Apesar de estar investindo mais em grandes nomes, a presença do gênero ainda causa tensionamentos no festival.

Desde 2018, o Lollapalooza tem aumentado o número de artistas de rap no festival. Sim, é verdade que já tivemos Snoop Dogg, Eminem e até mesmo Pharrell Williams como nomes grandes no evento, mas, se não fosse o cancelamento de última hora do Tyler, The Creator, o evento do ano passado seria o com maior presença do gênero na história do festival no Brasil, com sete atrações.

Nesse ano, tivemos seis. Os três brasileiros: Rashid, Gabriel, o Pensador e BK’, além de Macklemore, Post Malone e a grande atração desse ano, Kendrick Lamar.

Na sexta-feira chegamos até um pouco tarde mas deu pra dar um rolé e conhecer algumas coisas do festival pois tivemos apenas Macklemore como representante do rap. Ou quase. Indo pro show dele, me perguntava quem, em 2019, era o público do artista a vencer o Grammy de melhor álbum de rap em cima do próprio Kendrick Lamar, lá em 2014. O show não tava lotado, mas o público presente era bem fiel e sabia sim cantar as músicas. Bem fraco, de qualquer maneira. Um pop rimado que não se sustenta por si só, o fazendo precisar de diversas alegorias como se vestir de Willy Wonka em uma música chamada… Willy Wonka. Brega, né? Além disso, o discurso de diversidade e igualdade não colou. Só faltou mandar um “o rap não tem cor”. Ele parece um personagem de um rapper branco.

Foto: Fábio Tito/G1

O segundo dia foi beeeeem mais daora. Apesar do cancelamento do show do Rashid na segunda música devido a chuva, as seguintes apresentações fizeram o dia valer demais. Jorja Smith e sua banda subiram ao palco vestindo camisas da seleção brasileira e ressignificaram a amarelinha. Foi uma das melhores performances – é impressionante como ela atinge notas altas sem mal abrir a boca – com todas as músicas acompanhadas palavra por palavra pelos fãs reais. Ainda cantou “Lost” do Frank Ocean, arrepiante.

Foto: Fabio Tito/G1

Eu não conheço o trampo do Post Malone para além dos hits, mas o show dele me surpreendeu e deu pra curtir demais independente disso. Tava muito cheio como esperado, porque o público dele de fato frequenta o festival, então não tive a mesma dúvida do que com Macklemore. Energia lá no alto, o cantor ainda chamou Kevin, o Chris, que fez tudo certinho, mas estava um pouco nervoso. Triste ele não ter dito nada acerca da prisão de Rennan da Penha, assim como é triste as prováveis situações contratuais que não o permitem fazer isso.

No domingo, o dia começou com o agitado show de BK’. O público do rap que esperava Kendrick Lamar deu moral pro nacional e não só cantou junto como fez o tradicional mosh e o coro comeu sincero, até o Jonas Profeta foi pro meio da roda na última música, Top Boys. Abebe Bikila dominou o palco com sua banda e a rapaziada do Bloco 7, mostrando que mereceu chegar ali e até mesmo que sustentava tranquilamente mais tempo de show. Djonga também apareceu escondido entre a plateia e é representativo demais esses caras estarem em um palco de Lollapalooza.

Fabio Tito/G1

Já Kendrick Lamar, sem palavras. O homem lotou o palco principal no último show do dia e fez valer a espera e especulação de anos de sua vinda. Apesar de seguir o mesmo roteiro de apresentação dos demais shows de Lollapalooza nas Américas, a receita de bolo funcionou, obviamente. Muito já se foi falado sobre o show na internet, inclusive, transmitimos no Instagram e no Twitter. Foi lindo ver um artista com uma narrativa construída sobre a negritude levar tanto preto pro autódromo e olhar pro lado e ver um irmão desconhecido mas cantando tudo junto deu um sentimento de comunhão. Apesar dos pesares, como a total desconexão de ter K. Dot como headliner e um monte de digital influencer que nem sequer conhece o artista assistindo o show do pitch.

Foto: Fábio Tito/G1

Mas o que Kendrick Lamar prova como headliner do Lolla é que há muito mais espaço para o rap e para a música negra no festival. Quem consome rap – ao contrário do que pensam os ricos brasileiros – têm poder de consumo e, com um grande show, fazem um esforço sim pra ir ao Festival, nem que seja em um dia só. Artistas que estão na interseção entre o público do rap e o público médio-branco do Lolla, como (A$AP Rocky, Kid Cudi, Brockhampton, ou o próprio Post Malone) são o caminho caso a produção queira mais presença do gênero no festival. Bem melhor do que forçar Macklemore, por exemplo.

Assim como caberiam alguns funkeiros como MC Kevinho (que tocou no Lolla Chile) ou até mesmo um DJ Set do FP do Trem Bala, por exemplo. Não é a toa que Beyoncé, Diplo e outros trazem o funk pros grandes palcos, sabe? A desculpa de que o funk ou o rap não se encaixam no público do festival cai por Terra se você conhece qualquer pessoa moradora de Zona Sul. E “o Lollapalooza é o maior encontro de Zonas-Sul do Brasil.”

Apesar dos pesares, o Lollapalooza Brasil encontrou uma fórmula que parece dar certo e isso basta, afinal, capitalismo, etc. e tals. Mas, percebendo o crescimento do público de rap no Brasil – seja consumindo os produtos nacionais ou internacionais – me faz pensar que um festival com uma curadoria cuidadosa, pensando na experiência musical de estar em um evento desses e que unisse todas as tribos como foi o  ̶N̶o̶r̶v̶a̶n̶a̶ SWU, teria tudo pra dar certo hoje em dia. Melhorando alguns erros logísticos como o local, transporte, etc., seria estouro. Se algum empresário estiver interesse, estamos abertos a propostas.

Paz!

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