Chegamos ‘a reta final de 2018, e com isso, as inúmeras listas dos melhores discos, melhores versos e melhores Mc´s. Mas pouco se fala sobre os artistas que trabalham do lado de trás dos holofotes.
2018 foi, pra mim, o ano onde a fotografia voltou a ter destaque nas artworks da música. Não que algum dia ela tenha deixado de se fazer presente, mas a fotografia como linguagem principal voltou com tudo. Podemos ver isso em várias beat tapes, singles e também nos aclamados discos do mainstream. Sendo, antes de colunista, um fotógrafo da cena do RAP, fico feliz com essa importância dada à oitava arte.
Então, como bom discípulo de Marx, Brian Cross e Chi Modu, criei esse post exclusivamente para dar protagonismo á classe proletária que faço parte e que merece todo o destaque do mundo e falando um pouco das capas onde, mesmo com direções de arte impecáveis, a fotografia falou alto.
Fotógrafos do mundo, uni-vos! E vamos lá!
Pusha T – Daytona
A imagem que ilustra a capa de “Daytona”, considerado um dos melhores discos do ano é, com certeza, a mais polêmica a impactante.
A foto foi tirada no banheiro da cantora Whitney Houston, já morta, submersa na banheira, após consumo excessivo de cocaína, crack e outras drogas.
Kanye pagou 85 mil dólares pelo licenciamento da imagem, por acreditar que ela “seria útil para que as pessoas pudessem acompanhar o disco”.
Eart Sweatshirt – Some Rap Songs
Nosso menino de ouro soltou, aos 45′ do segundo tempo, mais um belo disco. E a capa nao poderia ser mais Earl’s style possível. Com a sensação de que ele fez uma selfie dentro do ônibus 695T/10 – Terminal Capelinha (Quem mora em São Paulo sabe que em toda avenida passa um ônibus pro Terminal Capelinha), em movimento, Earl mostra que tá pouco se fodendo pra indústria do Hip-Hop, trazendo um trabalho lindo, da música até a arte.
Denmark Vessey – Sun Go Nova
Oriundo das terras de J Dilla, Proof e 5Elementz, Denmark me cativou com esse disco. Muito disso pois metade do trabalho foi produzido pela minha dupla favorita da cena atual, Earl Sweatshirt e Knxwledge. Apesar de todo o trabalho de manipulação digital, a capa trás um retrato simples de Denmark, dando um ar de dualidade, mistério e vida.
Um fato interessante sobre o rapper e produtor é que seu nome, Denmark, foi inspirado em Dinamark Vessey, o líder de uma revolta de escravos ocorrida na Carolina do Sul, em 1820.
Marcão Baixada – Vermelho Outono
Marcão começou o ano com o ótimo EP “Vermelho Outono”, meu trabalho favorito do artista, com o single “Preto Gordo Style” que virou um hino do MC. E pra selar o EP, a Elaine Rodrigues, do Designlinhadas assinou o projeto artístico, trazendo um Marcão imponente como um Rei Africano. A capa ainda trás ilustrações tipográficas de algumas presentes no EP.
Felipe Ret – Audaz
O dono do melhor disco do Rap nacional em 2018 (foda-se, sou Retiaveliko!) tem também uma das capas mais bonitas do ano. Não só o retrato de Ret e a presença marcante do amarelo, mas também O SEU CORTE DE CABELO estão muito bem feitos. Assim como a capa de Denmark Vessey, a arte que abre “Audaz” é enigmática, e ao abrir o disco faz sentido o uso da mesma.
Jay Rock – Redemption
O gangster da Top Dawg lançou o Pinãta da Costa Oeste esse ano, cheio de rimas sobre a vida do crime que vivia, até ser contratado pela TDE.
A fotografia trás um Jay Rock iluminado, o que conversa muito com a questão da vida do crime e depois a vida do RAP. E, se eu não soubesse que o rapper é californiano eu com certeza afirmaria que essa foto foi deita em PARANAPIACABA, pois eu fiz uma foto igualzinha à essa, quando visitei a cidade, no meio do ano, hahahahaha
Baco Exu do Blues – Blusman
Longe de toda a discussão que envolveu esse disco, como quase todos os últimos trabalhos do Baco, minha grande exaltação aqui é pra essa fotografia incrível.
Feita pelo cineasta e fotógrafo João Wainer, a foto foi clicada no Carandiru, durante os anos em que o artista ali esteve retratando os antigos detentos.
Westside Gunn – Supreme Blientele
Faz mais ou menos duas horas que conheci esse disco, por indicação de um amigo. Com produções de Roc Marciano, 9th Wonder, Pete Rock e The Alchemist, essa fotografia de capa maravilhosa sintetiza a vibe. Nova Iorque violenta, elegante e sufocante.
