Os discos duplos surgiram em meados da década de 50. Registros indicam que o primeiro álbum duplo foi de uma performance do músico Benny Goodman, no Carnegie Hall em 1938, lançado exatamente no ano de 1950. Essa performance é um grande marco na carreira de Goodman, e mereceu uma atenção especial da gravadora Columbia Records, que colocou o concerto em um projeto duplo.
Já o primeiro disco de estúdio duplo é do francês Léo Ferré, que em 1964 lançou o álbum Verlaine et Rimbaud, contendo 24 músicas dividas entre dois LPs. Durante a história da música, tivemos importantes discos duplos mostrando que quantidade também é qualidade. Com mais de 60 milhões de cópias vendidas no mundo todo, HIStory: Past, Present and Future, Book I de Michael Jackson é o projeto que mais vendeu até hoje nesse conceito. Outros trabalhos de icônicos músicos também podem constar no hall de discos duplos lendários: The Wall da banda Pink Floyd, White Album dos Beatles e Blonde on Blonde de Bob Dylan.
Nosso querido gênero não poderia ficar fora dessa. O primeiro disco duplo da história do hip-hop veio da dupla DJ Jazzy Jeff & The Fresh Prince, que em 1989 lançou He’s the DJ, I’m the Rapper, que teve um sucesso comercial bastante considerável na época. Hoje o Raplogia vai fazer uma viagem no tempo e mostrar alguns discos duplos de rap que todo fã deveria ouvir.
All Eyez On Me
Lançamento: 13 de Fevereiro de 1996
Gravadora: Death Rown Records; Interscope
Maiores sucessos: “California Love“, “2 of Amerikaz Most Wanted”
Lançado durante a época de maior popularidade na carreira de Tupac Shakur, o disco duplo All Eyez On Me é um dos discos mais populares do hip-hop. Vendendo mais de 550 mil cópias em uma semana, o trabalho é reconhecido mundialmente pela sua produção extraordinária e qualidade lírica.
O projeto é também foi o último que o rapper lançou em vida. Gravado entre Outubro e Novembro de 1995, All Eyez On Me traz diversas participações: Snoop Dogg, Method Man, Kurupt, Daz Dillinger, Nate Dogg, Redman, Dr. Dre, George Clinton, E-40 e Richie Rich são alguns dos nomes.
Para quem não conhece a carreira de Tupac Shakur, o projeto é uma ótima pedida.
Speakerboxxx/The Love Below
Lançamento: 23 de Setembro de 2003
Gravadora: LaFace Records; Arista
Maiores sucessos: “Hey Ya!“; “Roses”
Quando falamos de versatilidade, dois dos nomes que mais nos vem a mente são os de Andre 3000 e Big Boi, e no quinto projeto do Outkast eles mostram o porquê disso. Em Speakerboxxx/The Love Below os rappers criaram um dos conceitos mais interessantes para um disco duplo: se dividiram e cuidaram cada um de uma parte.
A parte de Big Boi é mais hip-hop, traz uma influência do funk feito pelo grupo Parliament-Funkadelic, o P-Funk. Esse primeiro disco é um projeto extremamente sulista, algo que Big Boi e Andre sempre fizeram, mas agrega muitos outros estilos. Já na parte de 3000, temos um disco que anda por vários gêneros, com a presença de um estilo mais psicodélico, misturando pop, funk, soul e até jazz. A maior expoente dessa parte de Andre é a faixa “Hey Ya!“
Até 2012 Speakerboxxx/The Love Below havia vendido 5,702,000 cópias.
Wu-Tang Forever
Lançamento: 3 de Junho de 1997
Gravadora: Loud Records; RCA; BMG
Maiores sucessos: “Triumph“; “It’s Yourz”
Lançado quatro anos depois do disco de estreia do Wu-Tang Clan, o segundo álbum do grupo de Staten Island chega com enorme responsabilidade no cenário. Suceder um dos grandes clássicos da história não é fácil, e para isso, RZA e sua turma decidiram lançar um disco duplo.
O Wu-Tang era gigante em 1997. Seus membros haviam lançados discos solos durante os quatro anos de hiato do grupo e eles haviam se tornado muito mais do que um coletivo de artistas: o Wu era uma grande marca – no bom sentido da coisa.
Por ser um disco duplo, todos os membros do grupo tiveram espaço para rimar. RZA já revelou em várias entrevistas que algumas faixas têm os melhores versos daqueles rappers – como por exemplo o de Ghostface Killah em “Impossible“. O projeto foi sucesso comercial e crítico, até hoje sendo referência em listas de “melhores discos.”
Life After Death
Lançamento: 25 de Março de 1997
Gravadora: Bad Boy Records
Maiores sucessos: “Hypnotize“; “Sky’s the Limit”
O hip-hop ainda chorava quando foi para as ruas o disco Life After Death, do rapper recém-falecido Notorious B.I.G. Vítima de um tiroteio em 8 de Março de 1997, Biggie estava prestes a se tornar um dos maiores artistas do momento, já que o seu disco foi um dos mais bem sucedidos daquele ano.
Biggie decidiu que esse trabalho seria um disco duplo desde o começo do desenvolvimento em 1995. Rotulado como um dos maiores projetos da história do hip-hop, Life After Death traz sucessos comerciais e rueiros, sendo um trabalho para todos os públicos. O rapper demonstra a sua técnica em todo o trabalho, sendo impossível não nos render ao seu talento.
“Ten Crack Commandments“, “Hypnotize“, “Sky’s the Limit“, “Kick in the Door“, “Notorious Thugs” e “What’s Beef?” são alguns dos sons clássicos que estão nesse disco.
Nada como um Dia após o Outro Dia
Lançamento: 27 de Outubro de 2002
Gravadora: Cosa Nostra
Maiores Sucessos: “Vida Loka I e II“; “Negro Drama“; “Jesus Chorou”
Não tinha como um dos maiores discos de rap do Brasil não integrar a lista. O disco Nada como um Dia após o Outro Dia dos Racionais MC’s é uma verdadeira obra de arte. Lançado em 2002, o projeto sucedeu nada mais nada menos do que o clássico Sobrevivendo no Inferno de 1997, disco que afirmou o grupo paulista como uma das maiores forças da música brasileira.
Lançado como um disco duplo – a parte um se chamava Chora Agora e a parte dois Ri Depois -, o trabalho traz alguns dos maiores clássicos do grupo e marca o nome de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay no hall de maiores artistas do Brasil. Nota-se uma evolução na produção das faixas – que tiveram auxílio de Zegon – e uma maior maturidade nas rimas.
Em uma pesquisa da Rolling Stone Brasil em 2007, Nada como um Dia após o Outro Dia ficou como o 88º melhor disco da música brasileira – Sobrevivendo no Inferno ficou em 14º naquela ocasião.