O talento de Childish Gambino transcende a sua carreira no hip-hop. Por determinado tempo ele foi roteirista na série da NBC “30 Rock” e estrelou no mesmo canal a ótima “Community”, da qual ele saiu para trabalhar no disco “Because The Internet.

Em meados de 2013, o canal FX firmou contrato para o desenvolvimento de “Atlanta”, onde Donald Glover – como é conhecido Gambino no circuito de Hollywood – trabalhou fortemente até ela sair do papel em 2016.

Atlanta” teve dez episódios encomendados para a primeira temporada, e após o sucesso da série, foi renovada para um segundo ano. Estreando no dia 6 de setembro, o seriado caiu nas graças do público e da crítica, sendo uma das mais elogiadas séries da fall season americana.

O Raplogia listou alguns motivos para você ver a série. Confira abaixo:

Você pode conhecer mais o talento de Childish Gambino/Donald Glover

childish gambino

Em 2013 ele teve um dos melhores álbuns do cenário do rap, o Because The Internet. O disco foi aclamado pela sua narrativa, musicalidade e originalidade, algo muito pessoal para Gambino.

Na sua carreira de ator, o personagem Troy de “Community” ficou marcado para os fãs da série – sua saída ajudou no declínio de qualidade da produção.

Em “Atlanta” ele é criador, produtor, diretor (junto ao ótimo Hiro Murai) e roteirista. O artista tem autonomia total nesse projeto, e usa muito bem dela. Talvez seja ela que mostre o talento de Donald para as massas.

A trilha sonora é ótima

Para dar a atmosfera perfeita a série conta com uma ótima trilha sonora contendo rap, funk, soul, e afins. Logo nos primeiros episódios, “Atlanta” apresenta músicas de OJ Da Juiceman à Bill Whiters, que dão um bom clima para a história.

Abaixo fique com uma playlist colaborativa no Spotify com as músicas de todos os episódios até agora. Ouça:

As participações especiais

A abordagem surreal de alguns episódios não atrapalha as aparições de artistas reais na série. O grupo Migos participa de um episódio onde Quavo rouba a cena. A versão ficcional do trio vira um quarteto, e os hilários Four Migos são um dos pontos mais altos da primeira temporada da série.

Segundo Quavo, gravar o episódio foi divertido mas nada fácil, afinal, essa foi a primeira experiência dos três gravando algo que não se trata de um vídeo musical.

Outro que aparece na série mas rapidamente, é o cantor Lloyd. Com a mesma pegada cômica da participação dos Migos, ele participa de um jogo de basquete solidário na série. Há uma aparição do até então desaparecido Lil’ Zane o mesmo episódio.

Temos alguns episódios engatilhados até o fim da primeira temporada, então podemos esperar mais cameos. O mesmo serve para a segunda temporada.

Bastidores do hip-hop

Quando acompanhamos apenas o produto já pronto, não imaginamos como são os bastidores da coisa toda. Uma carreira musical vai além de apertar o rec no estúdio, e “Atlanta” mostra muito bem isso.

O seriado gira em torno de Paper Boi (Bryan Tyree Henry), um rapper emergente no cenário de Atlanta, que não tem um gerenciamento profissional, algo que seu primo Earn (Gambino) tenta prover para ele. Durante os episódios são comuns referências a blogs e sites de revistas do gênero que existem na internet e que divulgam os artistas, nesse caso, Paper Boi.

É notável também o esforço de Earn para ajudar no agenciamento da carreira do rapper, fazendo funções como entregar música para a rádio, marcar entrevistas, posicionar o artista no mercado. Todas essas fases de uma carreira musical estão sendo mostradas na série de maneira bem divertida.

Vai além do hip-hop

Quando anunciada, a sinopse inicial descrevia “Atlanta” como sendo sobre o cenário do rap da cidade, e sim, essa é a base para toda a história, mas não pense que é apenas nisso que se resume a série.

Atlanta” trabalha muito bem sátiras e visões sobre a sociedade norte-americana. Ela é bastante sutil – mas certeira – quando fala de violência contra a comunidade negra, brutalidade policial, transfobia e também relacionamento. Muitas vezes somos pegos de surpresa quando ao decorrer do episódio aparecem essas formas de críticas sociais fodas em situações inusitadas.

Quando fala sobre o rap, a série não mostra apenas o glamour. O personagem Paper Boi é o rapper primo de Earn, que resolve agenciá-lo. Mas ele não parece estar se encaixando com a pressão que a vida de um artista traz, passando por diversas situações onde ele sofre por isso.

Outro personagem que se destaca é Darius (Keith Stanfield), um visionário amigo de Paper Boi que está envolvido em grande parte das cenas que trazem essa pegada mais crítica e cômica. Em determinado momento do episódio 5 ele vai praticar tiro em um estande, levando seu um alvo no formato de um cão, revoltando os outros atiradores. Quando pressionado sobre, ele questiona o uso de pessoas como alvo, em uma metáfora para a quantidade de cidadãos alvejados por tiros no cotidiano – principalmente na comunidade negra.

A série tem um surrealismo que faz dela, segundo palavras do próprio Donald, uma “Twin Peaks de rappers”. Essa forma de abordagem escolhida por ele faz com que a produção tenha um leque gigantesco de possibilidades para trabalhar, o que é bastante empolgante para os espectadores.


Gostou da lista? Então chegou a hora de dar play em “Atlanta” e depois nos dizer o que achou. A série vai ao ar toda terça-feira nos Estados Unidos. Entrei em contato com a filial brasileira do FX para saber se a produção iria ser transmitida na TV fechada no Brasil, mas não obtive resposta. No entanto, a série se encontra disponível na plataforma de streaming da FOX, o FoxPlay, que você pode acessar aqui.

 

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe