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Review: The Weeknd – Kiss Land

By 24 de janeiro de 2014 No Comments

Se houvesse alguém a se comparar com Edgar Allan Poe no hip hop, este haveria de ser Abel Tesfaye. Veja bem, é uma mera comparação dadas as proporções. Existem suas semelhanças, como a questão das drogas muito recorrentes em suas narrativas. As mulheres são outro hábito pelo qual ambos lançam palavras. Poe foi um escritor e continua a ser um dos maiores, uma referência para todas as gerações da literatura. Seus contos sempre tão melancólicos, tomados de uma dor possível de se sentir podem ser comparadas ao que Abel narra.Pois bem, este canadense de voz suave traz consigo toda tristeza que sente e isso se faz presente nas letras do mais novo projeto, Kiss Land. Kiss Land pode ser considerado seu primeiro disco, afinal Trilogy é só uma reedição das três bem sucedidas mixtapes que lhe trouxeram conhecimento sobre seu nome. Se Trilogy nada mais mostra de novo além das músicas já conhecidas com estas um pouco melhor produzidas e algumas poucas novidades como Twenty Eight, Valerie e Till Dawn (Here Comes The Sun). Trilogy, seu primeiro álbum, é bom e Kiss Land tem uma responsabilidade até exacerbada de mostrar um crescimento que se espera de um artista interessante como ele. Após alguns meses ouvindo repetitivamente o seu segundo disco ainda não chego a uma conclusão. De fato é uma material de qualidade. Há uma questão – a influência nipônica – deveras interessante e acima de tudo músicas tanto comerciais e bem produzidas quanto outras que mostram o mesmo estilo que já o consagrara. Existe algo também que se mantém: as poucas participações, só três entre as doze faixas sendo duas remixes.

Kiss Land tem mais do que somente isso. Assim como já falara em entrevistas que há uma grande influência de diretores como John Carpenter e Roman Polanski. A influência nipônica também como pode ser visto nas primeiras fotos de divulgação do cd. Abaixo a resenha de Kiss Land (2013) de The Weeknd.

Professional é a faixa inicial. Particularmente eu gosto de músicas que se dividem em duas partes. O primeiro verso é uma preparação para o que vem pela frente como uma real introdução. O refrão dá o tom que virá a seguir. A letra tem duplos sentidos e o meu entendimento é que se fala sobre uma stripper, sexo e amor, e Abel costuma esses temas muito bem tendo a letra sentido. O segundo verso é mais curto mas mantém a mesma qualidade e sentido do primeiro. Uma boa faixa para se começar um disco.

(O refrão de Professional traz o sample de Professional Loving de Emika)

The Town é uma das minhas prediletas. Já começa com o refrão sendo esta uma declaração de amor pura que mistura e desfila sobre o estilo de vida do cantor. Como sempre se trata de uma música sobre uma mulher e os desdobramentos com Abel em sua vida. O segundo verso segue direto do primeiro sem refrão separando com o mesmo aparecendo no fim da música. Outra boa música.

A terceira faixa segue com The Police sendo sampleado. Adaptation fala sobre a vida escolhida e a relação desfeita por causa dessa. Outra boa música que logo se conecta com Love In The Sky

I think I lost the only piece that held it all in place
Now my madness is the only love I let myself embrace

Love In The Sky é uma música inefável de deixar a pessoa sem palavras. A levada suave e bem construída de Abel dita o ritmo. O tema central como sempre é o seu tridente de sempre: as mulheres, a confiança ou a falta dela e as drogas como uma fuga da realidade. Existe de certa forma uma tendência atual de retratarmos o amor como algo impossível, como um grão de areia difícil de agarrar sendo só possível mantê-lo por meio de milagres, pois a convivência, a dificuldade de aceitar-se e a pessoa aceitar seus defeitos é assombrosa. Love In The Sky é um reflexo disso. Uma das melhores faixas de 2013 e um marco no álbum pois a partir dela seguem as outras duas melhores faixas do projeto. As duas também são singles.

