Salve, leitores do Raplogia!
No nosso 5º post da série “Birth to Infinity”, convidamos o Liam Maia, colunista do site RND e uma das grandes mentes pensantes no jornalismo sobre o RAP Nacional.
Ele listou pra gente seus álbuns favoritos desde 1996. Prontos para mais um “Birth to Infinity”?
———-
[1996] Nas – It Was Written
Quis bastante fugir do ‘óbvio’ e fiquei matutando um bom tempo entre A Tribe Called Quest, OutKast, Jay-Z e até mesmo Eminem… aí me lembrei que o It Was Written foi trilha de quase dois anos de faculdade entre busões e caronas e é um dos últimos álbuns toleráveis do Nas – há quem pense diferente.Na minha opinião, o único trabalho do Nasty Nas que sobreviveu às expectativas do Illmatic, problema esse que também vejo muito presente na carreira do Black Alien: é difícil lançar um álbum à altura do seu debut se ele for um dos melhores da história. Apesar das críticas aqui presentes, o Nas é um dos artistas mais importantes pra mim. Por muito tempo fui um Stan absoluto dele e não guardo nenhum arrependimento. Puta Mc, discão também.
[1997] Eminem – Slim Shady EP
Lançado aos 45 do segundo tempo do ano em questão, este EP sintetiza mais do que qualquer 8 Mile a icônica barra “Success is my only motherfuckin’ option, failure’s not” do Eminem. O trampo marcou a investida de Eminem em outras influências mais hardcore, mas mantendo o estilo sugadinho do Nas que ele apresentou em Infinite. Ouvi mais do que o LP homônimo e quase tanto quanto o MMLP1, coisas de fã.Esse EP foi o que introduziu Eminem ao Dr. Dre, responsável direto por alavancar a carreira de diversas lendas do hip-hop. Acho um marco importante de se lembrar.
[1998] OutKast – Aquemini
Sem palavras pra essa obra. Só isso mesmo. Produção on point, vibe excelente, um forte candidato a melhor verso da história e outras coisas. Esse álbum justifica muito da minha paixão e admiração pelo 3K. Te amo, Big Boi, mas o André tem um tchan.O “Miseducation”, da Lauryn Hill, foi outro forte candidato, mas recapitulando aqui entre os dois qual ouvi mais, o Aquemini ganhou.
Menções Honrosas: O supracitado The Miseducation of Lauryn Hill e o Black Star, do (ONE TWO THREEEEEE) Mos Def com o Talib Kweli.
[1999] MF DOOM – Operation: Doomsday
Não me considero nem fã do DOOM. Desde o primeiro play, fiquei completamente obcecado por essa figura misteriosa e feroz nas rimas. Até hoje ouvir seus álbuns me emociona e sinto que nada disso vai mudar. Não tinha como colocar qualquer outro nome aqui. Daniel Dumile é o cara e com certeza é também um dos artistas que mais ouvi até hoje.Doomsday é a estreia solo de Dumile no mundo do rap e figura entre um dos melhores debuts da história. Parafraseando um álbum do Tribe, os beats, as rimas e o lifestyle apresentados por Doom ao longo de quase uma hora dos raps mais frenéticos do Mc favorito do seu Mc favorito são completamente insanos. Para sempre um dos meus preferidos e um dia estará para sempre na minha pele também.
[2000] Deltron 3030 – Deltron 3030
Esse quase foi pro Marshall Mathers LP, mas resolvi por o 3030 pelo papel na minha vida. Uns bons anos atrás, peguei uma listinha dessas com centenas de álbuns de rap separados por época e fui debulhando. Esse foi minha introdução a uma sonoridade mais alternativa e undergrau como muitos gostam de classificar. Sem esse trampo e o Word…Life do O.C. eu não teria ido atrás de muitos de meus artistas favoritos hoje em dia, então fica aí o salve pro Del.
