Foi no dia 28 de junho que recebemos o grande presente de 2019. ‘Bandana”, o segundo projeto de Freddie Gibbs e Madlib chegava as ruas. Foram 5 anos de espera pela “continuação” do clássico ‘Piñata’. Eu, como grande fã de Madlib, ouvi, ouvi e ouvi centenas de vezes até entender o que se passava. Seria esse um novo clássico? Ao meu ver, a resposta é sim. Trazendo uma obra completamente diferente do seu antecessor, ‘Bandana’ prova que a dupla é uma das principais forças do rap, colocando Gibbs no topo de vez. Madlib, por sua vez, vem aparecendo mais, emergindo de uma reclusão que dura décadas, sendo o produtor mais prolífico e misterioso dos anos 2000 pra cá, Essa fórmula não tinha como falhar, e é por isso que ‘Bandana’ já é colocado como o Melhor disco de 2019, tanto pela crítica especializada como pelos fãs ávidos.

Passados 3 meses do lançamento, muitas boas críticas e análises foram feitas sobre o disco, destrinchando seus elementos, linguagem e explicando sua importância. Resolvi fazer um pouco diferente: uma análise estatística. Pegando o gancho no crescente movimento do jornalismo de dados, tão bem aplicado mundo afora, e usando ferramentas open-source para a coleta e visualização das informações, busquei dentro dos números uma forma de falar sobre esse trabalho incrível.

No final de cada análise será possível verificar as fontes de onde obtive as informações aqui apresentadas, bem como algumas das ferramentas que utilizei para criar essa matéria especial. É um primeiro teste, até porque não sou programador e nem jornalista, e o objetivo é aprender ainda mais ferramentas e buscar referências para que possa trazer mais desse tipo de material que dá um outro tom as postagens do site e novas formas de se apresentar conteúdo de qualidade.

Coloque “Palmolive” para tocar e vem com a gente saber mais sobre samples, números, artistas, streaming e tudo que gira na órbita de ‘Bandana.”

As faixas mais ouvidas do disco

A primeira analise feita por mim foi quais faixas foram mais ouvidas no principal serviço de streaming do momento, o Spotify. Totalizando as 10 faixas selecionadas, chegamos ao número de 28.395.534* plays no disco. O destaque fica para “Crime pays”, que foi tocada 5.378.688* de vezes nos ouvidos pelo mundo afora. 

*Os dados foram extraídos da plataforma no dia 22/09/2019. / Fonte: Spotify

Críticas da mídia especializada

Como de costume na comunidade do rap, sempre que um novo trabalho surge, começam a pipocar reviews, análises e notas por todos os lados – eu mesmo já fiz a minha análise sobre ‘Bandana’.  Fato é que o disco foi extremamente bem recebido pela crítica musical, chegando a nota máxima em diversos sites, como o The Guardian.  Nessa análise estatística, busquei me basear em 9 sites que fizeram reviews sobre o disco, onde a nota média foi 8,7.

Fonte: PitchforkMetacriticAnyDecentMusic?, The GuardianRolling StonesHip-Hop DXNMEThe 405Exclaim!.

Samples, samples e mais samples

Todo ano em que Madlib lança um disco, é comum corrermos at’ras de tudo que ele sampleou, porque ali sempre descobrimos coisas muito interessantes. Nesse primeiro gráfico, fiz uma relação entre os samples utilizados (foram encontrados 18 deles) e os estilos musicais das faixas. A surpresa veio para o dancehall e as músicas de bollywood, ritmos bem incomuns no meio do rap (apesar de que existem muitas produções de Madlib focadas na música indiana!).

Fonte: WhoSampled

Logo após essa relação, decidi verificar de onde vinham os artistas sampleados. E é aqui que a coisa fica interessante. Existem artistas londrinos, jamaicanos, indianos e até mesmo do Belize dentre os sons sampleados pelo Beat Konducta, o que deixa o disco ainda mais rico em história e diversidade.  Neste link eu deixo disponível uma tabela com a relação de samples x artistas, para quem se interessar nos sons.

O gráfico abaixo é, então, uma relação entre artistas sampleados e países de origem, onde podemos ver uma grande concentração nos Estados Unidos mas uma quase nula representação da música europeia, e a América Central se fazendo bastante presente.

E, por fim, fizemos uma linha do tempo ao longo da história para mostrar quais as décadas onde Madlib mais buscou samples. Não é surpresa que seja a década de 1970, ficando evidente a hegemonia dessa época musical na obra do Loop Digga.

Chuva de palavras

Gibbs é uma maquina de cuspir rimas. E não só ele, como todos os participantes falaram bastante no disco. São aproximadamente 8.500 palavras usadas no disco, mas ainda mão é pareo para o seu antecessor, ‘Piñata’, qoe contém quase 11 mil palavras.. Vamos nos aprofundar nesse emaranhado de rimas sobre drogas, armas, negritude e vida que compõem as duas obras e entender onde ‘Bandana’ se coloca.

Um dado que me chamou muita atenção foram as citações diretas a cocaína. ‘Piñata’ foi reconhecido como um disco de “Rap cocaine”, pela quantidade de referências e até pela história do surgimento do nome do disco, uma alusão ao tráfico de drogas feito dentro de uma piñata. Apesar disso, ‘Bandana’ tem quase 6x mais citações à droga do que seu antecessor.

 

E por último, é interessante que, apesar de ‘Piñata’ ter mais músicas e mais palavras usadas, ‘Bandana’ tem, praticamente, a mesma média musical entre todas as faixas do disco.

Fonte: Genius

Chegamos, então, ao fim dessa análise um pouco diferente do que estamos habituados, mas que, com certeza, será mais presente no site. Espero que tenha, gostado das informações apresentadas e até logo.

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Marco Aurélio

Marco Aurélio

Fotografo shows sujos onde frequento, escrevo rimas que nunca vou lançar e faço pautas sobre coisas que vocês (ainda) não conhecem.