“Por quanto tempo você ouve um disco, Joe?” Me perguntou um amigo. Respondi que depende de quando ele foi lançado. Quanto mais novo é o disco, menos ele dura.
Por quanto tempo você ouve o mesmo disco depois que ele é lançado se ele foi lançado depois de 2014? Uma semana? Um mês? Talvez nem isso. Esse novo comportamento, provavelmente, tem bem pouco a ver com a qualidade dos trabalhos e bem mais a ver com a democratização da produção musical como um todo.
De acordo com o site Album Of The Year em março desse ano, foram lançados 749 projetos, entre CD’s, EP’s, coletâneas, lives, singles, etc. No mesmo mês, em 2008, foram lançados 345 e em março de 2004, 158. Ok, não podemos dizer que esse site tem um controle absoluto sobre os lançamentos mundiais, e é óbvio que o crescimento da internet entre esses 14 anos ajuda no cadastro de lançamentos, mas é uma amostra interessante a respeito da arte ao alcance de todos, tanto para consumo como para criação.
Você se lembra de Hotline Bling? Mais um dos maiores hits dos últimos tempos que ninguém mais vai ouvir. As músicas duram menos. Acredito que estamos vivendo a morte dos clássicos como meta dos artistas. Hoje, a meta é lançar Hits. Poderosos e descartáveis. Não veremos mais Beastie Boys, Rolling Stones nem David Bowies e isso não é um problema, é uma consequência. Enquanto a nova indústria musical nos entorpecer com pequenas doses de lançamentos e curtos períodos de abstinência, estaremos bem.
O excesso de conteúdo faz com que a qualidade se perca em meio à quantidade. Até digerirmos um álbum já saíram outros 6 que nos interessam. Conclusão, tentamos ouvir todos e não escutamos nenhum. O produto disso é a necessidade de se fazer uma música menos complexa, menos densa. Algo que que não exija tanta concentração ou atenção do ouvinte, ele não tem tempo para isso.
Em alguns casos, o público precisa de mais tempo, mas o mercado não permite que os artistas deixem os projetos maturar. Um bom exemplo disso é o disco To Pimp a Butterfly de K-Dot. Ele merecia mais tempo antes de Untitled Unmastered e DAMN. Eu ainda ouvia e descobria camadas daquele pedaço maravilhoso de arte quando os outros trabalhos saíram.Entre o Good Kid, M.A.A.D City e To Pimp a Butterfly tivemos 3 anos de estudos, depois disso, só 1 ano. Não sei se isso nos diz algo mas, muitas pessoas ainda consideram Good Kid, M.A.A.D City o melhor trabalho de Kendrick. Ou seja, mesmo quando trabalhos merecem durar mais, eles são forçados a durar menos.
Existe uma vantagem nisso tudo: o excesso de conteúdo faz com que as coisas durem menos, mas também faz com que existam mais coisas. Ou seja, a música que você gosta está por aí.
Não, eu não estou criticando artistas, não estou falando que a arte morreu, que antigamente era bem melhor. É só uma constatação mercadológica. O mercado precisa vender, a economia precisa girar e nós acabamos entrando na roda, sem necessidade. Não se pressione a acompanhar o mercado, faça uma lista dos lançamentos que você quer ouvir e ouça no seu tempo.