[2001] CunninLynguists – Will Rap for Food
Mesma pegada e background para mim que o Deltron 3030, nem tenho muito mais a acrescentar. Ouvi pra caramba, mais até que outros contemporâneos como o Blueprint e o Stillmatic. Ia botar o debut do Gorillaz mas achei desonesto já que só saquei o trampo dos caras de uns dois anos pra cá – sabe-se lá por que.Menção Honrosa: HOV, com o Blueprint do rap, que QUASE apareceu aqui na lista mas ainda não apareceu de fato – e sequer sei se vai.
[2002] Eminem – The Eminem Show
Tem como não. Tentei fugir até o limite e prometo que essa é a última menção ao Eminem aqui (até porque estamos falando de seu último álbum bom). Suprassumo da parceria entre o Eminem e o Dre, sonoridade absurda até hoje e o Eminem rimando pra caralho. O Eminem e o Jay-Z foram meu primeiro contato com rap gringo, então sempre terão um lugar especial no meu coração. Apesar das cagadas (do Eminem).Esse álbum foi a primeira vez em que me disseram que tudo bem mandar todo mundo se foder mesmo sendo um carinha zoado, coisa que o Kanye e o Gambino me conquistaram fazendo com muita maestria e de uma maneira mais crível que o Em, mas esse aqui tem a importância sentimental também.
Menção Honrosa: Racionais – Nada Como Um Dia Após o Outro Dia
[2003] King Geedorah – Take Me To Your Leader
Mais uma aparição do DOOM na lista, esse álbum foi trilha de meus almoços tardios no shopping ao sábado depois de sair da firma. Era um presságio de liberdade indicando o fim de semana. Nada a ver com a temática do trampo, tudo a ver com o prazer de ouvir obras pensadas e executadas com tanto esmero. I Wonder me acompanhou em diversos momentos tristes e reflexivos, enquanto Fazers, Fastlane e Anti-Matter acompanharam a mim e meus amigos em sessions sem hora pra acabar.
[2004] Madvillain – Madvillainy
PORRA, agora são duas seguidas né. Tem problema não. Sequer me dei ao trabalho de olhar os demais álbuns lançados em 2004. Com certeza esse foi o mais ouvido e apreciado por mim com quilômetros de margem. Madlib é, se pá, meu produtor gringo favorito (seguido bem de perto pelo próprio DOOM) e esse collab dos dois é bem rap paulista: sem palavras, mano! Prometo que é a última vez que meto um all caps no nome do HOMEM nesta postagem, mas preferi ser sincero e falar do que realmente ouvi, mesmo com as repetições.A menção honrosa dessa vez vai aqui no corpo do texto mesmo por que o Black Alien merece um parágrafo. Babylon By Gus é, na minha opinião, o melhor álbum do rap nacional, talvez empatado com um dos dois queridinhos do Racionais. Já botei esse álbum em festinhas jovens, em churrascos, pra família ouvir no carro, pras moças (brincadeira mozi) e nunca falha. Trilha pra vida e pra qualquer momento.
[2005] Quasimoto – The Further Adventures of Lord Quas
Prometi que não ia falar mais do BONITÃO, mas não disse nada sobre o Madlib. Mais um trilha de busão, ajudou a conferir uma leveza enorme à faculdade e suas dores de cabeça. Sei lá por qual motivo, ouvi bem mais esse do que The Unseen. Ia botar o Late Registration, mas também quero evitar que a discografia do Kanye apareça aqui por inteiro.
[2006] CunninLynguists – A Piece of Strange
Mais uma do trio. A sonoridade desse trampo me agradou muito mais que a do Will Rap For Food e, por isso, ele foi executado incontáveis vezes a mais. Sonzeira alternativa de qualidade. Coisas que eu curto. Coisa de hipster. Ouvindo as coisas antigas do Freeway, por que todo mundo ouve Biggie, mas eu sou diferente.
[2007] Blu & Exile – Below the Heavens
Nem sei explicar. Sinto como se eu fosse amigo dos caras, afinal eles me ensinaram coisas pra caralho, me deram a mão quando eu precisei, me acompanharam nas mais diversas situações, tudo isso através desse álbum. Um trabalho ímpar para o hip-hop mundial e que parece não receber o devido valor. Provavelmente um dos que mais me tocou nessa lista.
