Aos 45 do segundo tempo e após muito debate entre os fãs de rap nas redes sociais, nossa plural equipe montou a lista de seus álbuns favoritos no ano. Cada escritor selecionou dois ou três discos e fez um breve comentário sobre, pra você que quer saber se aquele álbum tão falado vale a pena mesmo ou até descobrir algo novo que você ainda não tinha ouvido.
Começando com nosso patrão, o fundador do Raplogia, Joe Rodrigues:
Pusha T – Daytona
Esse disco abriu as série de discos das Wyoming Sessions de Kanye West. Foi extremamente importante a participação de Ye no projeto, pois Pusha T está inspirado como nunca e extremamente cirúrgico. Além disso, o projeto é bastante polêmico, com indiretas para outros artistas do cenário que fizeram as semanas seguintes virarem um campo de guerra. Aprecio muito o uso dos samples no projeto, o fato de tudo ser curto e objetivo também ajudou o disco a ser grande.
Travis Scott – Astroworld
Não dei muita bola no início para Astroworld, mas quando ouvi o trabalho de Travis Scott, logo foi para meu top 5 de melhores do ano. O disco exala criatividade em todas as músicas e ainda mais quando os vídeos foram lançados. Eu acho até um pouco difícil de colocar a música de Travis em um subgênero como muitos fazem, prefiro ouvi-lo e me inspirar com tamanhas ideias.
Dirty Dike – Acrylic Snail
Não é um disco para se ouvir em muitas situações. Mas se você estiver andando sozinho na madrugada com um saco cheio de aranhas em uma mão e uma pote de vidro com picles em conserva na outra, esse é seu disco. Dirty Dike na rima e na produção. É sujo, é agressivo, é intenso.
JID – DiCaprio 2
Lembra o Kendrick? Um pouco. Mas esse trampo tem um gosto de juventude. Tem uma maldade, um swing. É bom pra caralho de ouvir. Moderno sem ser repetitivo e com momentos saudosistas também. Esse é um daqueles projetos com músicas para um churrasco e músicas para um assalto a banco.
Pusha T – Daytona
Conceito estranho de 7 faixas. Confesso que antes de sair fiquei decepcionado ao ver a playlist curta. Mas, quando o disco saiu, eu entendi. Não precisava nem deveria ter mais faixas. Ficou coeso. Obrigado de novo Kanye West (apesar de tudo).
Menções Honrosas:
Idles – Joy As An Act Of Resistence (meu terceiro disco do ano, mas no Raplogia nós falamos sobre rap, então promovi o do Pusha-T)
Hundredth – Rare
Jay Rock – Redemption
Jam Baxter – Touching Scenes
Evidence – Weather Or Not
J. Cole – KOD
Tierra Whack – Whack World
Tierra inovou no conceito desse álbum e lançou ele inteiro pelo Instagram. Juntas, as músicas somam 15 minutos que te fazem experimentar um turbilhão de sentimentos de uma só vez.
De início, parece que as canções por terem menos de um minuto não têm muito a dizer, mas depois que você ouve novamente percebe que os assuntos tratados são muito mais complexos do que parecem. A descoberta do que o álbum aborda ocorre aos poucos. Ah, e a sensação de querer que músicas como “Fruit Salad” fossem maiores também é um sentimento constante após a audição do disco.
BK – Gigantes
Sempre tive um apresso por “Castelos e Ruínas” e apostava muito no novo álbum do BK’. Fico feliz em dizer que não me decepcionei e que “Gigantes” me surpreendeu bastante.
O flow característico de BK’ permanece em “Gigantes” mas há uma pegada muito mais livre em relação à mistura com outros ritmos do que o projeto anterior – e do que eu achei que teria também. O novo disco deu uma avançada em qualidade de produção e evidenciou o zelo por uma linguagem e por uma estética que compõem e agregam muito a todo o trabalho.
Solveris – Vida Clássica
Vida Clássica é sem dúvida o álbum que mais ouvi, fiquei fascinado pelo som desse grupo capixaba. A partir de uma mistura entre jazz, soul & R&B, os integrantes fazem músicas muito diferentes do que estamos nos acostumando na cena nacional, o que dá um tom de originalidade, embora o recente Boogie Naipe do Mano Brown também tenha essa pegada. Se você ainda não ouviu, provavelmente perdeu uma das coisas mais bonitas de 2018 no rap nacional.
Logic – YSIV
Convencido por um colega do Raplogia, Raul Marques, comecei a ouvir Logic há algum tempo e de certa forma virei um fã, mas foi este último disco que mais me cativou. Fortemente influenciado pelo boombap dos anos 90 mas com uma pegada moderna, rapidamente fui fisgado. Talvez seja o melhor projeto que já ouvi do MC e vale a conferida só pelo fato dele juntar o plantel original do Wu-Tang em uma faixa só.
