Lançado em 10 de Fevereiro de 2004, The College Dropout fez dezoito anos nesse mês e essa data coincidiu – muito provável que propositalmente – com o mês de lançamento do documentário “jeen-yuhs: A Kanye Trilogy”, distribuido pela Netflix e dirigido por Coodie & Chike, o primeiro, acompanhou a carreira de Kanye desde o começo, quando ele ainda era um produtor ligado a Roc-A-Fella com aspirações de ser um rapper.

O documentário mostra em seus dois primeiros episódios, todos os esforços de Kanye West para lançar seu primeiro disco: desde adquirir um contrato oficial com a Roc de JAY-Z e Dame Dash, seu acidente quase fatal e também a desconfiança de todos no cenário, que não acreditavam que aquele jovem de Chicago poderia se tornar um rapper de qualidade, principalmente por ele não possuir o estilo dos artistas de rap na época.

Kanye não ostentava dezenas de correntes, não usava jerseys de futebol americano ou basquete tamanho XXL, ou muito menos rimava sobre violência e drogas em suas músicas. Ele tinha outra visão. E essa visão não passava confiança a todos, principalmente aos principais nomes da parte administrativa da Roc-A-Fella, como Dame Dash, que admitiu na festa de lançamento do College Dropout que Kanye West era “só mais um produtor que falava que podia rimar”.

Eu sempre fui muito fã do Kanye, e The College Dropout é o meu disco favorito da sua grandiosa discografia. Eu não conheci o rapper nesse projeto, afinal, eu tinha 10 anos quando ele foi lançado e também não tinha acesso a internet em 2004. Eu o conheci com “Good Life”, em um DVD de clipes de rap em meados de 2007. Aquele clipe repleto de efeitos com T-Pain me deixou muito intrigado. Quem era aquele rapper? Ao me aprofundar na história dele, um dos meus artistas favoritos surgiu e um dos meus discos favoritos também.

Acompanhar a carreira de Kanye sempre me fez conhecer mais artistas, correr atrás de maiores referências e buscar, além da música, outros interesses que o próprio artista demonstrava. Também, o lado mais introspectivo do rapper me chamou a atenção, pois, principalmente nesse disco, ninguém abordava temas mais pessoais de uma maneira muito presente no mainstream. Dentro da Roc-A-Fella, por exemplo, existia um plantel de artistas mais voltados para um lado gangster/mafioso, completamente destoante do que Ye traria.

Sem contar que foi a partir de Kanye que rappers começaram a abordar problemas com ansiedades, inseguranças, saúde mental, e outros valores. A inspiração de Kanye e de The College Dropout para outros artistas é gigantesca. Nomes como Kid CuDi, J. Cole, The Cool Kids, Childish Gambino, beberam muito desse projeto e de muitos outros da carreira de Yeezy e isso é claramente visto na forma deles fazerem músicas.

O documentário de Coodie & Chike torna muito mais grandioso o projeto The College Dropout. Nas letras daquele disco, você vê um cara muito diferente em temas e com uma visão muito acima da música. É possível enxergar Kanye West como o futuro. E de disco em disco ele foi se tornando o presente.

Assistir nos primeiros episódios a determinação de Kanye para colocar nas ruas The College Dropout é inspirador, principalmente para um fã do disco como eu. Em determinados momentos nós vemos ele no estúdio com artistas gravando aquelas que viriam se tornar os primeiros singles.

Scarface deveria estar em “Jesus Walks”. “Slow Jamz” foi gravada no estúdio de Jamie Foxx pois Kanye não conseguia um estúdio para gravar após se acidentar. “Through the Wire” teve um vídeo feito basicamente em forma de guerrilha por Coodie e Chike, sendo que Ye pagou tudo do próprio bolso.

Saber de tudo isso me deixou incrivelmente inspirado – a ponto de voltar a escrever aqui no site depois de um bom tempo. E me deixou também extremamente com vontade de ouvir The College Dropout, o que estou fazendo enquanto faço esse texto.

Como comentei acima, o disco se tornou ainda mais gigante. Enxergar os bastidores daquele projeto que já era consolidado musicalmente agrega um valor incrível. Da qualidade do projeto, eu nem preciso falar muito, afinal, são dezoito anos de história e muitas análises. Mas em um breve resumo: os samples, as letras, o conceito. Tudo é simplesmente perfeito.

Eu acredito também que “jeen-yuhs” veio em uma época muito importante na carreira de Kanye. O rapper hoje chama mais atenção por suas excentricidades, polêmicas e comportamento nas redes sociais – nesse exato momento ele deve estar bolando algum post contra o ator Pete Davidson, atual namorado da sua ex-esposa, Kim Kardashian. O documentário resgata um pouco daquela antiga sensação que tínhamos com o artista.

O nome desse post possui a expressão “old Kanye” (criada por aqueles que falam que o rapper de 18 anos atrás era muito melhor musicalmente e conscientemente do que hoje) serve apenas para ilustrar que nós precisávamos relembrar quem foi o artista e o quê ele significa. Kanye é sem dúvidas um dos grandes nomes da música da nossa geração – talvez o maior – e até hoje nós podemos enxergar sua inspiração em artistas que já surgiram e estão consolidados, como em outros que estão surgindo.

Esse resgate não precisa ser uma passada de pano para Kanye, que costuma em certos momentos ter falas e atitudes quase que indefensáveis. Mas sim uma lembrança de que a história do rapper é importante para a música e principalmente para o rap.

E ouvir The College Dropout é uma tarefa obrigatória após assistirmos jeen-yuhs.

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe