Brrioni tem apenas 18 anos, mas sua trajetória no hip hop começou antes. Organizadora da “Batalha do Vicente”, realizada no extremo sul de São Paulo, a MC deu seus primeiros passos recitando poesias, e não precisou de muito tempo para que começasse a rimar. Apresentada ao produtor musical Mano Judão, ela passou a integrar o selo Somos Sul Gang (SSG), a qual ficou alguns meses até assinar contrato com a Deck9 Record’s, produtora musical fundada por Vinex, Mulambo e JP NaIronia também na ZS.
Entre seus lançamentos estão “Deus é Muié e Preta”, “$ai Zika”, e recentemente o seu primeiro trabalho solo, o álbum “Escurecendo”, que contém produção de Vinex (Deck9 Record’s), produção visual de Isac Oliveira e Underground Filmes, e participação de Yojin, Peninha, Mulambo e Thalia Abson. E para entender melhor as influências e a construção do projeto composto pelas faixas “Tempo é Ouro”, “Lado Ruim”, “Fucking Classic”, “Quinta-feira” “Escurecendo”, “Sorriso Forçado”, “Uflix”, “Meu Diamante” e “Flow Bratz”, trocamos uma ideia com ela. Confira abaixo a nossa entrevista!
Raplogia (R): Na intro do álbum você enfatiza que veio para escurecer, já que por muitos anos tentaram ditar que “clarear” era a melhor e até mesmo a única opção. Como o processo de “escurecer” começou na sua vida e posteriormente na sua arte?
Brrioni (B): Esse processo começou a partir do momento que eu comecei a me posicionar sobre certos assuntos que sempre me incomodaram. Nas minhas poesias sempre deixei nítido o meu pensamento pro público, minhas palavras sempre foram muito fortes e o processo da palavra “escurecendo” veio com o tempo e aprendizado. A forma como a ressignifiquei veio depois. Porém, o ato de “escurecer” que é deixar “nítido” venho fazendo desde que me reconheci e entendi a posição que me encontro.
Raplogia (R): E como se deu o processo de criação do projeto?
Brrioni (B): Eu já tinha 3 faixas prontas: “Flow Bratz”, “Quinta-Feira” e “Sorriso Forçado”, e já estava querendo fazer um EP. Então colocamos a ideia no papel, e por fim ficou totalmente diferente do que pensamos. Foi aí que decidi fazer um álbum e recomecei o processo. Comecei brisar junto com o Isac, mas não conseguia botar pra fora o que eu queria comunicar com o álbum, qual seria o conceito e tal. Então ele foi me ajudando, perguntou o que cada faixa queria dizer pra mim e foi anotando tudo numa lousa. Foi então que chegamos a conclusão de que tudo o que eu faço, desde a época que recitava poesias, é para deixar “nítido”, algumas coisas, o que no vocabulário da sociedade racista significa “deixar claro”. Foi então que fui me aprofundando no termo para criar o álbum e inverter a situação.
R:Como você falou, o processo de definir o que cada faixa significava foi um pouco difícil. Acha que agora consegue explicar o que cada uma quer dizer?
B: A intro do álbum explica praticamente tudo o que quero dizer quando uso o termo “escurecendo”, e é a partir desse fio condutor que todas as outras músicas se conectam.
“Tempo é Ouro” sou eu querendo o melhor. Mostrando que corro atrás do que quero e que eu consigo. Aqui falo sobre minhas lutas e cobro minhas glórias. Em “Lado Ruim” eu ressaltei o racismo impregnado há anos no nosso vocabulário. São palavras usadas no dia a dia que são extremamente racistas e prejudiciais na vida de pessoas negras.
Já em “Fucking Classic” eu trouxe bastante influências do funk, falo sobre luxo. Mas o luxo na minha visão. Existem coisas consideradas simples que são luxo pra mim. Aqui também falo de conquistas e do quanto já errei. Mas que superei tudo isso pra ser alguém melhor. Em “Quinta-Feira” eu conto algumas vivências incríveis com o meu namorado atual. Desde que éramos amigos, até começarmos a ficar e enfim namorar! Essa música deixa muito nítido o meu sentimento por esse homem…
A Interlúdio – “Escurecendo”, foi a última faixa que gravei no estúdio e é uma música que estava guardada há quase um ano. Nela eu ressalto o conceito do álbum todo. Falo sobre escurecer e mostro minha indignação com coisas que passei com 16, 17 anos. “Sorriso Forçado” destaco a falsidade das redes sociais, como as pessoas se comportam por trás da tela do celular e o quanto tudo isso é artificial. Mostro muito do meu cansaço e ódio por tudo isso.
Em“Uflix” falo sobre a minha quebrada e sobre todos que me rodeiam. Citei muitos nomes de artistas, músicas e lugares que passei. Já em “Meu Diamante” tornei as coisas mais intimistas e abordei o amor próprio. Eu fiz essa música pra eu ficar bem e começar a me amar mais. Eu espero que todas as mulheres que ouçam essa música se identifiquem e se tratem como seu próprio diamante. E “Flow Bratz” finaliza o álbum mandando um grande foda-se pros homens que cagam pela boca.
R: E como você escolheu as participações do seu álbum? Esses artistas te ajudaram a destacar o propósito do projeto?
B: No começo eu não pretendia ter nenhuma participação no álbum. A primeira que escolhi foi a do Mulambo. Nós tínhamos “Sorriso Forçado” pronta e ela tem tudo a ver com o conceito do álbum, tudo mesmo.
A segunda participação, que na verdade é dupla, que escolhi foram o Yojin e o Peninha em “Lado Ruim”. Eu ia gravar essa música sozinha, mas conversando com o Isac pude perceber como eles se encaixavam nesse contexto. Sabíamos que eles iriam dixavar neste assunto e não podia deixar de colocar meus irmãos no meu primeiro álbum.
A terceira e última participação do álbum foi a Thalia Abdon. Ela fechou o álbum com chave de diamante! A Thalia é uma das vozes mais potentes que conheço e também é próxima a mim. Sou fã dela e poder trabalhar pela primeira vez com essa artista foi uma honra.
Além das participações do “Escurecendo” que são todos de cantores da ZS, você também cita vários artistas do LAU$ e da região na faixa “Uflix”. Para você, qual a importância de criar essa rede que conecta artistas do mesmo local?
Sim, teve referência de uma galera da Zona sul, da minha quebrada. Compus muitas partes dessa música com meu Isac. Dedicamos ela a quebrada no geral. Tato que cito nomes de amigxs que são artistas da quebrada, nomes de músicas delas e deles e lugares que eu já morei ou passei, e que marcaram alguns anos da minha vida. É mó brisa porque aqui todo mundo se conhece e um consome o trampo do outro, então quando ouviram e reconheceram o pessoal que foi citado, todo mundo pirou no baguio. Muita gente que eu citei na música é referência pra mim e pra quebrada toda. Cada pessoa tem um pedaço muito grande dos nossos corações, parece que cada coisa aqui é comemorada e abraçada por todos e isso nos dá muita força! Escrever essa música foi uma honra!
Falando de futuro, quais os seus planos?
Quero mostrar sentimentos e mudar vidas! Mudar minha vida, mudar a vida da minha família e mudar a vida de qualquer um que se identificar com o meu trabalho. Trampo nisso porque eu gosto muito e decidi ganhar dinheiro com o que eu sei e gosto de fazer. Meu plano pro futuro é resgatar o que é meu por direito e estar em lugares que são meus por direito. Quero ter a malandragem do conhecimento. Quero estar suave pra viver e aproveitar, não sobreviver ou morrer.
E pra finalizar, o que você tem a dizer para as pessoas que ouviram “Escurecendo” e que acompanham o seu trabalho?
Me sinto muito especial por ter a atenção de vocês que me acompanham. Creio que se estão me acompanhando estão me entendendo, ou pelo menos tentando me entender e me dando espaço pra falar e ser ouvida. Quem tá com nois, tá com nois, obrigada por tudo e não desistam de nada, foco!
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