Prima Donna é o segundo EP do rapper de Long Beach, Vince Staples. Dando sequência ao disco Summertime ’06, do ano passado, esse extended play é o único projeto lançado por Vince no ano de 2016, e mais uma vez abre caminho para um futuro álbum de estúdio.
O projeto começa com a introdução “Let It Shine”, onde Vince canta uma antiga música gospel de chamada “This Little Shine of Mine” que data dos anos vinte. É nela que o rapper dá inicio a um conceito presente no final de algumas músicas, uma espécie desabafo. Esses pequenos versos declarados por ele tem um teor bastante depressivo sobre a sua carreira, tornando faixas que acreditava-se serem positivas um pouco mais obscuras.
A segunda música é “War Ready”, que traz sample do verso de Andre 3000 em “ATLiens” de 1996. Produzida por James Blake, o conceito da faixa é mostrar que as crianças no gueto nascem preparadas para a guerra devido as adversidades que irão passar nas ruas. Para ilustrar o assunto, Staples procura ser introspectivo e colocar a sua própria visão no primeiro verso da música. Em seguida, ele questiona o papel dos ativistas nas causas sociais, em linhas repletas de jogos de palavras, ele se pergunta se essas pessoas são uma espécie de “advogado do diabo”, que fingem se importar em prol de boa publicidade. Nessas formas de questionamento, Vince mostra que além das gangues, a política é uma forte aliada na pouca qualidade de vida nos guetos norte-americanos.
“Smile” trata-se de uma música extremamente introspectiva. Maduro o suficiente para abordar assuntos pessoais com uma narrativa simples e fácil de entender, é nessa faixa que o rapper lida com suas decisões para conseguir a fama. Decisões contestáveis que o envergonham a ponto dele pedir perdão divina.
“Loco” é produção de John Hill e DJ Dahi – como “Smile”. Outra faixa pessoal onde Vince fala da sua vida após a fama e reconhecimento dentro do rap, tanto o lado positivo quanto o negativo. Tratando de problemas como familiares distantes pedindo grana (aqui interpretada por Kilo Kish) e as loucuras que essa vida proporciona. Uma das melhores linhas da faixa porém, é quando Vince afirma que seu principal foco são as habilidades líricas e não a ostentação: “I write the James Joyce/Don’t need the Rolls Royce,” aqui ele se compara com o autor James Joyce, e essa é a única necessidade dele dentro do jogo.
Uma das coisas que consagrou Vince Staples foi sua abordagem sobre as gangues. O rapper fez parte dos Crips por algum tempo, e suas músicas glorificam essa vida como uma maneira de criticá-la, colocando as decisões que fez sobre a mesa de maneira que o ouvinte não tente seguir esse tipo de vida. Seu EP Hell Can Wait, de 2014, aborda esse assunto fazendo uma espécie de gangsta rap mais consciente. Esse é o conceito principal da faixa título desse novo projeto, “Prima Donna”, onde ele retrata um pouco da sua vivência no meio. A$AP Rocky é colaborador, mas tem uma participação pequena, o que decepcionou alguns.
Finalizando o EP, Vince Staples traz “Pimp Hand” e “Big Time”. Na primeira faixa ele fala sobre o cenário atual do hip-hop com metáforas de gangue. No refrão o rapper mostra sua sincera visão sobre o assunto: são os jovens artistas que ditarão o futuro do jogo, então a opinião de alguns veteranos se torna desnecessária, afinal o jogo mudou. Em “Big Time” ele novamente aborda o seu passado como membro dos Crips, fazendo uma espécie de bragadoccio sobre de uma maneira crítica.
Prima Donna é um trabalho muito pessoal de Vince Staples. Seja qual for o assunto, ele consegue colocar suas experiências, opiniões e visões dentro do contexto. A mente do rapper é construída no projeto, o que faz das sete faixas uma grande viagem. Independente da musicalidade utilizada, o EP é um pouco obscuro, assim como outros projetos de Vince. Ele fala de suas inseguranças e depressões, refletindo sobre suas escolhas no passado.
Nas produções, artistas se repetem entre o decorrer do projeto. James Blake está em duas faixas, assim como John Hill. DJ Dahi aparece em três. O único produtor que aparece uma vez é No I.D. Esses nomes fizeram um trabalho bem diferente dos anteriores de Vince, buscando algo mais moderno e com menos samples ditando a melodia.
A qualidade do EP o coloca entre os melhores projetos do ano, e nos deixa bastante ansiosos para o próximo trabalho de Vince Staples que se consagra aqui como um dos melhores artistas da sua geração.