Slim Rimografia – SinGo
Fã de longa data do Slim, fiquei feliz que ele tenha retornado a cena, e muito bem diga-se de passagem. Este EP reúne algumas músicas que o MC vinha lançado desde o ano passado e mais algumas inéditas, todas com uma pegada bastante experimental e voltada para o trap e o grime. É bom ver um veterano com tanta vontade e renovado.
SiR – November
Segundo álbum da carreira do SiR e seu primeiro lançado pela TDE, November fugiu do papo talarico do R&B tradicional e fez um conceito bem foda. O álbum narra a partida do SiR para uma viagem espacial, enquanto ele desabafa sua sofrência com a AI da nave, conhecida como K. Outro acerto do jovem de Inglewood foram os clipes maravilhosos, destaque para Summer in November e D’Evils, ambos feitos por outra revelação de 2018, Karina Evans.
Evidence – Weather or Not
Em meio a tanto trap e lo-fi lançado esse ano, o veterano Evidence lançou um álbum de rap que atingiu até a parada da Billboard, feito ainda difícil para um artista que se mantem underground. Produções ficaram bem fodas e o principal, um álbum de rap que tem SCRATCH. E tem a To Make a Long Story Longer, com o homem da voz mais bonita do gênero: Jonwayne.
Mude seus planos – Gatilhos de Brinquedo
Estreia do duo direto da zona leste de São Paulo, mas de dois já nem tão estreantes do Rap. Mude seus planos é a parceria do Mud e do Plano B, integrantes do grupo Ho Mon Tchain. Toda a produção e masterização foi feita pelo próprio Mud, Gatilhos de Brinquedos é o passo seguinte de uma caminhada que ainda pode render muita coisa foda. Destaque para Lembrete que foi um dos sons que mais escutei no ano.
E a capa é foto do meu corno manso favorito, Marcola.
Buddy – Harlan & Alondra
Buddy é um garoto da California que foge do esperado dos novos MCs de lá. Em uma cena que volta a efervescer o Gangsta rap e o coke rap com álbuns como Supreme Blientele do WestSide Gunn ou Still Dangerous do YG; Buddy te leva pra um rolé de conversível nas praias de LA, e mesmo sabendo fazer os sinais de gangue, prefere dançar e sentir o vento no rosto. O garoto, que já tem um EP todo produzido por KAYTRANADA, conta com o respaldo de lendas como Snoop Dogg neste disco e nomes consagrados da nova geração, como A$AP Ferg. Entrega sons chill, não deixa a dever tecnicamente em termos de rima e é assinado com a i am OTHER, label de ninguém mais ninguém menos que Pharrell Williams. Precisa dizer mais? Solta o play!
Earl Sweatshirt – Some Rap Songs
Chamado de “Sadvillain” (em referência a Madvillain) por seus fãs, o álbum Some Rap Songs, terceiro da carreira de Earl, o reafirma como um artista único e super necessário pra cena. Com um conceito que se apresenta despretensioso e alternativo (da capa aos beats) para tratar de assuntos profundas nas linhas, SRS é uma progressão da caminhada de Earl desde os tempos de OF como o “liricista esquisito” mas também é algo totalmente novo, de alguém que não tem medo de mudar. Como reencontrar um grande amigo após um tempo sem vê-lo, entender que ele teve suas evoluções, mas no fundo ainda conserva as características daquela pessoa que você aprendeu a amar. Obrigado por isso, Earl Sweatshirt.
Piink Sifu – ensley
Ensley é como se fosse o par perfeito de Some Rap Songs. Sendo quase 2x maior (SRS tem cerca de 25 minutos), o rapper de Los Angeles construiu em cima de batidas robustas um disco que parece uma colagem sonora, composto de spoken words e faixas curtas em sonoridade lo-fi. Com influências de J Dilla, D’ Angelo, Isaiah Rashad e principalmente do produtor Knxwledge (grande parceiro de Earl), o álbum de Piink Sifu é coeso e toca em temas importantes, já que o rapper é declaradamente anticapitalista e endossa a luta pela igualdade racial. Por hora soa repetitivo, talvez pelo tamanho, mas é também imersivo, um disco para sentar no sofá, apagar a luz e participar da experiência.
Menções honrosas:
– Thierra Whack – Whack World
– Mick Jenkins – Pieces of a Man
– Anderson Paak – Oxnard
– BK’ – Gigantes
– FBC – SCA
– RT Mallone – Vendedor de Sonhos
E o seu top 3, qual foi? Deixa pra gente aí nos comentários!