[2008] Kanye West – 808s & Heartbreak
Perdão, aqui começa inevitavelmente a presença obrigatória da discografia do Kanye na lista. Um gravão pulsante é orgásmico pra mim e esse álbum joga os melhores possíveis como se não fossem nada. E isso é o de menos do álbum???Sonoridade atemporal, as observações ácidas do Ye sobre a vida super presentes e muita sofrência (eu sou do Goiás, aprecio). Novamente sem palavras. É o álbum mais ouvido por mim (junto ao de 2010 aqui da lista) há anos e provavelmente vai continuar assim por muito mais tempo.
[2009] Emicida – Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe
Primeira aparição nacional aqui. Tentei evitar ao máximo evitar obras nacionais pra trabalhar com uma certa uniformidade, mas tudo bem, o Leandro merece esse espaço. Meu artista nacional favorito e o responsável pela maior revolução no rap desse país desde o Racionais. Pode não ser o seu favorito, você pode considerá-lo um vendido, mas negar seu legado e sua importância é assinar um atestado de burrice. Sou eternamente grato por tudo que o Emicida me ensinou sobre a vida e por sua conduta perante o hip-hop, sempre firme e humilde ao mesmo tempo, para aprender com seus pouquíssimos erros durante uma longa carreira.
[2010] Kanye West – My Beautiful Dark Twisted Fantasy
Avisei, não avisei? Melhor álbum da história da música. Hands down. Perdão Bituca! Esse trampo me faz torcer pra Kim Kardashian realmente estar traindo o Kanye com o Drake só pra termos mais um álbum inspirado em términos. Obrigado Amber Rose também. É nóis.Nada mais a declarar, não preciso falar sobre essa obra.
[2011] The Roots – Undun
Meu primeiro contato com o The Roots. Tardio e talz, mas tudo bem. Eu chorei na primeira vez que ouvi. Na segunda também. É tocante demais em todos âmbitos imagináveis. The Roots sequer é uma banda, é uma entidade por si só, sagrada e intocável.
[2012] Frank Ocean – Channel Orange
OFWGKTA MEU MOLEQUE!!!! SKATE VANS ESSAS COISA PODE CRERDemorei a foder com o Frank Ocean, talvez tenha sido o último da Odd Future que eu fui atrás de conhecer, mas o primeiro contato foi definitivo. Me apaixonei pela voz, pela visão de mundo e pelas músicas sensacionais que ele entrega sempre. Menino de ouro. Tem uma mãe massa demais.
Menção Honrosa: Kendrick Lamar – Good Kid, M.A.A.D City e Childish Gambino – Camp
[2013] Childish Gambino – Because The Internet
Eu tive lá e não te vi lá. Eu sempre estive lá acompanhando o Gambino e desejo todo dia voltar no tempo só pra começar a acompanhá-lo ainda mais cedo. Meu artista favorito de todos os tempos period. Kanye em segundo. É isso. Pau no cu da Pitchfork, melhor álbum de 2013.Meu ponto favorito da carreira do Bino, as influências do Lil Wayne haviam amadurecido bastante, a parte musical estava no primeiro ponto alto de fato, já que o Ludwig estava mais apessoado com o gênero e mais seguro de si, além de ter começado a achar uma identidade. Produção extremamente experimental, barras certeiras, filosofia contemporânea e narrativa absurdamente bem feita.
Menção Honrosa: Acid Rap, do #parça do Gambino, Chance The Rapper, na época em que ele ainda era nóia não-convertido.
[2014] Mick Jenkins – The Waters
Hidrate-se. Evita problemas renais e também evita que o Mick Jenkins apareça pra te mandar fazer isso. Confesso que esperava trabalhos mais concisos após essa mixtape, mas tudo bem, existe ouro em meio a tudo que foi lançado. Esse #spot originalmente ia pro 2014 Forest Hills Drive, do J Cole, que até tocou bem mais por aqui, mas ele é cringe demais pra merecer.
[2015] Lupe Fiasco – Tetsuo & Youth
Meu favorito do Lupe. Meu favorito de 2015, Pimpão que perdoe. Lupe foi e voltou na sonoridade, deitou e rolou nas rimas e outras expressões também. Lindo pra caralho, outro trilha de busão. Mural foi um soco na cara que causou borboletas no estômago. Esse álbum, como a capa, é uma obra de arte.
[2016] Noname – Telefone / Drake – Views / Young Thug – Jeffery
Quem acompanhava o Chance e o Mick Jenkins já esperava ansiosíssimo um debut da Noname (Gypsy, à época). Ele veio alguns anos depois e definitivamente não decepcionou. Ela nos deu o privilégio de adentrar um mundo extremamente particular. Desejo tudo de melhor pra Noname e que ela continue iluminada pra sempre.
Coloquei 3 álbuns até que DIFERENTES entre si aqui pois não consegui me decidir. Ouvi os 3 na mesma proporção e sou igualmente apaixonado pelos 3. O Views, melhor álbum do Drake que ninguém quer admitir, obviamente não é perfeito, mas tem pouquíssimas faixas ruins, algo compreensível num cd de 20 faixas. E não tem ninguém que me convença que a sequência de 9 até Redemption não é uma das melhores – se não a melhor – da carreira do Drizzy.
Jeffery também é meu álbum favorito e o que eu considero melhor do Thugga, mas esse talvez tenha mais apoiadores. Eu chorei ouvindo diversas faixas. O Thugga é um dos poucos artistas que consegue passar um sentimento com o delivery totalmente diferente da letra da música e ter o prazer de não ser um falante nativo de inglês te permite desligar a tradução mental e curtir o som simplesmente pela vibe. Momento bem ritualístico, louco demais.
[2017] Tyler, The Creator – Flower Boy / Jay-Z – 4:44 / 2 Chainz – Pretty Girls Like Trap Music
Mais um top triplo e pelo mesmo motivo: sequer consigo dizer se ouvi algum dos álbuns mais que o outro. Mentira, ouvi o do 2 Chainz bem mais os que os outros, mas foi por puro replay value mesmo, nada relativo a qualidade.
O álbum do Tyler foi a culminação de tudo que ele vinha cimentando desde 2009 e não tinha como ser melhor. Menos estranho aos ouvidos que o Cherry Bomb, o Tyler feliz, o Tyler triste, coisas bem normais. O Tyler mais próximo do ouvinte até hoje.
4:44 foi o anti-Illmatic do Jay-Z. Diferente do Nas, ele tinha uma PORRADA de álbuns históricos em sua carreira para superar expectativas. Ao invés de tentar alguma inovação besta, Hov se ateve a produções extremamente meticulosas e até orgânicas em certo ponto, mas dentro de sua zona de conforto e rimou sobre o que sabia da vida. Sem firula, mas com muita sapiência.
2 Chainz é outro selo #sempalavras de qualidade. Pau no cu do Astroworld, isso aqui que é traps de qualidade que você ouve até o cu fazer bico e sem enjoar. TOP.
[2018] Kanye West – ye
Demorei 3 dias pra digerir o ye. Passei 3 dias tratando o trampo com descaso. Erro meu. Desde então, ouço no mínimo uma vez por dia. Foi um tempão pra acostumar com o TLOP como ‘novo álbum do Kanye’, mas com o ye foi quase que instantâneo. Ele já nasceu Kanye pra caramba. 2018 pra caramba. Som de futuro pra caramba. Só sei explicar o que esse álbum me causa de uma maneira: ele me instiga a fazer dancinhas estranhas.
Azizi Gibson – Xenophile. #Sonoridade #TOP #Dimais———-
É isto, galera, chegamos ao fim de mais um “Birth to Infinity”! Agradecemos o Liam, e ficamos no aguardo do próximo!