Capa do single Belong To The World

Belong To The World têm um belo vídeo. Ao contrário das outras músicas já apresentadas esta tem um ritmo mais acelerado. No clipe um Abel apaixonado por gueixa enfrenta um pelotão de homens indo contra a correnteza. Fala sobre uma mulher do mundo e o amor sobre ela, o afeto por ela e a resignação por saber que ela não pertence a ele. Uma bela e tocante faixa.

Live For é outro single como anteriormente foi dito. Há também a participação de Drake. Os instrumentais atingem o ápice da perfeição e o refrão é pegajoso. Drizzy traz linhas bem contundentes que chamam a atenção do ouvinte. É mais uma música sobre o estilo de vida de Abel, parecido com o de Drake pois ambos são canadenses que fazem mais sucesso nos Estados Unidos do que no próprio país.

She just offered a strip tease, but she don’t look like Demi Moore
Hips all on 45, waist all on 24
And it’s all love in the city, still scream XO, when that Henny pour

O estilo de vida regrado à drogas, dinheiro, álcool e muitas mulheres é comum no show bussiness e ambos se adaptaram e fazem disso parte de suas vidas.

Wanderlust, faixa número sete de Kiss Land é primeiramente uma música de referências. Paul McCartney tem uma música também chamada assim. Fox The Fox é sampleado. A faixa em questão utilizada é Precious Little Thing. Wanderlust também é a composição mais experimental do álbum sendo meio dançante. Eu particularmente gostei mesmo sendo ‘diferente’ do apresentado, o que dá a impressão de ser uma faixa perdida no meio das outras.

Kiss Land tem consigo o mesmo título do disco. Tendo esta responsabilidade, pode-se dizer que é uma faixa um tanto decepcionante. Foi a primeira lançada e a primeira impressão não foi positiva. É estranho pensar que cobro dele uma maior diversificação mas nas em que ele experimentou eu não gostei. O refrão em si é mais do mesmo embora eu não tenha gostado dele. Os versos estão bons porém a produção peca em alguns aspectos, como por exemplo, por ser tão longa embora a segunda parte ser melhor e mais pesada.

Pretty é mais comercial. Eu senti que Abel poderia ir mais a fundo. É leve, mas sente-se falta de algo a mais, mais emoção na voz. Neste momento se percebe uma queda de qualidade no álbum.

Tears In The Rain segue Pretty. Também a considero fraca, podendo ser mais profunda, mas é melhor que a anterior.  A curiosidade é que como já falado antes, a influência cinematográfica se faz presente. A faixa se espelha em uma cena de Blade Runner.

Wanderlust (Remix) conta com a participação de Pharrell. É um remix dele que pouco acrescenta ao álbum

Odd Look é parte do EP OutRun do dj francês Kavinsky. Pra quem não sabe, Kavinsky está na trilha sonora do filme Drive, protagonizado por Ryan Gosling. Atualmente considero ele o maior dj contemporâneo já que os conhecidos Calvin Harris e David Guetta são muito fracos. A faixa é muito boa e gostosa. A batida é viciante e casou bem com a voz de The Weeknd. Acaba bem o álbum mesmo se tratando de um remix.

Conclusão: Kiss Land é um álbum de bom para ótimo com boas referências, boas músicas e mantém o mesmo estilo que já o consagrou antes. É econômico na parte final, um pecado que faz com que a qualidade decaia degradativamente. Mesmo assim possui singles fortes, letras melancólicas e instrumentais que casam muito bem com a voz suave e embargada de triste do melhor cantor de R&B da atualidade.

(Se não gostares da resenha, ainda tem esse vídeo. Esse cara é muito engraçado. O método é simples, filmar as primeiras impressões sobre os cds que ouve)

*Escrevo também no meu blog pessoal, caso tenha interesse: http://continuumspace.blogspot.com/

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe