Salve rapa!

O começo dos anos 2000 foi um período bem controverso para os fãs de rap: enquanto a tão amada Golden Era perdia seu encanto, o rap estava virando mainstream e fazendo artistas se tornarem milionários. Em uma via paralela, outros grupos começaram a surgir e trazer uma pluralidade de idéias e ritmos nesse meio. E um desses catalisadores da mudança tem nome e sobrenome: Stones Throw.

Fundada em 1996 por Peanut butter Wolf, amigo de colégio do nosso entrevistado, o selo inicialmente tinha o objetivo de ser o local por onde Peanut continuaria sua jornada na música, após a morte de Charizma, com quem teve uma dupla no início dos anos 90.

Mas quis o destino que, no final dos anos 90, Peanut conhecesse um grupo chamado Lootpack, e consequentemente, uma das mentes que revolucionaram não só a gravadora mas o rap da maneira que estava sendo feita, o grande senhor Otis Jackson Jr, também conhecido como Madlib.

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Com o início dos anos 2000, a Stones throw começou a lançar artistas que hoje já estão mais que consagrados. De MFDOOM à Madlib e seus incontáveis projetos, passando por outro que foi tão revolucionário quanto os demais, J. Dilla.

Esse período frutífero trouxe incontáveis clássicos e um nome que participou de tudo isso de maneira mais discreta, mas tão importante quanto cada um dos citados, Jeff Jank.

Jeff foi o responsável por cada capa da gravadora, direta ou indiretamente, a partir de 2000, quando a Stones Throw mudou de local e transformou o selo em algo rentável. Sim, estamos falando da pessoa que deu a cara para álbuns como Madvillain, Jaylib, Donuts, The Unseen… Também participou diretamente na criação do Quasimoto, o Alf com cara de porco que você certamente já ouviu falar.

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Jeff usa de tudo em suas capas: ilustraçoões, fotos, trabalha tipografia de uma maneira mais estilizada e também não usa nada disso se assim achar adequado. Jeff Jank consegue trazer toda a referência acumulada do punk/new wave para suas capas, mostrando o porque encontrou na Stones Throw seu habitat. Para um lugar tão plural como é o Selo, o diretor de arte consegue corresponder a altura com sua versatilidade na hora das criações. Agora fiquem com o homem falando sobre seu processos e algumas capas que você certamente quer ter na sua estante.

Jeff Jank

Raplogia: Como funciona seu processo criativo? Os artistas opinam ou propõem ideias para a capa?

JJ: Quase sempre o processo é diferente. Depende do projeto, de seus objetivos, que as pessoas têm ou não têm opinião, se há uma fotografia ou não, o cronograma e muitas outras coisas. Eu tenho uma colaboração longa e prolífica com Madlib, que só pediu coisas nas capas de álbuns uma ou duas vezes em nossos anos juntos. Sua posição sempre me pareceu um sinal de sua confiança em seus colaboradores e seu foco no que ele faz de melhor, a música. Alguns artistas têm ótimas idéias e fazem a direção de arte melhor do que qualquer outra pessoa. Outros querem controlar tudo sozinhos e limitar as idéias e sugestões de seus colaboradores. Outros artistas apreciam a colaboração natural do trabalho.

Raplogia: Nesses 24 anos de Stones Throw, o que mais mudou desse processo?

JJ: Comecei com a Stones Throw em 2000, quando houve uma tentativa de transformar o selo em um negócio sustentável em período integral. Minha abordagem permaneceu muito semelhante ao longo dos anos: tentar e fazer algo que ajude o projeto a ter sucesso e fazer algo que gosto de criar. Mas os projetos e os próprios negócios mudam o tempo todo.

Capa do The Unseen, disco do Quasimoto, famoso alter-ego do Madlib.

Raplogia: Nos trabalhos iniciais do Quasimoto, tem algumas referências ao planeta fantástico, inclusive dois frames do filme na contra capa. Há algum motivo na escolha?

JJ: Fantastic Planet / La Planète sauvage foi uma influência na direção de arte do Quasimoto, porque o filme e sua trilha sonora influenciaram Madlib na época. Me disseram na época que Madlib até criou sua própria trilha sonora para o filme. Se ele fez, não existe mais. Ele gravava em fitas ADAT no final dos anos 90 e ele era conhecido por gravar por cima quando precisava de uma nova. As referências ao La Planète sauvage também aparecem no single “Basic Instinct” de Quasimoto e nas aventuras adicionais de Lord Quas.

Imagem do àlbum Shadows of Behalf do Grupo Stepkids.

Raplogia: Suas capas costumam ter muitas texturas, ilustrações e cores. Mas uma em particular me chama atenção por ter uma abordagem mais minimalista. Como foi criar a capa do The Stepkids – Shadows On Behalf?

JJ: Eu gosto de minimalismo. Às vezes, muito trabalho faz com que algo pareça mínimo e sem esforço. No caso de The Stepkids, eu não gostei do projeto porque o líder da banda (Jeff Gitelman) estava extremamente intransigente comigo nas comunicações por email. No single, eu simplesmente queria fazer um experimento para fazer algo que não usasse tinta na capa e acabar com isso o mais rápido possível.

Imagem da capa do álbum Bandana do Freddie Gibbs, que foi negada.

Raplogia: Você postou no Instagram uma arte que seria a capa do bandana. Houve algum motivo para a troca?

JJ: O conceito original da capa do álbum era uma pintura preexistente de zebras que havia pendurado em um banheiro público e foi marcada por várias pessoas diferentes. A gravadora RCA levantou várias perguntas sobre o uso desta obra de arte, então fui forçado a encontrar uma solução diferente. O personagem de Quasimoto também surgiu como um personagem no marketing do álbum, e várias pessoas ligadas ao álbum opinaram em direção a um esboço inacabado que finalmente se tornou a capa da Bandana que foi lançada.

Raplogia: Depois de tanto tempo sendo diretor de arte, tem algum trabalho que te desagrada? Algo que você olha e pensa que poderia ter feito diferente?

JJ: Sim, Bandana, como exemplo – pelas razões que acabei de explicar. Há muitas capas de que não gosto. Às vezes eu não tinha boas idéias, às vezes cometi erros e outros tinham várias outras limitações ou informações que azedaram o resultado. Felizmente, há sempre uma próxima.

Leia também: Uma análise estatística sobre ‘Bandana’

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E assistam o Our vinyl weights a ton, documentário sobre a Stones Throw.

See ya’.

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Arthur Garbossa

Arthur Garbossa

Quando não está pelos bares falando de cinema e quadrinhos, costuma ser Designer. Corinthiano fanático, melodramático e bon vivant.