o rapper não conseguiria ter a mesma relevância que tinha quando fazia parte do Clipse em sua carreira solo, ela não existe mais. Pusha T consolida de vez o seu nome solo como um dos maiores rappers do cenário com o seu terceiro disco, DAYTONA, lançado pela Def Jam e GOOD Music no dia 25 de Maio.

 

Intitulado de “King Push” inicialmente, o projeto trocou de nome próximo ao lançamento. “DAYTONA” se refere ao relógio favorito do rapper, o Rolex Daytona, cujo o preço no Brasil pode chegar a até 146 mil reais, e dá todo o background do projeto: luxo.

“Eu acho que DAYTONA representa como realmente eu me sinto, e o processo do álbum. O nome vem de um relógio de luxo. Rolex Daytona é o meu relógio favorito. O processo de desenvolvimento do álbum, foi um processo tedioso, mas diz muito sobre o quanto eu queria lançá-lo e também diz bastante sobre o luxo que eu tenho como um artista. Muitos artistas não tem luxo assim,” disse o rapper em entrevista para o Genius. Desde que iniciou sua carreira solo, Pusha T sempre fez questão de citar artigos de luxo. Quem não se lembra de seu verso em “Runaway” de Kanye West?

A imagem escolhida para ser capa do disco é a de um banheiro de Whitney Houston, repleto de acessórios para o uso de drogas. A cantora teve problemas com narcóticos durante toda a sua carreira, Kanye, visualizou o disco de Push enquanto via essa foto e comprou os direitos da mesma por alguns milhares de dólares. A escolha acabou dividindo opiniões.

O projeto segue um conceito criado por Kanye West com os atuais discos produzidos por ele: objetividade. São 21 minutos, projeto que por pouco não se torna elegível para um GRAMMY – a entidade tem como regra 15 minutos mínimos para um projeto ser considerado elegível para um prêmio como álbum. Essa objetividade ajuda o projeto a ser bastante cirúrgico, com Pusha T dizendo tudo o que tem para dizer nesse tempo.

Poucas músicas têm mais do que três minutos. O rapper não se estende em assuntos e é bastante ousado em alguns ataques, como o direcionado à Drake em “Infrared”. Subliminarmente o rapper atinge seu rival que o respondeu em “Duppy Freestyle”, gerando uma resposta direta de Pusha T intitulada “The Story of Adidon”. Todo esse buzz da treta com o rapper canadense ajudou também o disco a se promover, com o rapper participando de entrevista dias depois do lançamento respondendo quase sempre sobre os ataques.

Pusha não foge do seu comum, letras sobre seu tempo como traficante em Virginia, e analogias sobre o cenário das drogas com o do rap. Mesmo com temas repetidos em sua carreira, o rapper se sobressai com a famosa técnica de storytelling e punchlines de extremo efeito. A caneta de Push também tem um ego, de praxe em rappers desse estilo, onde o bragadoccio torna-se algo comum – dado o nome do disco, não era de se esperar de menos.

Produção

É a primeira vez desde os trabalhos com o Clipse que Pusha T tem apenas um produtor cuidando inteiramente do seu trabalho. Se antes o Clipse tinha Pharrell, hoje o rapper tem ninguém menos do que Kanye West.

Yeezy entende Pusha T. Desde que o rapper entrou na GOOD Music, os estilos de instrumentais criados por Kanye para ele são extremamente crus e repletos de samples. O flow forte de Push casa bem com as músicas produzidas por ele. O maior exemplo disso é “Nosetalgia”, do seu primeiro disco My Name is My Name, onde Kanye West e Nottz trouxeram uma batida extremamente crua para ele e Kendrick Lamar rimarem sobre suas quebradas. No atual disco, “The Games We Play” é um bom exemplo.

Assim como suas letras, as instrumentais de Pusha tem luxo. Samples dão uma cara extremamente fina para o projeto, e eles são muito bem usados por Kanye nesse projeto.


DAYTONA” é o melhor projeto solo de Pusha T. Em My Name is My Name, o rapper não consegue manter uma regularidade entre as faixas, o mesmo acontece em King Push – Darkest Before Dawn: The Prelude – que também é um projeto curto, mas não tão conciso. São 21 minutos completos de música de qualidade.

Com tantos projetos subestimados ao passar da sua carreira, Push finalmente se coloca entre os maiores do cenário com um grande projeto. “DAYTONA” é um dos melhores discos de 2018 até agora.

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe