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Top 10 dos Autores: David

By 24 de julho de 2016 No Comments

Minha lista de álbuns prediletos é feita por aqueles com os quais eu possuo uma relação muito singular. Não há 10 álbuns de rap que conseguiram interagir comigo de uma maneira tão profunda. Então, não pude tomar esse sentido como parâmetro de seleção. Mas só depois de tentar elaborar inúmeras listas foi que percebi isso. Em seguida, pensei em usar um critério mais analítico, o de complexidade do trabalhos. Alguns artistas constroem projetos que pedem para ser desmontados, calculados, remontados e é uma tarefa pela qual eu tenho muito prazer, daí eu poderia citar Del The Funky Homosapien, Gasoline, Hishkas, MC Solaar, mas isso não seria tão espontâneo.

Depois de quebrar a cabeça, percebi que minha lista deveria ser fruto de algo simples. Muitas das coisas mais genuínas da vida são simples. E se tem uma coisa para qual música funciona é: melhorar minha autoestima. E, de repente, esse é um grande motivo pelo qual eu ouço rap. O primeiro rap que eu ouvi foi do Vinimax, Neuróticos, que diz:

“Então dance e cante cabeça erguida se liga
A vida também tem os seus momentos de alegria
Ta no salão então, faça seu show
Descarregue o stress, seja feliz, demorô”

Quando fui apresentado a esse som, há 12 anos(?!), eu achei demais. Rap é vida! Carrego isso comigo desde sempre. E viver é um fenômeno em diversos formatos. Dito isso, eis o Top 10:

Erykah Badu – Mama’s Gun (2000)

É difícil apontar o melhor álbum da discografia de Erykah Badu. Baduizm é uma luz em meio ao obscuro machismo da cultura Hip Hop e uma injeção letal de groove! Mama’s Gun, seu segundo álbum, é menos doce que o debute, igualmente pulsante (e aqui é importante citar o lindo trabalho do percussionista Questlove) e muito mais espiritual. A faixa introdutória, Penitentiary Philosophy, representa bem isso. É um álbum gostoso do começo ao fim, que apresenta uma mulher em diversas faces, e a versão holandesa (2001) traz cinco faixas bônus. Uma delas, Your Precious Love, tem a maravilhosa participação do rapper D’Angelo.

É válido lembrar que se você curte Drake, Chance The Rapper e artistas semelhantes, mas não conhece a discografia de Erykah Badu, então você está cometendo um erro enorme.

Nate Dogg – Music & Me (2001)

Por sorte, esse foi o primeiro álbum do rei do G-Funk que ouvi e é, sem dúvidas, o seu melhor projeto. Também conhecido como Rei dos Refrões (e Music & Me deixa bem claro o motivo da alcunha), Nate Dogg é um dos artistas mais autênticos que o hip-hop já produziu e um dos meus preferidos. Costumo pensar que se Frank Costello fosse Frank Lucas, Scorsese teria chamado Nate Dogg para fazer a trilha sonora d’Os infiltrados. Ou vice-versa, não importa. É como Fabulous diz no remix que encerra o disco:

“I got love, but I still stash the toaster closely”

Orishas – Emigrante (2002)

O trio consegue aliar discurso político e musicalidade de forma ímpar. Fazem resgate não só de elementos de ritmos tradicionais cubanos, Rumba e Salsa, como do folclore da ilha através de suas narrativas e juntam tudo isso em críticas fortíssimas ao governo de Fidel, sem deixar de lado o romantismo. Sacou?! Emigrante é música para protestar, sorrir, amar e, antes de tudo, dançar!

Costa a Costa – Dinheiro, Sexo Drogas e Violência de Costa a Costa (2007)

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Este é um trabalho essencialmente visceral. Não é platônico, não é sutil, não é metafórico. E é violento por ser tão sincero. Samba e brega estão difusos em meio a ritmos caribenhos, enquanto o grupo apresenta 23 narrativas que, segundo eles próprios, são “extraídas da vida real dunego de 11/2006 a 04/2007 “. É exatamente o que o título diz, nem mais, nem menos: dinheiro, sexo, drogas e violência de costa a costa.

Don L – Caro Vapor, Vida e Veneno de Don L (2013)

Caro Vapor é autoajuda sem fórmulas. Ou seja, não é autoajuda.

A mixtape diz: “Viva! Tenha tesão pela sua vida! Viva cada segundo como se quisesse que ele fosse eterno!” A eternidade em um segundo é tempo infinito num espaço ínfimo, o que torna cada segundo muito denso. É assim que interpreto. A questão aqui é: não existem fórmulas para viver assim. Cada pessoa tem sua maneira e para cada segundo existem inúmeras possibilidades de ação. Então, sem equações não é autoajuda, é a estrada da liberdade. Caminhar por essa estrada é uma tarefa tão apaixonante quanto aterrorizante.

Snoop Lion – Reincarnated (2013)

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Retirado do Digital Booklet de Reincarnated

Snoop Dogg entrou na sua fase “Racional” e compôs o feliz e enérgico Reincarnated. Brincadeiras à parte, é um álbum com discurso importante, apesar de tardio, vindo de um cara importante: Snoop atravessou os anos 90, sobreviveu e, mais que isso, continua relevante. Essa associação se torna tão mais significativa quanto mais se conhece o discurso gangsta do rapper. É como se Reincarnated fosse uma versão The Abyssinians de Snoop Dogg.

The real Snoop – Tha Blue Carpet Treatment (2006)

Ninguém faz gangsta como Snoop! Blue Carpet é uma viagem hipnotizante, sexy e luxuosa. Seu melhor álbum desde Doggstyle. Se existiam limites artístico para o rapper, ele foi lá e empurrou a cerca, aumentou seu raio de alcance em mais uns quilômetros. Snoop consegue ser extremamente versátil, passando por Psst! com Jamie Foxx, pelas obscuras Gangbangin’ 101 (The Game) e Vato (B-Real) até a sublime Imagine, que conta com participação de D’Angelo e produção magnífica de Dr. Dre, que talvez seja o principal responsável pela re-acensão de Snoop nesse período.

Chant Down Babylon – prod. Francis Lawrence (1999)

Bob Marley é política, por consequência é vida. Não existe vida fora da política porque não existe vida fora de um contexto social. Viver em sociedade é política. Não consigo dissolver essas relações. Imagina isso acrescido de rap?! É a revolução! [risos] As maravilhosas Erykah Badu, Lauryn Hill e MC Lyte, além de Guru, Rakim, Chuck D e outros tantos rappers, compõem duetos com Bob Marley ao longo de 12 faixas.

Chant Down Babylon não é uma coletânea de músicas, é energia que flui pelo ambiente, que atravessa a alma, que deforma o horizonte.

Existe uma impossibilidade de indiferença diante desse projeto.

PAC .96 – All Eyez On Me/Makaveli (1996)

Nessa hora me pego sem saber o que dizer. Tupac é meu rapper favorito, mas tenho pouquíssimas palavras sobre ele. All Eyez On Me é um álbum excelente com inúmeros clássicos e é uma coletânea de músicas para tudo. Lá, Tupac se apresenta como o amigo, o gangsta, o profeta, o muitas coisas entre infinitos formatos de si mesmo. Já The 7 Day Theory é um disco que não passa pelo seu canal auditivo, ele vai direto na sua alma, se instala na coluna vertebral e depois de percorrer cada nervo, te deixa em êxtase. É o melhor álbum que Tupac, infelizmente, nunca lançou. É um bombardeio de raiva e introspecção da primeira à última faixa. Como ele diz em Hail Mary:

“Makaveli in this, Killuminati
All through your body
That blows like a 12-gauge shotty; feel me!
And God said he should send his one begotten son
To lead the wild into the ways of the man
Follow me!
Eat my flesh, flesh of my flesh!”

 

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