Fala pessoal, essa semana devido a correria (trabalho e doutorado), não consegui finalizar a coluna dessa semana. Porém, tinha um material escrito que deu origem a coluna que merece chegar a vocês. São três destaques de lançamentos que aconteceram ainda em Abril. Dá um confere.


1. Emicida em “Eminência Parda”

Era um nada, hoje eu guardo um infinito
Me sinto tipo a invenção do zero

O “retorno” do Emicida com a faixa “Eminência Parda” deixou os fãs do MC perplexos. A faixa contém inúmeras linhas memoráveis, mas a que me chamou mais atenção foram estas destacadas acima que relacionam a história de vida e carreira do MC com uma pitada de história da matemática e cultura negra.

Para quem não sabe a origem do número zero remonta mais de 17 séculos antes de Cristo, com os egípcios, que tinham um sistema numeral de base 10. O décimo algarismo, o zero, surge da necessidade de representar valores na ordem de dezenas, centenas, milhares, por exemplo, acrescentando o algarismo zero ao lado dos números. Além disso, há a necessidade de representar algo nulo ou o vazio a partir de um algarismo numérico.

A importância de Leandro trazer isso para faixa é de posicionar a contribuição dos negros em algo que usamos todos os dias e nem imaginamos tem uma ligação com uma cultura e história negra. Sendo assim, estas linhas ainda fazem um paralelo com o próprio Emicida que mesmo vindo do zero hoje possui uma gama de possibilidades que talvez o próprio jamais poderia imaginar, seja na música ou na moda.

Imagem de divulgação do videoclipe “Eminência Parda”

Além de ser uma nova colaboração do “Zika da rima e o zika da base (NAVE)”, também conta o Jé Santiago, um fenômeno nos hits, e Papillon, MC Português que tem ganhando notoriedade desde o ano passado. Por fim, vale ainda conferir o clipe de tirar o fôlego e buscar saber um pouco mais sobre o que significa cada linha e o próprio título da faixa.


2. LK em “Meu Jardim”

Eu fugi do mundo de ilusões, o náufrago
Meio amargo, meio mago

Automaticamente quando comecei a ouvir esta faixa me lembrei de “Mundo de Ilusões”, talvez a faixa mais famosa do grupo e que está lá no início desse ciclo de 10 anos. Isso mesmo, 3030 já tem 10 anos e quando eu ouço Emicida ou Mano Brown falando que o rap hoje pode falar de outros temas, quem me vem na cabeça primeiro é este grupo.

Estas linhas representam justamente todos estes sentimentos, uma alusão a uma das faixas mais marcantes do grupo e os coloca com um grupo deslocado do cena (“o náufrago”). Pois muitas vezes o grupo não está nas discussões entre os melhores artistas/grupo que temos atualmente. O grupo inclusive tem sido vocal com relação a essa questão. Rod, num tom amargo no seu twitter [1,2] expõe essa questão, mas mesmo assim este não é um motivo para o grupo continuar a lançar suas músicas com certa “magia”, com uma energia e ritmos diferentes da cena.

Capa inspirada no disco TROPICALIA, inspirada no disco ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ da banda The Beatles

TROPICALIA fala muito de amor, mas não só no sentido romântico, um amor ao próximo e um amor ao Hip Hop. É também um álbum que os temas conscientes estão lá, muitas vezes em outras camadas das faixas e sem que você perceba a mensagem vai sendo passada. Desta forma, é um álbum muito bem produzido e com excelentes participações, algumas inclusive internacionais como Cozz (da Dreamville) e Hit-Boy na produção (produtor de “Niggas in Paris” e artistas como Travis Scott) – o grupo soltou um vídeo mostrando os bastidores com o produtor.

Uma boa pedida para quem quer explorar outros sons, afinal 3030 sempre conseguiu conversar com diferentes ritmos sem perder a essência do rap, e valorizar um dos grupos mais ativos da cena nos últimos 10 anos.


3.Froid em “Cannavaro”

“Quero que deixe dúvida… Isso mesmo, dúvidas?
Quero que entenda tanta coisa e não uma única!
Espero que entenda alguma…”

Entre críticas e memes, Froid retorna mais uma vez com uma nova mixtape, desta vez em conjunto com Santzu. E quem tem acompanhado o trabalho do MC pode ter ficado insatisfeito com alguns de seus últimos projetos ou faixas, mas uma coisa é certo, sempre há algo, música, verso ou projeto novo com Froid para os fãs. Eu, particularmente, tenho gostado de alguns versos do Froid e outros nem tanto, o que mudou com a chegada deste disco colaborativo.

Nesta nova mixtape, talvez essas linhas sejam as que mais descrevem a obra do Froid. O objetivo do MC sempre foi trazer e deixar questionamentos no ar, não só com as letras, mas também com suas atitudes e com seus trabalhos visuais – basta ver o clipe da recente faixa “¿donde?”, onde, por exemplo, faz novamente alusão à terra plana.

Imagem da Terra Plana no videoclipe da faixa “¿donde?”, que levanta uma das muitas dúvidas propostas pelo MC

A característica que permite com que ele consiga fazer o ouvinte se questionar é a sua habilidade em misturar memes e situações que viralizaram na internet em suas obras. A introdução ao álbum traz o sample de um meme de um indivíduo falando sobre o Cristiano Ronaldo e o próprio Adriano Imperador logo na sequência para complementar a ideia. Contudo, CR7, Adriano e o próprio Froid continuam, não param apesar das críticas. Para citar mais um exemplo, temos a segunda faixa batizada como “Vem Tranquilo” do vídeo de uma briga de rua que viralizou. Algo que retorna a aparecer em todas as letras do disco, poise sempre há alguma referência bastante recente incorporada de alguma forma nas letras.

O Homem Não Para Nunca vol.1 é o Froid respondendo, de certa forma, aos fãs e críticos que começaram a desacreditar no MC. Ao mesmo tempo é um disco que o Santzu se sente a vontade em partilhar com seu conterrâneo de Brasília. As produções são criativas como as letras e também merecem atenção do ouvinte.


É isso galera, semana que vem voltamos a programação normal com uma coluna um pouco mais recheada para compensar. Até.

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