O rapper Nipsey Hussle faleceu no último domingo (31/03) e deixou os fãs de rap pensando no que ele ainda poderia nos entregar como artista. Seu primeiro e único disco de estúdio, Victory Lap, lançado ano passado, foi a cereja do bolo de uma carreira de quase 15 anos que quase sempre permaneceu de forma independente.
Em 2005 ele deu seus primeiros passos no cenário com a mixtape Slauson Boy Volume 1. Três anos depois, os dois volumes de Bullets Ain’t Got No Name chamaram atenção da Cinematic Group e da Epic Records. Pouco tempo depois, fora de ambos os selos, o rapper criou sua própria gravadora, chamada de All Money In.
O single de 2008 “Hussle in the House” fizeram o rapper aparecer em vários sites e publicações de hip-hop, e em 2010, Nipsey foi capa dos calouros da XXL junto a nomes como J. Cole, Wiz Khalifa, Jay Rock, Freddie Gibbs e Big Sean.
As mixtapes da série Marathon, lançadas em 2010 e 2011, foram extremamente elogiadas e o nome de Nipsey começava a circular ainda mais no cenário. Ele sacudiu o jogo em 2013, com a mixtape Crenshaw.
Intitulada com o nome do bairro natal do rapper, a mixtape Crenshaw ganhou bastante notoriedade devido sua consistência. Críticos chamaram Nipsey de um “diamante ainda não lapidado”. Mas foi a forma da divulgação do projeto que chamou a atenção.
Nipsey criou a campanha Proud to Pay (Proud2Pay) para divulgar Crenshaw. Além de postar a mixtape para download gratuito em sites do gênero, o rapper colocou a venda mil cópias físicas do projeto, custando 100 dólares cada. Além do CD, os fãs ganharam a chance de encontrar Hussle, ter um autógrafo, e também ingressos para um show privado.
A jogada deu tão certo que em um dia, o rapper faturou cerca de cem mil dólares vendendo as mil cópias. Ele também chamou a atenção de JAY-Z, que comprou cem cópias de Crenshaw.
Para a prensagem do CD, Nipsey gastou cerca de 75 centavos por unidade. O lucro de Crenshaw foi de 1300% segundo ele em entrevista.
“É 2013. Quer aceitemos ou não, comprar música é uma escolha, não um requisito. Quando penso na psicologia por trás do que me faz comprar um álbum de artistas, é sempre uma forma de retribuição. A razão pela qual eu escolhi cobrar 100 dólares por unidade e só começar com 1000 unidades, é porque eu costumo fazer minhas músicas para aqueles que estão ouvindo. Não se trata de sair fora da minha zona na esperança de novas descobertas. Cada vez menos os fãs estão sendo bem tratados. Estou focando em servir aqueles que estão conectados. Dito isso, é algo de valor acima do volume. Eu não vou oferecer um produto feito sem compromisso ou concessão para as plataformas. Então a forma que vendemos tem de mudar.”
Valorizar sua música e a experiência dos fãs foi uma ideia que Nipsey tirou de um livro escrito por Jonah Berger, que falava de uma história sobre um restaurante na Filadélfia que vendia cheesecakes por 100 dólares cada.
Seu principal objetivo com isso foi ir contra as gravadoras e empoderar o cenário independente. “Como artista, meu objetivo é inspirar, entreter, motivar e o mais importante de tudo, INOVAR. E como amantes de arte, nós deveríamos basear nossas compras na habilidade do artista. Dito isso, se minha presença no cenário teve efeito em você, 100 dólares é uma maneira de dizer para não mudar. Não é sobre preço da capa de plástico ou do disco… é o preço da revolução! O preço de uma rebelião contra uma indústria que engana todos nós fazendo produtos sem alma por medo de não ser ouvidos.”
O legado de Nipsey vai além do musical. Tínhamos um visionário entre nós.
Descanse em paz, Nip!