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Sample do dia: A música eletrônica e o Hip-Hop

By 14 de julho de 2016 No Comments

Recentemente Mano Brown deu uma entrevista, no canal do MC Maomé (Cone Crew Diretoria), e foi indagado sobre sua música com Naldo Benny. Em sua resposta, um trecho em especial me chamou atenção:

…aquele funk, que se chamava de electro-funk, que é um som eletrônico dos anos 80, vem do Kraftwerk, vem do Afrika Bambaataa, e foi evoluindo…

Tal trecho pode ser conferido a partir dos 7 min:

Essa ligação, do Kraftwerk com o Afrika Bambaataa, era algo que eu já estava planejando escrever há tempos, e com o mestre Brown tocando no assunto, decidi agilizar, então vamos lá:

Kraftwerk é um quarteto alemão, que lançou dez álbuns entre 1970 e 2003, e revolucionou o mundo da música, sendo considerado o grande precursor da dance music, disco music, techno, synthpop, electro, EBM, industrial e o Hip-Hop, que é o assunto que nos interessa aqui.

“Planet Rock” foi um single de 12 polegadas lançado em 1982 pelo Afrika Bambaataa and the Soul Sonic Force. Na ocasião não foi um grande hit, mas sua importância e influência é gigantesca, sendo uma das fundações do rap, do house e do miami bass.

Kool Herc e Grandmaster Flash, os outros dois alicerces do Hip-Hop, buscavam suas batidas nos antigos discos de funk. Bambaataa estava atrás de coisas diferentes. E foi assim que descobriu artistas como Kraftwerk, Gary Numan e Yellow Magic Orchestra.

“Planet Rock” teve sua base gerada por uma bateria eletrônica da Roland e um sintetizador Fairlight. Duas músicas do Kraftwerk entraram na jogada. A melodia de “Trans-Europe Express” foi incorporada, e a batida é claramente inspirada em “Numbers”.  O que também faz de “Planet Rock” um dos pais do remix e do mash-up. Confiram:

Numa entrevista concedida em 1998 e reproduzida no livro Kraftwerk Publikation (Editora Seoman), Bambaataa fala sobre quando ouviu “Trans-Europe Express”:

Achei que era uma porra bem esquisita. Uma porra doida mecânica bizarra. E fiquei escutando de novo e de novo, e falei ‘esses caras são brancos esquisitos… de onde são?’. Comecei a ler todo o… eu sempre leio os encartes do meio dos discos sabe? Quero ver o que diz na parte de trás da capa, quem compôs o quê. Comecei a fuçar mais a história deles e cheguei ao “Autobahn”, e uma vez fui até o Rock Pool, e eles me sugeriram escutar outros discos deles, e eu ouvi “Radio-Activity” e outras coisas que eu ouvia e tocava para meu público.

Bambaataa queria que o The Sonic Soul Force fosse “o primeiro grupo eletrônico negro”, e continua:

Depois que o Kraftwerk lançou “Numbers”, e eu sempre curti “Trans-Europe Express”, eu disse ‘Quem sabe posso juntar os dois numa coisa diferente de verdade, com baixo e bateria pesados, mais rústica e eletrônica ao mesmo tempo?’. E assim nós combinamos sons e bases das duas faixas. Mas eu não queria que as pessoas pensassem que era só Kraftwerk, então acrescentamos uma faixa chamada “Super Sporm”, de Captain Sky. O breakdown enquanto o sintetizador está subindo, essa é a batida de “Super Sporm”. Aí acrescentamos “The Mexican”, do Babe Ruth, outro grupo de rock, e o aceleramos.

Outro som que fez a cabeça de Bambaataa veio do Japão, e trata-se do segundo nome mais influente da música eletrônica depois do Kraftwerk, o Yellow Magic Orchestra. Confiram a música “Firecracker”:

E agora Bambaataa sampleando “Firecracker” (a partir de 2:27) em “Death Mix (Part 2)”:

E pra quem pensa que essa ligação entre o rap e a música eletrônica é coisa do passado,  vamos conferir agora “Cars”, do inglês Gary Numan, lançado em 1979:

E agora, Snoop Dogg e sua “My Carz”, de seu recém-lançado álbum “Coolaid”:

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