Com vocês, Bárbara Bivolt

Foto da capa por Alex Takaki

Batizado com seu próprio nome, vemos as duas facetas da Bivolt ao longo do álbum. O nome do disco e da MC paulista se referem a capacidade de aparelhos elétricos funcionarem com duas voltagens “Ninguém é a mesma coisa o tempo todo. Eu enfrento batalhas todo dias. Eu sou da paz e do amor, e também tô para guerra. E é justamente essa união que faz a Bivolt”, em vídeo de divulgação publicado em seu Instagram. Na capa vemos as duas voltagens, 110 e 220, tatuados nos pulsos da MC, que também servem de títulos as faixas que abrem e fecham o disco.

Além da tremenda habilidade vocal e melódica, as composições são versáteis, envolventes e mostram uma bela variação nos ritmos, elementos estes essenciais para prender a atenção do ouvinte. Na MixTape Lado B (2017), Bivolt já demonstrava suas habilidades de rima, que viriam a mostrar uma nova fase neste novo disco, uma mais madura.

Qual faculdade que eu faço pra aprender a ter paz?
De um jeito eficaz
Sou filha sem mãe nem pai
Sou cria da confusão
E seja lá como for
No lixão nasce a flor
Transformar em canção toda a dor

“Olha Pra Mim” de Mixtape Lado B (2017)

Mas pra eu me reconhecer
Tive que deixar de lado comentários escrotos que só iriam me puxar pra baixo
Fazer a sua entender que a mente é quem controla tudo
Descrevem um absurdo uma mulher ser arte
Olhei no espelho e apaixonei, agora sou meu mártir
Onde eu pisei sei que floriu, levou de mim uma parte

“Você Já Sabe” de Bivolt (2020)

Junto com essas mudanças, há também uma novidade interessante, os dois videoclipes, dirigidos por Aline Lata,  das faixas “110v” e “220v” podem ser tocados simultaneamente. As imagens se complementam e revelam dois lados da Bivolt, evidenciando também uma nova música na junção das duas reproduzidas junto aos clipes – caso esteja tendo dificuldade de reproduzir os dois videoclipes ao mesmo tempo acesse esse link.

Bem mais que duas voltagens

A versatilidade de MC nas rimas se traduz também na escolha das produções. Mesmo com NAVE comandando a maior parte do disco (10 das 14 faixas), cada produção é única e apresenta um ritmo diferente. Apesar disso, quem dá vida as músicas são as excelentes rimas e levadas que a Bivolt e das participações escolhidas a dedo. Em “Murda Murda”, junto com dois versos agressivos da Tasha & Tracie, a MC paulista manda o recado para os machista de plantão.

Você nem sabe se me odeia ou ama
Eu sou chata pra caralho
Head shot os boy me chama
Coisa mais interessante é nosso som no seu falante
E os contrato de milhão na gaveta da minha estante
Ou fala mal enquanto eu engrosso as coxa
Ou vai de retro satanás que pro Brasil suas chance é poucas!

O clima muda na sequência na faixa “Cubana” com influências latinas, na qual Bivolt narra a sua atração por uma mulher em um rolê.

E ela é beez in the trap
E a gata não paga em cheque
Paga vista, hasta la vista, sem dar moral pros muleque
Visionária enxerga embasamento e embrasamento
Muita areia mermo
Ainda bem que eu trouxe minha caminhonete

As mudanças de ritmos seguem em “Mary End”, uma produção bem lenta que combina com a letra sobre a função para comprar maconha. Em “Giroflex”, Jé Santiago e Bivolt falam sobre a realização dos sonhos em uma produção com um piano suave ao fundo, que vem da influência do R&B dos dois artistas. E o ritmo permanece em “Peixinho”, mas nesta faixa de uma maneira mais orgânica nas melodias na voz da MC em uma das levadas mais gostosas do disco.

Cheque em branco, kush bola, vida loka desenrola
Até meus inimigo brota pra dizer que são real
Minha luz é como sol que brilha
Energia forte sem pilha
Do além busco forças sou filha
Do que alguns dizem irreal
História é pra pescar peixinhos
E meus peixes tão no real

“Susuave” é um boombap com jazz em que a MC fala um pouco sobre seu processo de escrita e a confiança que tem em suas letras, tudo com muita sutileza e leveza. “Sigilo” fala sobre amor com um ritmo mais dançante, atmosfera que permanece em “Nome e Sobrenome” com um belo refrão da Xênia França. Tropkillaz chega junto com NAVE em “Freestyle”, uma mistura de rap com reggae, em uma faixa que conta ainda com Dada Yute. É então que “Hiponese” quebra um pouco esse clima, num trap produzido por Vibox e uma participação energética de Lucas Boombeat.

Minha amiga bi, me chamou e eu cheguei
Já perdi as conta de quantos eu já calei
Pra chegar aqui, sambei nos boy, pisei eu sei
Meu bem, causei, ousei, visei
Acelerei, nem avisei “ok”

O Veredito

Mostrando bem mais que dois lados, Bárbara encontrou equilíbrio musical entre melodias mais voltadas para o R&B e as rimas de rap. Tudo isso acompanhado de produções e participações tão versáteis como a própria MC. Além disso, a experiência visual de “110v” e “220v” acrescentam um elemento único que traduz perfeitamente a ideia do disco batizado com o nome da artista. Desta forma, Bivolt se torna obrigatório para quem tem acompanhado o rap de perto em 2020 e que também fortalece a MC como uma das referências artísticas do gênero.

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