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Deserto de Danakil | Resenha

By 30 de novembro de 2018 No Comments

Danakil é um deserto etíope – situado no nordeste da África e gases tóxicos, lagos cheios de enxofre e temperaturas altíssimas fazem com que ele seja conhecido como o “inferno na Terra”. A descrição não é nada convidativa, mas quem se aventurar a chegar perto verá que todas essas características fazem do local um dos mais bonitos e diferentes do planeta.

Paisagem da Depressão de Danakil, na Etiópia (Foto: Reprodução)

Até pouco tempo, a ciência havia demonstrado muito pouco interesse em estudar essa bizarra região. Com isso pesquisador espanhol Felipe Gómez, do Centro de Astrobiologia da Nasa, pediu que a agência espacial montasse uma expedição para estudar as condições da Depressão de Danakil. O pedido foi atendido e, no início de abril, Gómez se tornou o líder da primeira expedição que estudará este lugar peculiar. “É um lugar incrível, mas também muito hostil”, comenta o pesquisador. É nessa paisagem que Dro, rapper do ABC Paulista situa o seu primeiro trabalho.

Meu peito é feito deserto de Danakil
Erupções vulcânicas, difícil de habitar

– Dro, em Deserto de Danakil (feat. João Alquímico)

                            

Por muitas vezes, o rap underground deixa a dever na caneta para apresentar um trabalho com mais originalidade, experimentação no conceito ou o que seja. Não é o caso aqui. Dro consegue combinar boas rimas, metáforas e flow afiado junto a um conceito temático e sonoro interessante e traz Guilherme Ayres, João Alquímico e niLL como participações – a cereja de um bolo ácido feito no meio do deserto.

Em Nuvem Roxa, Dro abre o disco narrando reflexões de um término, complementada por Manutenção da Alma – a qual ele já aparece mais apaixonado, se declarando. O melhor dessas faixas é que são canções com a temática do amor que não se prendem a declarações clichês a mulher amada ou rimas rasas sobre o sexo, mas aprofunda em situações que giram ao redor de todo relacionamento.

E eu tô tipo far away
Mas não se aveche
Lembra o filme que aluguei?
De faroeste
Lembra um pouco de você…
Deserto e sangue
Quantas balas eu desviei

– Dro, em Nuvem Roxa (Far Away)

No meio das duas músicas, temos A do Bebê que junto da faixa-título é a minha favorita do projeto. Nos versos, Dro empilha barras sobre seus desejos e sonhos, enquanto no refrão ele bota os pés no chão novamente, consciente do que precisa pra chegar onde quer. E quando ele termina o segundo verso com “esquento o caldo, fervo, já tô cheio desses rap morno” já se sabe que ele tá jogando sério. Os refrões também são um grande trunfo do disco, impossível terminar a audição sem estar cantando: “quando essa aqui tocar eu quero o som bem alto…” ou


Bote os seus óculos escuros
Que eu vou passar com meu sorriso amarelo
Brasas chovem enchem o meu moletom de furos
Não impedem de seguir erguendo meu castelo

– Dro e niLL em “Óculos Escuros, Moletons Furados

 

Essa tem participação do niLL e vídeo feito pela JODO

                          

E mais uma grata surpresa: os beats meio stoned meio cloud rap foram todos produzidos por Dro e segundo as informações no YouTube, as músicas foram gravadas no estúdio “Em casa mesmo”. O EP termina com um instrumental que deixa uma sensação de chuva ácida no meio do Deserto, a qual já estamos protegidos pois fazemos parte do cenário. Deserto de Danakil é um projeto coeso e objetivo e você com certeza deve ouvir se busca uma paisagem diferente do que tá rolando.

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