Em Junho de 2018, a cantora britânica Jorja Smith lançou o seu disco de estreia Lost & Found, um projeto extremamente conciso que viaja pelo R&B, jazz, soul e hip-hop. O talento da artista transcende os gêneros e ela, logo em seu debute, mostra ao que veio.

Jorja se tornou uma grande artista do cenário do R&B – podemos incluí-la no hip-hop também. Sua musicalidade conquistou o mundo, e 2018 foi o seu ano.

Como ela despontou?

Rashid Babiker.

Em contato com a música desde a sua infância, ela começou a tocar piano aos 8 anos de idade. Ela também estudou música na Aldridge School, em Watsall, sua cidade natal. Watsall fica ao oeste da Inglaterra e é uma cidade relativamente pequena, e quando começou a colocar vídeos no YouTube com covers de músicas famosas, ela recebeu contato de agentes e tempos depois, seguiu para Londres.

O seu primeiro single saiu em 2016, “Blue Lights”, que fez parte do disco Lost & Found. Sampleando a famosa “Sirens” de Dizzee Rascal, a cantora cantou sobre a consciência pesada de pessoas que não fizeram nada de errado. Em entrevista ao Genius, ela explicou:

“Eu falo para essas crianças de 11 anos, “O que você pensa sobre a polícia?” Eles respondem, “Foda-se a polícia! Eu odeio eles.” Eu pergunto o que eles fizeram e eles respondem que nada, mas que eles os odeiam. É triste, pois está dentro da gente, temer a polícia.”

Na música, Jorja canta e arrisca algumas rimas. Sua belíssima voz dá um toque especial a parte de rap, e o sample de Rascal também torna a música ainda mais crua. Ele foi um dos primeiros artistas do grime a fazer sucesso mundial, e o vídeo de “Sirens” inspirou a cantora a escrever essa música.

Dentro de “Blue Lights”, podemos notar uma das grandes qualidades de Jorja: a composição. Essa história surgiu quando a cantora viu um canivete em uma mochila de um de seus amigos, e se perguntou o motivo do objeto estar lá. Ela tomou esse pequeno caso e transformou em uma grande música. O vídeo fica bem claro a referência as perfilagens policiais e o medo que a polícia instaura dentro de algumas pessoas.

Com 400 mil plays no SoundCloud, a cantora chamou atenção dentro e fora da Inglaterra. Drake colocou a música como um dos destaques daquele ano em uma edição da Entertainment Weekly, um ano depois, a cantora estaria na playlist More Life do rapper, assim como performando em turnês com o mesmo.

Em Novembro de 2016, a cantora lançou também no SoundCloud o EP Project 11, um projeto de 4 faixas que adiantava o que estaria por vir na carreira da cantora. Críticos ao redor do mundo compararam a musicalidade do EP com o primeiro disco da cantora britânica Amy Winehouse, Frank, de 2003.


Jorja Smith já colocou Amy como uma das suas maiores referências e Project 11 deixa isso ainda mais claro. Em Frank, Amy contou com com a colaboração de Salaam Remi na produção do disco, que deixou o projeto com uma maior pegada urbana e hip-hop. Remi foi colaborador de Amy durante toda sua carreira.

Jorja tem exatamente o mesmo sentimento no seu EP, uma pegada meio R&B, meio soul e com fontes bebidas do hip-hop. Em 2017, além da participação da cantora no projeto More Life, de Drake, ela esteve também na música “Tyrant”, primeiro single do disco Isolation, da cantora colombiana Kali Uchis, que vem sendo um dos grandes destaques de 2018.

O talento da cantora cruzou o mundo. Além de Drake, Kendrick Lamar começou a prestar atenção na cantora de 20 anos. Em Fevereiro de 2018, a cantora performou a música “I Am”, na trilha sonora do filme da Marvel, Black Panther, que teve curadoria do rapper da Top Dawg. Relembrando o encontro com Kendrick e a sessão no estúdio, Jorja disse que foi sozinha até o local, pronta para compor e gravar a música, em um ato que muitos viram com tremenda personalidade.

Leia também: A trilha de “Pantera Negra” é tão boa quanto o filme.

Com o grime em alta, a cantora também gravou com alguns artistas do gênero. Em 2018, “Let Me Down” foi lançada com a participação de Stormzy. A música não estaria no disco Lost & Found, que seria lançado meses depois.

Lost & Found: o disco

Rashid Babiker.

Em Abril, Jorja anunciou que o disco sairia no dia 8 de Junho. Lost & Found foi lançado pela FAMM, gravadora britânica e distribuído pela The Orchard.

O projeto foi extremamente bem recebido pelos críticos, o qual descreveram como “um ótimo primeiro rascunho da carreira” de Jorja. Extremamente autêntico, foi escrito em um período de cinco anos segundo a cantora, então, existe uma grande evolução pessoal dentro daquelas letras.

Jorja estava prestes a completar 21 anos no dia do lançamento, as letras mostram uma amadurecimento e a entrada na vida adulta.

A musicalidade do trabalho pode ser definida como uma grande mistura de jazz, R&B, e hip-hop. Jorja escolheu a dedo seus produtores, e trouxe nomes como Tom Misch, Michael Uzowuru e Jeff Kleinman. Os dois últimos trabalharam juntos no disco American Boyfriend, de Kevin Abstract, lançado em 2016. Tem uma onda bastante noventista em alguma das músicas, que para os mais nostálgicos, vai cair muito bem.

Jorja, em sua escrita, é bastante madura, como anteriormente citado. Falando sobre relacionamentos, ela se mostra bastante segura do que fala, por exemplo. “Eu preciso crescer e me achar, antes que eu deixe alguém me amar/Pois no momento, eu não me conheço,” canta ela na ótima “Teenage Fantasy”.

Mas a cantora não deixa de cantar sobre problemas sociais e outros assuntos, mostrando que seu conhecimento e lirismo vai muito além do comum para uma cantora pop dos dias atuais.

Para mim, esse é um dos melhores discos do ano. Desde o lançamento, Jorja tem um espaço cativo nos meus fones. Ela está correndo junto com a nova onda de artistas britânicos que fazem parte do hip-hop e R&B, e me ajudou bastante a buscar mais conhecimento sobre esses mesmos artistas.

Vale a pena acompanhar a evolução de Jorja Smith – ah, e ouça o disco abaixo:

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Jhonatan Rodrigues

Jhonatan Rodrigues

Fundador do Raplogia em 2011. Ex-escritor do Rapevolusom e ex-Genius Brasil. Me encontre no Twitter falando sobre rap: @JhonatanakaJoe