Ame-o ou odeie-o, Lil’ Wayne foi um dos rappers mais importantes da década passada. O rapper regional que ouvíamos fazer barulho em músicas da Cash Money Records no final dos anos noventa e começo dos 2000, se tornou um dos artistas mais importantes do cenário hip-hop após metade da década passada, e se tornou uma super estrela com o projeto Tha Carter III. O clássico disco fez 10 anos no último dia 10 de Junho, e relembrou muitos da importância do rapper que hoje vive um imbróglio com a gravadora que o acompanhou durante toda a sua vida e não consegue lançar músicas como àquelas que o fizeram o grande nome do hip-hop.
O Raplogia traz hoje um retrospecto do desenvolvimento, lançamento e recepção do disco que vendeu um milhão de cópias em uma semana.
O Background do Tha Carter III
O ano é 2005, e Wayne tinha recém lançado o projeto Tha Carter II, sequência direta do projeto Tha Carter, de 2004, que o colocou como o principal nome da Cash Money Records. Na época, a gravadora vivia por um desmanche que passava pelo fim dos Hot Boys e da dupla Big Tymers, dois dos grandes grupos do selo. O rap era outro, e ambos os atos não mantiveram o sucesso de anos atrás, fazendo a gravadora se desligar de Juvenile, B.G., Turk e pouco tempo depois, Mannie Fresh.
A grande aposta de Birdman na Cash Money Records tratava-se de Lil’ Wayne, rapper que fazia parte da gravadora desde sua infância e apesar da popularidade, nunca foi o maior artista dentro do Hot Boys. Tha Carter I, porém, provou que Weezy poderia ser o principal artista do selo e a grande galinha dos ovos de ouro de Birdman.
Na sétima faixa do disco Tha Carter II, Lil’ Wayne se autoproclamou o melhor rapper vivo em um ato de bastante personalidade. Após o lançamento do disco, ele se tornou um dos artistas mais quentes do cenário, vendendo mais de um milhão de cópias naquele mesmo ano com o projeto. Quais seriam os próximos passos?
Uma mixtape no final de 2005 em parceria com DJ Drama, The Dedication, colocaria fogo no cenário das mixtapes e tornaria Wayne uma lenda no mesmo. Pouco tempo depois, um disco com Birdman, Like Father Like Son, que estreou na terceira posição da Billboard Hot 200.
Em 2007, Wayne entrou em album mode. Em abril, o terceiro volume da sua série de mixtapes Da Drought e no fim do ano, um EP intitulado The Leak, feito para compensar o principal problema do rapper na época: os vazamentos online.
A internet já era uma realidade bastante forte nos Estados Unidos e o mercado da música se adaptava aos poucos na rede. As mixtapes foram as principais formas de impactar o público online, algo que Wayne desde sempre trabalhou, mas a situação se tornou complicada quando os DJs conseguiam seu material de fontes anônimas e colocavam na internet para download gratuito em compilações, que em muitos casos, se tornaram grandes sucessos. A principal série de mixtapes era Tha Drought Is Over, feita pela Empire Mixtapes.
Essa série de mixtapes foi responsável por divulgar inúmeras músicas inacabadas de Lil’ Wayne, como: “I Feel Like Dying”, “Something You Forgot”, “Scarface”, “La La La”, entre muitas outras. Wayne perdeu muito material nas mãos do DJs, materiais que nunca foram finalizados ou entraram no projeto Tha Carter III. O rapper, porém, nadou com a maré e em determinados shows, performava as músicas que foram vazadas ilegalmente, pois elas haviam caído no gosto do público.
O EP lançado em 2007, comprovou isso. The Leak compilou alguns dos melhores leaks, na opinião de Wayne, e foi lançado de maneira oficial pelo rapper como um EP.
Wayne certamente perdeu muito dinheiro com os vazamentos ilegais, mas ele também lucraria com a situação, afinal, foram esses vazamentos que colocaram a temperatura perfeita na espera do público e fizeram de Tha Carter III um dos discos mais aguardados da época.
Os singles
O primeiro single de Tha Carter III foi “Lollipop” com Static Major, lançado em Março de 2008. Static não viu o barulho que a faixa fez, pois acabou falecendo antes mesmo do lançamento.
Produzida por Jim Jonsin, “Lollipop” vendeu mais de 9 milhões de cópias até Janeiro de 2009 e deu a Wayne o Grammy de Melhor Música de Rap.
O sucesso estrondoso dessa música acabou por alavancar o outro single do disco, “A Milli”. Lançada nas rádios antes mesmo de “Lollipop”, ela teve alguns retoques até ser lançada oficialmente em Abril de 2008. Com produção de Bangladesh, essa faixa se tornou uma das mais queridas do projeto.
Em maio, sua parceria com T-Pain foi lançada e também fez sucesso. “Got Money” é animada e tem um refrão grudento – grande mérito de T-Pain. O vídeo da música é extremamente bem produzido, colocando Wayne também como referência na parte visual do cenário.
Quando o disco já tinha quase um mês, Wayne tornou uma das suas melhores músicas em single. “Mr. Carter” marca a segunda vez que ele colabora com Jay-Z, um de seus ídolos e também rivais. Em 2006, em entrevista para a Complex, Weezy colocou a volta da aposentadoria de Jigga como um evento desnecessário para o hip-hop.
Mais cadenciada e focada no conteúdo, “Mr. Carter” não teve a melhor das posições nos charts do rapper ou muito menos teve um vídeo. Mas vale o registro, pois trata-se de uma das melhores músicas do projeto. O último single, porém, foi mais uma tentativa de Wayne de emplacar no ouvido dos seus fãs com um hit, “Mrs. Officer” é a perfeita mistura entre rap e r&b que ficou famosa nos anos 2000.
10 de Junho de 2008: o lançamento
Na capa, um Wayne criança com suas características tatuagens, relembrando grandes capas usando bebês e crianças no rap – como Illmatic de Nas ou Ready To Die de Biggie. Com 76 minutos, o rapper da Cash Money chegou ao topo do mundo na primeira semana, vendendo 1,006,00 unidades do disco.
Dentro do hip-hop, apenas 50 Cent e Eminem venderam tão rápido. Em tempos onde a internet começava a ter impacto dentro do cenário musical, Wayne conseguiu um feito que dificilmente será repetido por um artista do hip-hop nos próximos anos, ainda mais com o advento do streaming.
Mesmo com grande parte das músicas sendo vazadas na internet, Wayne conseguiu alimentar um mito chamado Tha Carter III durante meses e preparando o lançamento de um dos grandes discos de rap dos últimos tempos em termos de lançamento. O rapper performou músicas vazadas, correu com a ideia de fazer sucesso nas ruas, criticou os DJs que vazaram as músicas, mas aproveitou a situação para se beneficiar – e de grande forma.
Influência
É difícil falar de Tha Carter III como influência, mas é importante ressaltar como Lil’ Wayne impactou artistas da nova geração com suas músicas. De Kendrick Lamar até a infinidade de “Lil’s” no cenário atual, todos beberam da fonte Weezy.
Em 2012, após se apresentar com Wayne em um show de Natal da rádio Power 106, Kendrick revelou: “Ele influenciou muitos estilos sons. Eu diria que eu fui influenciado por certos sons, flows e cadência que o próprio trouxe para o jogo.”
“Coloco Wayne junto com Jay-Z e Kanye, em termos de sucesso. Wayne continua divertido. Estamos esquecendo que Wayne fez todo mundo mudar seus flows e começar a usar novas técnicas de rima. Qual é, estamos esquecendo que Wayne mudou o hip-hop também? Estamos esquecendo que esses filhos da puta queriam todas aquelas tatuagens? Estamos esquecendo isso?” revelou A$AP Rocky para a Complex.
A grande influência de Lil’ Wayne em rappers mais novos é notória, seja musicalmente ou no estilo. Jovens rappers que apareceram nos últimos anos trazem estilos semelhantes à Wayne com várias tatuagens, dreadlocks e dentes platinados. Podemos chamá-lo de um grande trendsetter, no campo musical ou de comportamento.
Atualmente aguardamos o lançamento do disco Tha Carter V, que foi barrado pela Cash Money anos atrás devido uma briga por royalties de Wayne com o selo. Recentemente, notícias de que o rapper havia sido liberado do seu contrato com a gravadora surgiram, mas ainda aguardamos novidades sobre a quinta edição do disco. Dificilmente teremos um projeto que chegue aos pés do terceiro volume, mas a torcida é para um Weezy que voltando com tudo.