Rodrigo Zin – Fazendo grana pro meu filme
Enquanto o filme não sai, Rodrigo Zin segue trabalhando duro. Seu último trampo, “Fazendo grana pro meu filme” é cheio de referências cinematográficas. E como não poderia ser diferente, a capa trás uma bela fotografia, feita pelo próprio MC, na Praça Rui Barbosa, centro de Curitiba.
Enriqvx – USUAL EP
USUAL EP é sobre ser negro e querer ter tudo: Dinheiro, liberdade, uma vida boa. Enriqvx sintetizou isso em faixas como “Café”, e a fotografia de Rafael Rodrigues na Festa de Yemonja, na Bahia, é o que o negro merece ser e ter! (A direção de arte ficou por conta do Lucas Rodrigues)
Kanye West – Ye
“Eu odeio ser bipolar, é incrível”. É com esses dizeres em cima de uma fotografia feita a caminho da audição de “ye” que Kanye West abre seu último disco. Interessante notar como a fotografia se democratizou, tanto como arte como no que tange a facilidade em se criar fotografias com celulares. Também pela forma como foi construída a capa, fica evidente como funciona a mente de um dos grandes artistas da história do Hip-Hop!
Nicki Minaj – Queen
Diretamente do Queens, a Meca do RAP, Nicki Minaj trouxe para 2018 seu quarto álbum de estúdio, “Queen”. A rapper aparece como uma rainha egípcia na capa, imponente, elegante e com ar de superioridade, de rainha, como manda o projeto.
Ephorize – Cupcakke
Até aqui, uma das capas mais bonitas da lista. Ephorize trouxe um disco muto bem construído e consistente, com uma ótima recepção da crítica. A foto, que trás a rapper de Chicago, é uma mistura de arte digital, Sci-fi, Cyberpunk e Afro-futurismo.
Amine – OnePointFive
A fotografia permite se fazer arte fora das galerias, com pouco material, a qualquer hora do dia e em qualquer lugar. E em “OnePointFive”, Amine trás sons minimalistas e certeiros, como a foto que ilustra a capa do projeto, feita numa Van de viagem, com o rapper aparentemente muito chapado e com roupas simples, do jeito que eu gosto de ver a fotografia: espontânea!
Saba – Care for me
Introspectiva como o próprio que mais amei conhecer no ano, Sabá ilustrou seu álbum com uma fotografia melancólica, solitária e de certa forma sombria. O pedido de ajuda, no título do álbum, fica evidente no cômodo minimalista e lúgubre que se dá a arte do disco. Um belo álbum com uma bela imagem!
Mick Jenkins – Pieces of a man
Nosso Mickzão lanou um discasso, ainda melhor do que “Water”, 7
Nosso Mickzão lançou um discão ainda melhor do que “The Waters”, mixtape que eu já adorava! “Pieces of a man” é um dos grandes do ano, cheio de sonoridades atuais com pitadas de várias outras vertentes do RAP. A capa é quase como um auto-retrato do rapper, refletido em .. pedaços de espelho, que refletem pedaços de si mesmo. Lindo demais!
6lack – East Atlanta Love Letter
Joãozin, nosso colunista amado, que me lembrou dessa obra-prima, que ia passando batido. Quando minha namorada me mandou esse disco eu fiquei emocionado pra caralho com essa imagem. Ela carrega um simbolismo enorme entre a paternidade e o corre do RAP e da vida do 6lack. Ao mesmo tempo é uma fotografia que me dá a sensação de segurança, presença e responsabilidade. Outra coisa interessante é que, tanto a imagem como o título do disco me lembram do “Death threats & Love notes”, do GQ, que tem uma temática parecida. Sensacional!
Nas – Nasir
Eu deixei essa por último por dois motivos.
O primeiro deles é que, pelo Nas ser um dos meus MC’s favoritos, eu ficava muito puto ao me deparar com a discografia dele e, com exceção de “Illmatic”, TODAS as capas de discos serem horrorosas! “Nasir” veio pra quebrar esse estigma e, de repente, fazer o gigante Nas ter mais apreço pela estética de seus discos.
O segundo motivo é que a dona dessa fotografia é uma mulher, falecida em 2015 aos 75 anos.
Mary Ellen Mark era uma das fotografas da grande Magnum Photo, vencedora de inúmeros prêmios e dona de projetos incríveis, retratando a luta da libertação das mulheres, pessoas a margem da sociedade e também crianças, como na fotografia que ilustra “Nasir”. A foto em questão foi feita por Mary, para uma reportagem chamada “A zona de guerra”, que registrou a vida de violência, segregação e racismo enfrentada pelos negros americanos em Dallas.
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Bom, como dito, o objetivo do texto era mostrar um pouco da história de algumas das fotografias que mais me chamaram a atenção no RAP em 2018, e ano que vem teremos mais conteúdos como este tentando trazer um pouco dos nomes por trás das imagens e vídeos que compõem nossa cultura. Até 2019!